domingo, 6 de dezembro de 2009

Abrazos gratis!




Qual a certeza ao se preparar pra ver una película de Pedro Almodóvar além de que contaremos com a lindíssima/perfeita Penélope Cruz, a trilha à moda antiga do Alberto Iglesias, o preciosismo TOC da fotografia e da direção de arte e algum personagem tão estranho que é impossível delimitá-lo em alguma classificação sexual do mundo contemporâneo? Bom, a certeza que existe é de se assistir um filme com história muito boa. E foi o caso nesse "Los Abrazos Rotos" (amo esse título original, por isso usar-o-ei no resto do artigo).

Vamos primeiramente aos problemas. Há momentos meio soltos que me pareceram sem pulso o suficiente por parte do roteiro e da direção do Almodóvar. Ao fim do filme se somam alguns minutos dessa sensação.
Ou talvez esse efeito foi consequência do casal atrás de mim que não entendeu que em cinema no máximo se fazem pequenos comentários sobre o que rola na tela, não um diálogo com réplica e tréplica. Esses seres humanos só não me irritam mais que playboys, nazistas ou políticos (vê-se logo que Adolph Hitler não é uma figura pela qual tenho apreço, ele quase era essas três classes em um mesmo ser humano, que horror).

Essa falta de pulso atrapalha a imersão na história principalmente na sua introdução. Desde a apresentação em off do protagonista e uma cena foda(digamos, literalmente) seguindo-a até o primeiro ponto de virada no filme, não se passa na pantalla grande nada de muito interessante. Um pouco enrolado e sem propósito. Esse é um dos casos que eu sinto vergonha e medo alheio por todo a equipe de um filme, pois sou dos que acreditam que são nos 10 minutos iniciais de um filme que se faz o público gostar das 2hrs seguintes. Aguentando no tranco esses trancadinhos, o resto desce leve feito água ou vodka. Como água é insossa, prefiro aplicar a metáfora da vodka, porque também dá a entender que o filme dá algum efeito enibriante depois que tudo desce ao estômago. E é exatamente isso que Abrazos Rotos causa.

Além das belezas naturais e artificiais da Penélope Cruz e da direção de arte com seus objetos e cenários azul/vermelho, o roteiro tem sua beleza e criatividade igualmente. O personagem "duplo" do Lluís Homar é mostrado ao longo do filme de maneira não escancarada, o que foi muito bem bolado. E quando as coisas realmente começam a rolar na pantalla grande elas são muito fodas. As tramas do passado e presente começam a fechar e os acontecimentos são uns melhores que os outros. Momentos bacanas, momentos pesadamente dramáticos, momentos cômicos. Tá tudo ali, com complexidade e desenvolvimento muito bons, tudo embalado num clima levemente cinema noir/adultério e detetives que deixa tudo interessante. Outra leve crítica é que justamente por se inspirar no noir, há aqueles momentos de narração em off ou contação de causos que poderiam ter sido dramatizados ou invés de descritos verbalmente.
E ainda tem a metalinguagem, como no caso de um filme dentro de filme e um personagem cego soltando um "é preciso terminar o filme mesmo que às escuras". Foda.

Enfim, não cheguei a sentir aquele gozo de "puta, que obra-prima!!!". O que não quer dizer nada, porque isso naturalmente está limitado à poucos, até porque se não fosse assim, qual a graça? E além disso, já soltei essa frase em outra película do Sr. Almodóvar. E olha que "Habla con Ella" nem tem minha paixonite, Penélope.
Esse filme tem tudo que vale a pena pra um filme ter. Boa história. E isso me faz largar um "puta filme legal!!!"

domingo, 29 de novembro de 2009

500 Dias de insolação




(500) Days of Summer/500 Dias Com Ela é dito como a aposta indie de 2009. ´Saído do Festival de Sundance, o filme mostra seus méritos próprios e não se deixa carregar excessivamente nesse sub-sub-gênero que se compôs.

O diretor Marc Webb faz um trabalho excelente. Outro diretor de clipes que vem para o meio cinematográfico, aos moldes do que já aconteceu com David Fincher, Michel Gondry e Spike Jonze. Dirigiu vários para as bandas com tendência emo(ou não) como My Chemical Romance(Ghost of You é um clipe muito foda, All American Rejects, AFI, até Green Day, Santana, Pussycat Dolls, Weezer, Fergie, Evanescence... A lista é grande e com gêneros variados. Se alguém por acaso não gosta de algum dos listados acima, não se preocupe, o filme não tem muita a ver com eles em geral.
As amarras feitas são simplesmente geniais, com telas divididas, contador de dias, esquetes e metalinguagem.

Scott Neustadter e Michael H. Weber entregam um roteiro não linear que realmente tem um DNA de "Juno" e do brasileiro "Apenas o Fim". Referências à cultura pop, coisas hype e antigas, diálogos muito bacanas, referências metalinguísticas à estéticas cinematográficas. Cenas com câmera dividida, com a expectativa do personagem e o real acontecido. Cada nova cena mostra um contador para situar em qual dos 500 dias a história se encontra. E mais que discutir a relação amorosa, há profundas reflexões quanto à costumes do mundo contemporâneo (cena do surto na empresa de cartões de recado me fez chorar de tão boa).

As atuações muitos boas de portagonistas e coadjuvantes. Desde o amigo toscão Mckenzie (Geoffrey Arend), a pirralha-irmã-conselheira Rachel (Chloë Moretz). Joseph Gordon-Levitt como o protagonista Tom Hansen mata à pau. E o que dizer da lindinha da Zooey Deschanel?

Quanto a trilha sonora, que maravilha! The Smiths, Regina Spektor, Simon & Garfunkel, Wolfmother... E mais uma penca de indies não chatos que fazem uma pulsação sonora muito boa.

Me identifiquei muito. Ultimamente isso vem acontecendo comigo em muitos filmes. Depois de Into the Wild, Half Nelson, Amantes, (500) Days of Summer me veio como uma supresa inesperada para a minha galeria de "sou eu naquele filme!"

Anguns falam que é o filme indie do ano. O "Encontros e Desencontros"(chatinho...), o "Juno" (massa!) de 2009. Os mais ufanistas falam em "o Noivo Neurótica, Noiva Nervosa" dessa geração. Não sei até que ponto ser o filme indie do ano é necessariamente um elogio, mas a questão é que comparativos com Juno fazem certo sentido, ou até mesmo o brazuca Apenas o Fim. Todos tem elementos interessantes, produção pequena, cultura jovem alternativinha, discussão de relação, referências pop.
Estou mais para concordar que ele tem menos clichês de final como Juno, e as tais citações à cultura pop são mais disfarçadas que Juno, e infinitamente mais disfarçadas que Apenas o Fim.
Realmente é o "Annie Hall, 21th century". Sem o narigudo Woody Allen, oba =] (brincadeira).
Acho que é um dos filmes do ano, indie ou não!

Fita de terror

Real, pé no chão. Pra alguns quase sem graça para outros o máximo do assustador por causa do realismo. Esse foi o humor que pôde se sentir na sala de cinema ao assistir "Atividade Paranormal". Filmado todo no estilo câmera na mão, coisa que causou furor à época de "Bruxa de Blair" e recentemente virou moda depois do "Cloverfield", seguido pelo espanhol "REC" e rendendo até mesmo o velho mestre do zumbis, George Romero, no seu último "Diário dos Mortos". Então, o que há de novo para o público comentar tanto? Talvez nem tanto, mas o filme já é um dos mais rentáveis da história, tendo curto pífio de U$ 15000 e faturando até o momento mais de U$ 100 milhões. O que precisa se ter em mente é que a caminhada não foi fácil, o filme é de 2007! Só agora conseguiu o estímulo financeiro, etc para ser mostrado em vários cinemas do mundo.

NÃO TERMINEI DE ESCREVER!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Amantes, Two Lovers, James Gray, Joaquim Phoenix, e um tanto de mim...




Não to com cabeça pra escrever algo mais em detalhe do filme "Amantes".

Só digo que ele é muito bem feito. Real. Minha cara. James Gray, Richard Menello e Joaquim Phoenix deuram vida ao personagem Leonard Kraditor de forma que fizeram o personagem com o qual mais me identifiquei no cinema. Mais que Christopher MacCandless ou Half Nelson. Talvez ele não seja tão incomum, mas o minha impressão foi essa. Me vi em 90% do tempo na tela.

domingo, 8 de novembro de 2009

Ambulance Driver




As semelhanças são várias. Não é à toa que estamos falando de Paul Shrader e Martin Scorsese juntos. O roteirista e o diretor de "Taxi Driver" fazem aqui uma jornada parecida com a de Travis Bickle, só desta vez à bordo de uma ambulância com o paramédico Frank Pierce nesse "Bringing Out the Dead"(traduzido genéricamente como "Vivendo no Limite". Nicolas Cage tá naquela sua versão "sou um acabadaço que faz narração em off cansada e foda", excelente. Entre seus "parceiros de crime" temos o Larry(John Goodman, gordinho impagável do "Jurassic Park" e "O Grande Lebowiski") Marcus (Ving Rhames, o Marcellus Wallace do Pulp Fiction) e o maluco beleza neurótico Tom Wolls (Tom Sizemore) e aquela aparente fragilidade da Patricia Arquette como a ex-viciada Mary Burke.

A fotografia do Robert Richardson, ora branca-hiper-realçada ora azulona, já de início dá um ar de que as coisas não são tão comuns nesse filme quanto aparentam. Ou de que pelo menos elas podem piorar. Esse parceiro antigo dos filmes do Oliver Stone(me permitam largar um "blargh!" nesse momento), do Scorcese e do Quentin Tarantino manda muito bem.
Tudo indo em direção à estética da direção de arte de Robert Guerra, outro parceiro mais recente do Scorsese e também de filmes como "O Último dos Moicanos", fez uma escolha por criar paletas de cores para as cenas de maneira bem pontuada. Sabe aquela coisa de perceber que existe uma preocupação suficiente pro espectador notar coisas diferentes e bacanas componda a imagem e nem tão espalhafatosa quanto uma Amelie Poulain? É mais ou menos isso o resultado, lembrando dos filmes do Pedro Almodóvar.

O aspecto fascinante pra mim tanto aqui, quanto no Taxi Driver quanto num dos meus favoritos de todos os tempos, Apocalypse Now, é a crescente jornada passo à passo, ambulância à ambulância para a insanidade. Frank Pierce é atormentado por vidas que ele não salvou e pelo stress crescente do trabalho que nunca termina e do qual ele nem sequer consegue ser demitido. Ver a "scum of the city", os viciados, prostitutas, traficantes, pirados, religiosas, moradores de rua virados em animais todos dias e tratá-los e nunca ver a luz no fim do túnel vai criando o ambiente agoniante de Frank e a atmosfera agonizante de uma metrópole caótica. É um espírito que fica pairando no ar que eu adoro. O melhor de tudo é como o filme vai avançando cada vez mais para cenas cada vez mais surreais, mas de alguma maneira um surreal completamente possível.

Ah, curta com som alto, a trilha sonora pesquisada com muito rock e blues com Rolling Stones, Janis Joplin e The Clash fazem alegria da torcida.

sábado, 7 de novembro de 2009

Pobres cidadãos cumpridores da cartilha...




Jogando logo a merda no ventilador, "Código de Conduta" é um filme bem crítico ao sistema judiciário como um todo. A farça semi-teatral das cortes, as falhas de legislação e as injustiças cometidas por essas brechas.
Ainda que de maneira Hollywood-style, os lugares comuns e clichês são suprimidos pelo desenvolvimento espetacular dos eventos do roteiro, com espaço para várias reviravoltas e momentos "que porra é essa?!". Excelente direção do F. Gary Gray, diretor de "Uma Saída de Mestre" (The Italian Job) e "O Negociador". Entretenimento muito bem feito sem achar que a plateia tem mentalidade que não passa dos 10 anos.

A história de vingança como prato-que-se-come-crú evolui a um patamar mais elevado que o típico. Muitas reviravoltas com todos imãs necessários pra fazer a história andar sem solavancos. Os diálogos muito fodas entre o promotor Nick Rice (Jamie Foxx) e o ex-engenheiro Clyde Shelton (Gerard Butler) são, ora bolas, muito fodas. Uma obra quase impecável do não tão impecável Kurt Wimmer. Roteirista de filmes médios e de moral duvidosa como "Reis das Ruas", "O Novato" e inclusive dirigindo o meio-Matrix-meio-1984-meia-boca "Equilibrium" e o fetiche de ação "Ultravioleta". Aqui vê-se uma maturidade não atinginda anteriormente. O resultado é muito bom.

Os dois dão um banho de sal de interpretação. O Foxx eu continuo cometendo o crime de não te-lo assistido como Ray Charles na cinebiografia do músico. E nem preciso, com "Colateral" ele já ganhou meu coração. O Butler com certeza era machão forçado porém massa tanto no "300" como no "RockN'Rolla". Aqui ele acerta o soco no lugar mais do que certo. Um personagem que parece que será o protagonista, vira o antagonista e na verdade está mais para um anti-herói do que um vilão. Isso que faz o público se conectar com o Clyde Shelton. E pensar que durante a produção do filme Butler e Foxx estavam fazendo o papel um do outro até decidirem trocar de lugar e Foxx ser o Nick e o Butler ser o Clyde.

Um pequeno parênteses sobre os atores e atrizes. Achei muito louvável assistir um filme onde a proporção de atores negros para brancos está num saudável 50/50. Isso é raro, ainda mais num filme com tantos personagens como profissionais do Direito e de alta classe social. Ver uma juíza negra num filme não é algo de se esperar dos americanos racistas. Há gente que vale a pena na terra do Tio Sam.

"Código de Conduta" deixa a pessoa com vontade de atirar umas pedras contra o Palácio da Justiça, por mais que essa rebeldia seja em vão se feita individualmente. Serve pra acalmar os nervos. Assim como esse filme. O público personificando-se no Gerald é uma verdadeira terapia. E que além de crítico e instigador de atos "rebeldes", o filme acaba também cumprindo seu papel social de fazer as pessoas realmente atirarem pedras no Palácio. Na ficção fazemos o mesmo de maneira confortável e segura, sem termos que ser responsáveis pelas consequências de um ato real. Interpretações e consequências desse filme podem ser várias e isso que faz da obra algo relevante.

SPOILER - NÃO LEIA SE NÃO QUISER ESTRAGAR SURPRESAS

O final pode ser conservador/hollywoodiano/conformista, porém não deixa de ser uma reviravolta. Mais importante, ele até é um clichê de protaganista ganhando do antagonista, mas o desenvolvimente do personagem do Gerald Butler é tão bem feito durante todo filme que ficamos com a impressão de que quem venceu foi o "bom que é mal" do personagem de Jamie Foxx. Temos que nos conformar em ser cidadãos cumpridores da lei (law abiding citizens), como no título original do filme. Isso é pelo menos o que o estúdio do filme queria, mas minha impressão final foi outra. Quem ganhou foi a injustiça da qual o filme lidou em grande parte, o mal necessário que faz o sistema funcionar. Algo que vale a pena lutar contra.



"I'm gonna pull the whole thing down. I'm gonna bring the whole fuckin' diseased, corrupt temple down on your head. It's gonna be biblical."

domingo, 1 de novembro de 2009

Espaguete com tiros, dinamite e pimenta




De início esse filme tem um pouco de crise de identidade. Chamado por vários títulos entre eles "Se Abaixa, Desgraçado!(Giù la Testa)", "Um Punhado de Dinamite(A Fistful of Dynamite)", Era Uma Vez...A Revolução (C'Era una Volta...la Rivoluzione) ou, na tradução incrível para o Brasil, "Quando Explode a Vingança". Esse foi o filme do Sergio Leone menos conhecido, considerado como a parte do meio da sua segunda trilogia(que convenhamos, é meio forçação de barra) do "Era Uma Vez...". Se o primeiro da trilogia, "Era Uma Vez no Oeste", era sobre o fim do Velho Oeste selvagem e o último, "Era Uma Vez na América", é sobre o crime organizado já no século XX, Era Uma Vez...a Revolução se passa em 1913 no México, durante a tal revolução.

Além de possíveis interpretações políticas, Sergio Leone disse ter feito o filme mais sobre amizade e companheirismo entre pessoas bem diferente entre si do que sobre a Revolução Mexicana em si. E isso não diminui o filme, deixa os acontecimentos a uma distância segura para o espectador ter suas conclusões. E a contextualização é bem boa, sem criar duas frontes homogêneas contrárias e idealizadas.
A falta de idealismo é uma das características desses Spaghetti Westerns, com personagens que não estão lutando por uma causa linda e bela no papel e na ficção. Muitas vezes os personagens inclusive não tem moral nenhuma e estão atrás é de diheiro(como diz o nome da primeira trilogia de Leone).

Nesse filme, Leone é bem irônico quanto à fidelidade à causas políticas. Se de início Juan Miranda pareçe um líder de um pelotão revolucionário e John Mallory um irlandês alienado atrás de prata, os papéis dão um 360º.

SPOILER À FRENTE (NÃO LEIA A DIANTE SE NÃO QUISER ESTRAGAR SURPRESA)

Mallory é um ex-membro do IRA, enquanto Juan não passa de um bandido pé de chinelo que fez de sua família uma quadrilha e aproveita a confusão da revolução para assaltar os ricos estrangeiros e locais. É essa diferença de personalidade que faz a parceria inusitada de ambos ser interessante. A questão da amizade de ambos vai sendo explorada e a troca de experiências entre ambos chega ao ápice na cena em que Mallory está lendo um livro do Mikhail Bukanin em sua barraca e Juan sugere que ambos dêem no pé antes que se enrosquem ainda mais na revolução que não é de nenhum deles. Mallory pergunta se Juan não se sente mal em largar a luta revolucionária. Juan então mostra que sem nem sequer saber ler, tem uma teoria muito melhor que qualquer intelectual revolucionário:
"As pessoas que leem vão até o povo pobre que não sabe ler e falam "temos que mudar as coisas". Então as pessoas pobres fazem a revolução. E depois as pessoas que leem sentam envolta das mesas polidas e falam, falam, falam e comem, comem, comem. Mas o que aconteceu com as pessoas pobres? Eles morreram. Isso é a revolução. E sabe o que acontece depois? A porra todo acontece de novo!"
Mallory entende o companheiro e em seguida joga fora o livro.

FIM DO SPOILER

O filme tem um contexto histórico interessante, discussão política, ação, drama e aquele toque de comédia macarrônica meio trashs típica dos italianos. Tudo em doses muito bacanas num roteiro muito bem bolado e personagens estilosos. Vale a pena conferir esse filme mais obscuro do Sergio Leone.

A bullit in the stomach




Primeiro filme a ter um personagem falando "bullshit!"
É, Bullit tem muitos momentos de soco no estômago ou pelo menos frio na barriga. O realismo da famosa perseguição de carro é tudo que falam mesmo. Steve McQueen quase nem usou dublê. E as cenas são fodas mesmo. Como era bom quando não existia CGI pra fazer cenas de ação.

Pulando a parte da ação, Bullit é um baita filme policial. Trama intrincada e inteligente. Steve McQueen está muito bem sendo um policial frio e duro feito bife de 5ª categoria, mas verdadeiro destaque de atuação tem que ser para o Robert Vaughn. O político oportunista que ele faz é perfeito. Consegue deixar o espectador irritado com ele na sua 2ª cena.

Destaque final para a música do Lalo Schifrin. Esse argentino já tocou piano com o Piazzola e fez nada mais nada menos que um dos temas mais famosos da história, o do Missão Impossível. No Bullit ele conseguiu fazer o que Ennio Morricone tentou e não conseguiu n'Os Intocáveis: música composta como se fosse uma banda de jazz tocando. Percussão de bateria estilo drum n' brass, saxofone, flauta, baixo acústico. Tudo funciona muito perfeitamente e dando um estilo bem único, ainda mais para a época. Do caralho! E o melhor é que o Lalo soube não exagerar na própria ideia. Quando o diretor Peter Yates pediu para ele musicar a perseguição de carro, Lalo disse que não precisava. O resultado são 9 minutos de uma perseguição "silenciosa", somente com os efeitos sonoros crus e sem firulas musicais. O efeito é impressionante, impactando muito mais os espectadores.


Walter Chalmers: "Qual é. Não seja ingênuo, tenente. Nó dois sabemos como carreiras são feitas. Integridade é algo que se vende ao público...

Bullit: "Venda o que quiser, mas não aqui essa noite."

Chalmers: "Frank, nós todos temos que nos comprometer."

Bullitt: "Bullshit!"

sábado, 31 de outubro de 2009

Alçando vôo






Épico. Filme de ação. Artes Marciais. O que tudo isso têm em comum? Não se encaixam de jeito nenhum nos estilos de cinema feitos no Brasil. Isso, é claro, até o aparecimento de "Besouro".

Besouro é um filme que se passa nos anos 20 no Recôncavo Bahiano. O cadomblé era oprimido e a capoeira proibida. Mesmo depois de 40 anos sem escravidão, os negros continuavam a ser igualmente tratados como escravos. Esse é o contexto do filme. Ufa, ainda bem, tem discussão de problemas sociais. É ainda um legítimo filme brasileiro. O resto dos ingredientes pra esse acarajé fílmico é que deixam o prato interessante.

Alguém já imaginou ter um filme de capoeira coreografado por um mestre chinês de artes marciais? Então, tá aqui o que você queria! O nome desse onorável oriental é Huan-Chiu Ku. Nada mais nada menos que dublê de Jet Li e coreógrafo de lutas de filmes como Kill Bill e O Tigre e o Dragão. No mínimo foda. E é mesmo. Ver um filme nacional com esse estilo e toda essa perfeição na categoria é maravilhoso.

Passado essa colaboração inusitada, vamos aos outros aspectos do filme. Direção de João Daniel Tikhomiroff. Who the fuck is João Daniel Tikhomiroff?! Esse cara não é um novato. Ele dirigiu filme antes. Em 72! E era isso. Como ele veio à tona depois de tanto tempo, não faço a mínima ideia. O que se sabe é que ele não ganhou 48 Leões em Cannes por premiações publicitárias.
Caralho, o cara é demais. Planos e cenas absolutamente lindos e muito perfeitos. E ter uma mentalidade voltada para rodar um filme de ação num país considerado sem verba pra esse tipo de "luxo" é uma vitória ainda maior.

A reconstituição de época é muito convincente. Direção de arte do Cláudio Amaral Peixoto. Esse é mais conhecido que o diretor. Esteve em produções como "Última Parada - 174", "Meu Nome Não É Johnny", "Guerra de Canudos" e "Cazuza - O Tempo Não Para."
A fotografia é tão linda e perfeita como a direção. Obra do também internacional Enrique Chediak. Equatoriano em processo de radicamento para o Brasil, Enrique faz um baita esforço pra ter uma fotografia estilosa e nem perceptivelmente exagerada.

Na trilha sonora consta Gilberto Gil e Nação Zumbi. E toda música instrumental é muito boa.

Ah, a preparação de elenco é da Fátima Toledo, famosa por Pixote - A Lei do Mais Fraco, Cidade Baixa, Central do Brasil, Cidade de Deus e Tropa de Elite. Aliás, quase ninguém tinha noção do que era uma preparação de elenco até o surgimento da Fátima no cinema brasileiro.

O roteiro segue uma linha com alguns clichês, mas recobre o filme com momentos suficientemente bons e significativos para fazer a história valer a pena. O filme trata da cultura negra, da exploração do homem pelo homem, da perseguição religiosa e de costumes. Muito mais do que filme "social" ou filme onde o embate é só na base da porrada, há momentos esperituais bastante inesperados. A pessoa sai do cinema com alguma divindade do candomblé na cabeça.

Acho que o filme é muito bom. Artísticamente e monetariamente. Não só isso, também tenho fé de que ele vai ser um momento histórico. Todo dinheiro da Petrobrás, Siderúrgica Nacional e da Odebrecht(o filme é quase um produção lulista) valeram a pena. Uma ruptura de gêneros, de alguns paradigmas e ransos dos rolos já quase envelhecidos do chamado "cinema nacional".



"Um besouro é pesado. Não foi feito pra voar. E ainda assim voa."

domingo, 25 de outubro de 2009

Monstruosidades coreanas



Mistureba boa de filme de monstro, denúncia política, drama, suspense e até um tanto de comédia. É assim "O Hospedeiro", de Bong Joon-ho. Nesse aqui, as treta são coreana.

Um mostro criado à partir de lixo tóxico ataca uma cidade coreana. Uma família é dividida e posto em quarentena. Hmmm, parece que já vimos esse filme, né? Só com um lagarto gigante destruindo Tóquio, não?
Uma grande diferença desse filme para um Godzilla que é todo tosqueira japa ou blockbusterianismo da sua versão hollywood é que a atmosfera do filme nunca cruza a linha de virar um filme catástrofe aventura. O foco é na vida de algumas pessoas que não tem suporte do governo para ir atrás de um possível sobrevivente. O exército está nas ruas caçando a criatura, mas também atrapalhando a busca. ninguém do serviõ médico acredita que esse sobrevivente realmente ligou para o celular de uma das pessoas na quarentena. Ao invés disso, o homem que recebeu a chamada é tratado como temporariamente insano. Há uma crítica forte à influência americana na Coréia. Seja no laboratório causador, seja na política de intervenção para controlar a quarentena.
Nesse filme tem drama de verdade meu amigo, não é um passeio na garupa de um monte de efeitos especiais ou maquetes sendo destruídas. A trama em que os personagens se enredam é complicada e agoniante na medida certa. Atuações muito boas deram expressão pra família protagonista. E os efeitos estão lá sim. Aliás, muito perfeitos.

Enfim, essa mistura toda é que faz o filme ser bem feito e ter originalidade mesmo com uma premissa conhecida. Tem todos quesitos técnicos e artísticos bem afiados e não à toa foi sucesso recorde de bilheteria na Coréia do Sul. O cinema coreano é digno de se dar atenção, até porque deve haver um motivo para ser um dos poucos países que consomem mais filme locais que estrangeiros. Num país que não tem mais território que o Paraná. Foda...

sábado, 24 de outubro de 2009

O fim, o início e o meio




"Apenas o Fim" tem por si só uma história de produção muito boa. Feitos por estudantes de cinema da PUC-Rio, parte do orçamento veio de uma rifa que o diretor, de 22 anos, fez com um whiskey do pai. Depois, foi arrecadando prêmios e mais prêmios até ser patrocinado

No mínimo o filme é o retrato dessa geração Z moderninha, indie, descolada e muito "aculturada". Poderia ter sido feito pela MTV. Ou pela produtora do Beco aqui de Porto Alegre.

Os personagens praticamente se resumem a um casal. E o filme se resume à discussão de relação com diálogos muito bons. E os diálogos muito bons se resumem em grande parte à citações à cultura pop, como se adora falar.
Isso às vezes parece até exagero e uma simples colagem de citações, mas o filme tem suficiente estrutura. As situações são levemente forçadas e fora da realidade, mas o filme é extremamente cativante e fala direto para o coraçãozinho dessa juventude de hoje e um tanto de ontem.

Esse Matheus Souza está me parecendo mais um Woody Allen que um Tarantino no quesito diálogo. Citações pop, relacionamento, situações levemente forçadas, simplicidade técnica. Ah, tem até Los Hermanos na trilha.

" - Como cê consegue gostar mais de Transformers do que todos filmes do Godard?
- O que pode ser melhor que carros que viram robôs de 15 metros de altura?"

À favor da desinformação




Aguentando o início um pouco parado, ainda confuso para o espectador e sem muita graça, O Desinformante é um filme muito bacana.
É um dos poucos filmes que se baseam em fatos reais, num evento de seriedade e conseguem não ser pregadores ou sérios ou politicamente corretos. O filme vão encorpando com o tempo e levemente se trajando de um filme de espião das antigas.

Fotografia em tons marrons e amarelos, quase parecendo que tem fotogramas envelhecidos. Sempre lembrando que o próprio diretor Steven Soderbergh faz a direção de fotografia, sob o pseudônimo de Peter Andrews.
Trilha sonora muito boa do Marvin Hamlisch(compositor do 007 - O Espião que me Amava) que incorpora ora vinhetas desconcertantes, ora música de ambiente típicas de vídeos publicitários de "This is the american dream coming true. A peaceful neighborhood, similing kids and a beautiful wife." As vinhetas muitas vezes vem acompanhadas de letras coloridas espalhafatosas para indicar em que lugar a cena se desenrola. Digno de James Bond, só ainda mais tosco.

A trama real, tirada do livro do jornalista Kurt Eichenwald, se inicia com um bioquímico, Mark Whitacre, que é parte da ADM, uma empresa de industrialização do milho. Isso, milho! Hiper interessante... Acontece que o negócio é bem mais profundo e vai degringolando de tal maneira que quanto mais perto do fim, mais enrolado o personagem fica na sua própria teia de aranha. Mark decide colaborar com o FBI à partir de uma tentativa de extorção que a ADM recebe. O que vem a seguir é que ele gradativamente vai revelando os podres do lado da ADM também. Ah, e os podres dele também. Essa última parte, quase se esquecendo.

Como um desinformante profissional, o Mark Whitaker feito pelo Matt Damon parece um James Bond desengonçado e sem charme. Quase mais atrapalha do que ajuda. Quanto mais ele se envolve em gravar fitas comprometedoras dos colegas, mais ele fica num estado de crise de indentidade, já que vive duas vidas paralelas. O melhor de tudo isso é ver o comportamento bizarro de Mark traduzido numa narração que faz constatações aparentemente sem motivo nenhum. Quando os nós vão se desatando, elas fazem mais sentido, enquanto Whitacre faz ações cada vez mais contraditórias.

É um filme de denúncia, sem dúvida. Sem se esquecer que se trata de seres humanos, personagens de verdade. O filme poderia ser uma mini-epopéia agoniante, com toda sua complexidade e assunto sério e indignante. Ainda bem, podemos ver que um encontro de homens de terno é uma cena do crime e podemos rir de tudo isso.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Revisando os bastardos

Só pra mim me retratar, Bastardos Inglórios não tem os defeitos que eu posso ter listado no outro texto. Com meu segundo ingresso em mãos, percebi que o filme é ainda melhor do que eu tinha percebido. Os roteiros são sim bem paralelos e quase discrepantes como eu avaliei, mas desse vez percebi que há um divisão igualitária de capítulos para cada trama. E quanto a música, continuo achando estranho só o uso de músicas que Tarantino já usou antes no Kill Bill, porém só uma delas é perceptível de verdade(L'Arena), a outra (White Lightning)só pra quem ouviu ela inteira na trilha sonora. De resto, achei que a quantidade de músicas dentro e fora de contexoto histórico foi equilibrida e bem utilizada. Cat People(Putting Out Fire) do David Bowie tem um letra que faz sentido o seu uso com destaque. Aliás, do que eu reclamei? É o filme do Tarantino com mais Ennio Morricone na trilha! Perfecto!

To quase garantindo meu 3º ingresso. Prevejo que Inglourious Bastards está para 2009 o que Cavaleiro das Trevas esteve para 2008. O filme do ano, pelo público, crítica e pelo bom gosto.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Os verdadeiros Bastardos Inglórios




Claramente um spaghetti. O nome dos envolvidos não nega. Enzo Castellari é um diretor que fica entre o cult, o trash e o bom. Ou o bom, o mau e o feio. Trilha sonora exagerada, atuações e efeitos especiais meio canastrões.Aquele zoom cretino da câmera. E o melhor, a falta de personagens com algum valor moral.
Algo que os filmes italianos dos anos 60 e 70 que queriam ser de Hollywood conseguem em alguns aspectos serem muito melhores que a sua aspiração. Na mesma linha dos faroestes de Sergio Leone, os personagens mais parecem caçadores de recompensa do velho oeste metidos em meio a Segunda Guerra Mundial. Lembrem-se que nos filmes com o Clint Eastwood não há Unionistas bonzinhos contra Confederados maus, não há brancos civilizadores contra índios escalpeadores, não há mocinhos contra bandidos.

Nesse "Inglourious Bastards" de 1977, inspiração pro último filme do Tarantino, não há protagonistas americanos e aliados bonzinhos contra nazistas maus. São um bando de losers, condenados à fuzilamento por traição. Ao mesmo tempo esses portagonistas são muito espertos e verdadeiros foras da lei, sem conduta marcial, se preocupando mais com a própria pele e usando a guerra como uma profissão da onde tiram alguns punhados de dólares. As maiores diferenças para um faroeste são a troca de ambiente, a troca de revólveres por metralhadoras e o trabalho em equipe ao invés da carreira solo dos homens durões dos desertos.

Melhor que tudo isso é o título original. Quel Maledetto Treno Blindato. Hehehe, lindo :)

domingo, 18 de outubro de 2009

Freneticidade de outro mundo




Distrito 9 tem uma premissa fantástica. Aliens entre nós, perdidos, que são isolados do convívio humano. Um apartheid metafórico. Com todo o sentido, afinal a produção é em parte sul africana. Um personagem que sente na pele o tratamento aos aliens, no que se torna uma humanização dessas criaturas que mais parecem camarões.

Efeitos especiais de cair o queixo. Realmente, não só para os momentos de ação, porque os aliens são personagens e todos feitos em computador de modo impressionante. A direção do estreiante Neill Blomkamp é de tirar o chapéu.

Agora, a parte ruim. O filme acaba dividido entre uma ótima metade ficção científica e outra enjoativa e loucamente frenética metade ação. O desenvolvimento do roteiro deixa muito a desejar. Esperava muito mais interação entre humanos e aliens diferentes, entreando em contato de outras maneiras. O meio pelo qual mais entram em contato acaba sendo num corre-corre com balas zunindo à todo tempo. Estraga-se o início muito bom, feito com uma série de entrevistas estilo documentário. A câmera perceptivelmente na mão de um cameraman acaba virando aquela coisa estilo Cloverfield. Excelente para ação, mas chegando a dar nâusea devido ao exagero do tempo dedicado à ação. Fora os clichês que vão surgindo, até o ponto ridículo de ouvir-mos um "vá sem mim!"

Enfim, premissa melhor que desenvolvimento do roteiro. Inicialmente parece que haverá uma boa discussão sobre as condições que humanos impoem outros humanos, com criatividade sem pieguiçe. Depois, parece que o lado "social" tá ali só pra dizer que está ali. Peter Jacksson nos apresentou um diretor com futuro mais promissor para um Independence Day 2 do que para um Planeta dos Macacos.

sábado, 17 de outubro de 2009

"Pra sobreviver aqui, você precisa sentir que já morreu." Ernesto "Che" Guevara de la Serna




Técnicamente muitíssimo bem feito. Sensação de uma selva não exótica, não bela, não bucólica e sim agoniante. Roteiro mostrando todos momentos históricos relevantes para a trama. Interpretações excelentes, inclusive de coadjuvantes desconhecidos como atores e como personagens históricos(Cristian Mercado por exemplo). A narrativa é menos interessante que a da 1ª parte pois é estritamente linear, sem pulos para frente e para trás no tempo.

Diferentemente de um Oliver Stone da vida, o roteiro de Peter Buchman e Benjamin A. Van der Veen tem base num registro histórico do próprio Guevara, não fazendo de suposições fatos. O radical mais aguerrido talvez ache que há passagens suficientes para exaltar demais aquele ser humano e que há passagens históricas negativas deixadas de lado. Bom, não sou PHD em história guevarista, portanto meu aval está completamente condensado em um dos últimos diálogos do filme.
SPOILER, NÂO LEIA SE NÂO QUISER ESTRAGAR SURPRESAS
Um oficial do exército boliviano é perguntado pelo Che, já capturado, se ele é um cubano. O oficial responde afirmativamente. Che retruca: - Não falo com traidores.
Então o oficial encerra respondendo: - Você mandou fuzilar meu tio. – pausa – Deve ser difícel comandante, estar aí enfurnado na selva, enquanto Fidel está à essa hora almoçando no hotel El Nacional.

FIM DE SPOILER

Isso encerra tudo. Tudo pelo qual Ernesto Guevara de la Serna lutou esteve morto ainda antes do próprio Che ser assassinado. Não acho que ele fez o fim que justificou os meios, nem foi meramente enganado por um espertalhão cubano, barbudo e fumador de charutos. Che sabia o que fazia. Sabia que era radical. O problema é que acreditava que se podia consolidar uma sociedade pacífica mesmo que ela inicie-se por uma luta armada. Essa é a lenda que muita gente achava verdadeira ao longo do século XX. Seus fins tampouco justificaram os meios. Tudo praticamente inútil. Fidel foi manipulador e um “vendido”, mas ainda assim, foi amigo de Guevara, o que leva a crer que Che tem alguma culpa de se aliar à ele.

Ernesto “Che” Guevara foi cruel. Foi honesto. Foi amoroso. Foi idealizador. Realizador de um caos. Enfim, muitas contradições, típicas de quem vive nos extremos. Acho que nada pelo que ele lutou valia realmente a pena, porque não funcionaria e não funcionou. Entretanto posso dizer que ele tinha um código de ética pelo menos para com seus companheiros. Mandou fuzilar crianças contra-revolucionários, mas elas eram “inimigas”. Exagerado. E era o último a comer entre seus guerrilheiros. Não aguentou trabalhar em um escritório do Partido em Cuba, preferia cortar cana no sol. Não aguentou ficar estagnado em Cuba, com um dirigente que se aliou aos soviéticos ao invés de seguir o caminho da independência. Não quis morrer de velho, quis morrer tentando, mesmo que tentando o errado e o improvável. Teve a morte que mereceu. Teve a morte que desejava. Não resta mais nada à debater, isso é tudo que ele foi e o que restou dele para nosso imaginário.

"Fuzilamentos, sí. Tenemos fuzilados. Fuzilamos y seguiremos fuzilando siempre que necessario."

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Glorioso e mais glamouroso




Filme do Tarantino. ok. Dessa vez, usando um ator em alta no momento(Brad Pitt). Hmmm, ok, isso ele não tinha feito antes(John Travolta, Samuel L. Jacksson, Uma Thurman, David Carridene e outros foram atores descobertos ou completamente apagados quando Tarantino chamou-os ao barco), mas não é demérito nenhum. Inclusive, é ótimo para bilheteria e o bonitinho de Hollywood tem ótimas pra atuações. Talvez a decisão tenha sido um pouco em função do certo fracasso do projeto Grindhouse. Originalmente lançado como dois filme em um, o último filme do Tarantino que constava nesse projeto,À Prova de Morte, junto com seu hermano pobre Robert Rodriguez, com seus Planeta Terror(terrível, aliás), afundou como promessa. Primeiramente, com dois filmes em um, mesmo editados, ele tinha 3hrs de duração. Demais pra quem quer ver filmes divertidos. Diria também que a discrepância entre um segmento e outro possa ter ajudado como falha. Assistir um ótimo filme do Tarantino e ter que aguentar em seguida um trashume tedioso no resto da sessão de cinema não vale um ingresso inteiro. No Brasil, mal se cogitou lançar os dois filmes juntos nesse formato Grindhouse. E pra piorar, escolhem o Planeta Terror pra fazer carreira solo no Brasil primeiro. E pra piorar ainda mais, À Prova de Morte não está disponível aqui nem sequer nas locadores. What the fuck?! Não sei quem foi o brilhante distribuidor, mas não consigo pensar em uma cagada mais fenomenal nessa área nesses últimos anos.

Seguindo, agora é um filme de época. Hmmm, muito interessante. Como manter certos aspectos modernosos-estilosos-tarantinescos nesse contexto? Há alguns erros, mas há também uma mudança de foco estilístico que eu não esperava. Mudança verdadeira e excelente.

Que foco é esse? Bom pra não assustar nenhum fã, o roteiro mantém pilares do Quentin suficientes pra reconhecermos a sua obra. Diálagos, personagens, elementos trash, trilha sonora pesquisada, roteiro em capítulos... Inicialmente o roteiros tem duas histórias muito paralelas entre si, com discrepância de estilos inclusive, de maneira como não existia antes. Isso soa um pouco defeituoso, parecendo que Quentin Tarantino pensou em duas histórias diferentes, com estilos diferentes, e decidiu fusiona-las. No andar da carruagem, as coisas começam a se acertar melhor e fazem o sentido final que deveriam ter. Há uma discrepância, mas isso também confere variedade e um dos aspectos mais elogiáveis do filme, que foi o esforço para se fazer uma das histórias com menos elementos tarantinescos e com um enfoque diferente e surpreendentemente bem feito.

Trilha sonora cool com rock não funciona como funcionaria em filmes que se passam no tempo atual. Ok, Tarantino não dá a mínima pra contextualização histórica precisa. Esse nem é o problema. Só soa estranho. E ainda por cima tem músicas reaproveitadas de outros filmes do Taranta.
Trilha sonora pesquisada de filmes da época ou chansons tipo Edith Piaf, além dos Ennio Morricone de sempre, teriam funcionado melhor. Ainda bem, essas músicas existem no filme, mas poderiam ser majoritárias.

Já as citações à cultura pop foram bem adaptadas ao contexto do filme, diferente da trilha sonora pesquisada. Se não podemos falar de eventos culturais do meio século depois de 1944, fiquemos com os elementos culturais da época. E melhor ainda, as citaçoes foram em grande parte muito bem substituídas pela mais pura metalinguagem. Mesmo quando se falam em filmes antigões que nem o público cinéfilo tem conhecimento, há uma contextualizada e ninguém fica boiando. Metalinguagem aliás que se estende para além dos diálogos. Em grande parte do roteiro se fala e se mostra muito sobre cinema, num local da trama que é propício à essas discussões. Mais um passo em que Tarantino foi além do seu usual e teve resultado positivo.

Já que passamos da parte crítica negativa, vamos somente aos elogios. Puxa, o que dizer. Tarantino é Tarantino. Pode chupar ideias de Deus e do Diabo, mas ele sabe escrever diálogos como ninguém, criar personagens kitsch como ninguém, dirigir atores e cenas de ação trash como ninguém. Agora a melhor parte. Ele evoluiu. Não no sentido, cada vez mais trash-cult e sanguinolento, como alguns podem considerar evolução. Seria mais uma maturidade dramática. Com todos seus baldes de sangue, Kill Bill conseguia emocionar com os embates não só físicos, mas boa parte mentais entre Bill e A Noiva. Aqui justamente aquele aspecto de linhas paralelas no roteiro se torna uma ferramenta útil. Se Tarantino e nós precisamos de tripas e comédia, concentre isso nos Inglorious Basterds propriamente ditos. Se você quer se emocionar não só com ação e tensão, mas personagens com relações emocionais profundas muito bem interpretados, concentre isso nas partes da Soshanna. É impressionante ver como o pouco afeito à dramas Tarantino mostra que sabe sim fazer dramas. Sem esquecer a trilha sonora pesquisada e um pouco de trash, é claro. A evolução é nesse sentido, mostrar que não se pode usar a mesmíssima fórmula pra sempre. Tarantino teve a iluminação de perceber isso à tempo. Mirando futuramente em ganhar um Oscar, quem sabe? Isso verdadeiramente não interessa muito. O que interessa é ver esse autor trabalhando muito bem e mudando sem jogar fora sua origem. Vale um segundo ingresso.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Curtam os curtas

Finalmente, o parto acabou! Os curtas metragens dos quais pude participar da produção na Oficina de Áudio Cinema e Tv do Colégio Sinodal, carinhosamente chamado só de "Cine", estão disponíveis para quem quiser ver.

Rapidamente aí são os apresentáveis até o momento:

"Dois Gumes", da época que eu não era da oficina ainda e quando meu professor foi um ator. Suspense suficientemente sobrenatural pra deixar o pastor do colégio preocupado: http://tinyurl.com/ygq2d59

"Cavalaria", um realismo fantástico calcado em textos do Neil Gaiman, autor dos graphic novels como Sandman, Stardust e Coraline. Fui roteirista e assistente de produção: http://tinyurl.com/yghcoke

"De Cartas e Cafés", no gênero romance, com trilha muito bem utilizada cedida pela banda Videohits. Lindinho: http://tinyurl.com/yzhxabf

Vejam tudo no canal da oficina no Youtube: http://tinyurl.com/yj8zbhu


Novamente, agredeço muito a todos envolvidos e por ter tido a sorte de encontrar gente tão maravilhosa na minha vida que puderam fazer essas belezuras virarem realidade. Valeu mesmo pessoal!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Salvou quem?




Estética pós-apocalíptica, um pouco de steampunk(tecnológico e retrô ao mesmo tempo) e goticismo dignos de uma produção do Tim Burton. Toques à Segunda Guerra, governos totalitários tanto nazistas quanto comunistas. Isso é um pouco da viajem estética para quem assistir "9". Com o subtítulo no Brasil de "A Salvação", posso dizer que a direção de arte e os criadores do visual 3D são o que fazem a salvação desse filme. De início parece que vai ser um Wall-E mais sujo, adulto e sombrio. Depois se conclui que realmente Wall-E continua sem comparativos.
O que ocorre é que o grande trunfo artístico das imagens e design de cenários e personagens gera uma espécie de narcisismo, já que o desenvolvimento do roteiro deixa a desejar. Personagens simplistas e cartunescos, situações forçadas e muito "prontas" e enfrentamentos sem grande criatividade, a não ser na aparência das máquinas maléficas.

Algumas referências bacanas ficam por conta da arquitetura gótica da igreja e da mansão. As trincheiras com arames farpados abandonados lembram muito a Europa arrasada pós-Segunda Guerra. Há a Máquina, uma mistura de HAL do "2001 - Uma Odisséia no Espaço" com a aranha mecânica do filme "As Loucas Aventuras de James West". Também há uma cena que uma vitrola toca "Somewhere Over the Rainbow", para os maiores fãs de "Mágico de Oz" e outra cena que mimetiza o mito grego do balseiro do Rio do Tártaro. Um paradoxo interessante é que os robôs protagonistas são a única coisa que restou da humanidade. Para sinalizar isso melhor, eles são mais orgânicos, aprecendo mais bonecos de pano voodo do que feitos de engrenagens. No final, uma simulação de como seria o (re)começo da vida na Terra, até interessante. Enfim, pelo menos pude me distrair com esses elementos além dos belos visuais.

O filme sofre principalmente no quesito de qual público alvo enfocar. Um desenho animado para crianças? Não, muito sombrio, muitas cenas de tensão. Animação adulta então? Também não parece, com aqueles personagens tão clichês e bobos como um velho carrancudo e conservador, o mocinho que quer fazer do impossível o possível, um troglodita burrão...
Na teoria, uma ambiguidade dessas eu nunca consideraria um aspecto negativo. Soaria mais como um aspecto diferente e inovador. Na prática foi outra história. Fica aquele gosto de chocolate amargo na boca.

domingo, 4 de outubro de 2009

Ao sabor das ondas




"À Deriva" é o filme brasileiro mais argentino que já vi. Tudo feito nos trinks, foco no realismo e no mais casual. O filme mais pessoal do Heitor Dhália.
Atuações de tirar o chapéu da Débora Bloch(para de fazer novelas, mulher!), do Vicent Cassel falando em português e da estreiante perfeita Laura Neiva.

Ele fala muito pros corações da geração mais antiga e até mais atual de pais que se separaram. Da também muita nostalgia da pré-adolescência. Se querem um choque de realidade, confiram.