domingo, 10 de janeiro de 2010

Elementar, meu caro espectador




Exageros dignos de Indiana Jones. Aquelas cenas de ação que quando parecem complicadas(e esdrúxulas) o suficiente, conseguem ficar ainda mais.
Outra comparação que ficou na minha cabeça foi com A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Nele existe uma dicotomia sombrio/infantil (como em vários outros filmes do Tim Burton). No Sherlock a parte do infantil toma ares mais cômicos. Outra comparação é aquela incerteza se as situações são sobrenaturais ou científicamente explicáveis. Claro, n'A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça isso só ocorre no início e frusta o espectador com um sobrenatural óbvio pelo 2º e 3º ato. Sherlock guarda muitas surpresas, puxando para ambos os lados constantemente.

Guy Ritchie, o diretor, é meio que um Tarantino britânico, guardando-se as proporções, óbvio. Aí temos uma maneira super estilosa para a direção e montagem. Algumas vezes exagerada. Não era preciso um corte tão estilo video-clipe nem mil e uma manipulações de imagem, colocando-se movimento e tremilicagem onde não precisa. Apesar dessas ressalvas, não é uma constante. Ritchie conduz com muita dignidade e em alguns momentos com extrema competência. Tudo isso sem perder o sotaque british.

Falando-se em estilosidade, as atuações não deixam nada a dever ao estilo da direção. Todos lindamente gimmicks, forçados e com características especiais sempre presentes. Mark Strong (excelente rosto semi-novo nas telas) vem do filme anterior do Guy Ritchie, "Rockn'Rolla" e segue detonando como o vilão Darkwood. Jude Law faz um papel em que finalmente não tem aquela cara de homem sensível que costuma apresentar. Ficou muito bom de bigode. As briguinhas com o Sherlock são impagáveis. Sherlock Holmes interpretado pelo Robert Downey Jr, que é aquele rosto-antigo-trazido-do-ostracismo-para-os-holofotes, mostra que merece o lugar que retomou em Hollywood. Desde filmes muito bons como "Kiss Kiss, Bang Bang" até medianos como o "Homem de Ferro", ele consegue criar personagens com trejeitos muito próprios e mesmerizantes. Esse seu Holmes é ao mesmo tempo muito fodão pelas habilidades de ultra-percepção em mínimos detalhes de uma cena de crime assim como no resto do tempo parece mais um esquisitão com TOC e quase autista.

Pra completar, tem uma música irlandesa linda e uma trilha à cargo do mééééstre Hans Zimmer. Fiquei boa parte do tempo com a pulga atrás de orelha me perguntando quem fez uma trilha tão envolvente e empolgante, com pontuações muito boas (10 à 0 em suavidade comparando à trilha do Avatar, do James Horner). Eu bem que achei boa demais pra não ser ele ou alguém do mesmo cacife.

Entretenimento do melhor naipe. Divertido, às vezes bobo, às vezes extremamente bem contruído e com reviravoltes complexas e impressionantes. Curta muito, elementarmente, sem moderação.

Pare, olhe, escute, registre...

Estava pensativo essa tarde na casa dos meus avós, enquanto que ambos cochilavam. Meu vô deitado no sofá, roncando. Minha vó dormindo sentada. Sem roncos. Lendo a Superinteressante tive um pensamento sem conexão nenhuma com a matéria sobre o porque do ano-novo. Alguma iluminação divina, um download cerebral que demorou pra concluir? Não faço ideia, tudo que sei é que me surgiu a frase: "Observar o mundo e registrá-lo".

Direcionei minha corrente de pensamentos pra essa frase e concluí que ela é a maneira mais resumida que já consegui para definir o que gosto de fazer nessa vida. Observar. Registrar. Sim, já quis fazer cinema. Faço Publicidade e Propaganda nesse momento. A ideia original não morreu, muito pelo contrário. É praticamente só o que penso em fazer. No máximo adiei. Enfim, já me passou pela cabeça fazer Jornalismo. E História. Antropologia. Sociologia. Filosofia até. Pra essas últimas quatro eu só poderia dar aulas pra viver, que é algo que eu não me acho capacitado. Pra Jornalismo, hmmm, acho que foi desistímulo vindo da experiência da minha prima formada na profissão.

Agora pense bem. Todas são alguma extensão da frase "observar e registrar". Um registro é uma maneira de repassar informação. Transformá-la em algo mais tátil, um fragmento que resuma um ponto de vista sobre um determinado fato. O registro tem o poder de síntese.
No exemplo de uma guerra, ela pode acontecer mas é necessário alguém registrar isso, caso contrário futuramente ela será esquecida. Se é esquecida completamente, é como se nunca tivesse acontecido. A posteiriori, quando noticiada, ela vira algo real. E aí está o poder da síntese. Transformando-se um evento gigantesco em partes menores de informação, seja um livro, um texto, uma foto, é possível registrar o fato histórico para a posteridade. É um resumo, um azulejo em um mosaico maior. A cena de um filme que vale pelo filme inteiro.
Usando novamente o exemplo guerra, imagine a clássica foto de uma bandeira dos Estados Unidos sendo erguida no topo de um monte na ilha de Iwo Jima, durante a ofensiva norte-americana no Pacífico na Segunda Guerra Mundial. Ela foi tirada em um dia relativamente mais calmo do conflito, antes da batalha pela conquista de ilha terminar. Acabou que ela serviu como registro da vitória naquela batalha. Posteriormente, serviu para representar toda a campanha americana no Pacífico. Ela é uma síntese para tudo isso, mesmo quando não represente completamente cada um dos eventos.

Pessoalmente, ainda não sei muito ao certo como realizar esse observar e registrar na minha vida profissional. Afinal, não é mentira que a publicidade tenta contornar a realidade o máximo que ela pode, apagando pontos negativos do produto, etc. Entretanto, o registro histórico não deixa da fazer a mesma coisa. A foto de americanos vitoriosos na SGM enche de orgulho pensando na brvura dos soldados. Só que só a abravura dos americanos. A bravura dos japoneses pode ser esquecida. A covardia dos americanos também. Esse é lado perigoso da síntese. Ela pode simplificar demais. Além do mais, nunca se tem controle sobre a interpretação de quem veria a foto.

Enfim, acho que tudo é uma questão de o que mostrar. Numa era de cada vez mais acesso à informação, uma empresa não vai enganar o mundo por muito tempo. Assim, é possível registrar as características realmente boas de seja lá qual for o anunciante de uma propaganda. É um registro de como é o produto/serviço. Além do mais, vez que outra surgem propagandas que tem um conceito criativo e que influenciam a cultura geral. Ou no mínimo embarcam na cultura geral e mostram alguma característica do momento. Isso também é um registro. E é pra isso que eu quero trabalhar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Rápida resalva: to muito cansado pra escrever minha resenha d'O Solista (excelente!) e de Pagando Bem, que Mal Tem? (olha que composição de cena linda aos 1hr20min30seg do filme)

Admirável Mundo Novo




Confesso que estava indo mais por curioso pela tecnologia e por todo fenômeno cultural envolvendo esse Titanic de 2009. E sabe do que mais? A espera valeu a pena. Tecnologia como nunca se viu antes. O CGI, motion capture e óculos 3D fazem a festa. O mundo de Avatar é um mergulho impressionante.

Aspecto interessante do uso dos tão comentados kilos de efeitos especiais do filme é que eles são aplicados mais no estilo que efeitos especiais digitais e tradicionais foram usados n'O Senhor dos Anéis, por exemplo. Eles não estão em cena somente nos momentos de explosões, naves voando ou câmera lenta bullet time. Eles realmente estão em quase todo filme, ajudando a construir todo um universo fantasioso espetacular e de maneira que ajuda a contar a história. Não é somente preciosismo estético.
A mistura de atores reais com arte digital nunca foi tão bem executada. E não é pura balaca, valeu a pena.
Os alienígenas Na'vi podem ser azuis mas parecem gente de verdade graças a boas atuações do elenco. A veterana Sigourney Weaver, que já foi dirigida por James Cameron no filme Aliens, está muito boa como um cientista carrancuda e fumante. Já os "novatos" pouco conhecidos até hoje Sam Worthington e Zoe Saldana entregam boas interpretações. Sam faz Jake Sully, um personagem à princípio idiota porém vai trabalhando para conquistar o público. Sua narração sombria em off ficou ótima também. Já Zoe entrega uma Na'vi bem convincente com seu sotaque e língua inventada. A língua dos Na'vi aliás não é só uma aglomeração de palavras sem sentido. Ela foi criada especialmente para o filme seguindo padrões linguísticos.

Haviam comentários negativos quanto ao roteiro do filme. James Cameron sacrificou narrativa e originalidade em detrimento dos efeitos especiais. Depois de conferir o filme, digo que isso é tudo exagero da crítica intelectualóide (principalmente aqueles que idolatram "mestres" como Glauber Rocha). Como já falei, ele realmente é um amontoado de outras histórias conhecidas. Os arcos dramáticos são manjados. E não por isso o filme torna-se cansativo ou clichezão. As situações são suficientemente bem apresentadas para se tornarem críveis.
Talvez a composição da trilha sonora feita pelo James Horner poderia ser mais suave, menos estratosféricamente estourada. Momentos muito exagerados com linhas musicais bem manjadas. Preferiria um Howard Shore(oh O Senhor dos Anéis aí de novo). Por outro lado, há uma parte muito boa da trilha quando se dá enfoque à cultura indígena dos nativos.

Pocahontas, Matrix, mito da conquista do Velho Oeste, Vietnam, cultura indígena norte-americana e até o Hinduísmo. Vale tudo para compor o mundo de Avatar. E tudo embrulhado de jeito que essa geração Y da internet e dos videogames quer ver. E nisso ele acertou muito.

Há interessantes pontos de discussão de ideologias nessa obra. Além de fazer justiça para povos invadidos(índios americanos, Afeganistão, Iraque, assentamentos judeus na Faixa de Gaza, etc) há todo tipo de pitaco à política atual. Um personagem bem militar cita a Venezuela como "aquilo foi um inferno". Há o minério que os seres humanos buscam em Pandora, uma alusão ao petróleo do Oriente Médio. E até um discurso bushiano de "combater o terror com terror".
Aqui o homem branco "civilizador" é o vilão. Ganancioso, coloca a riqueza acima de vidas de outros seres, acima da Natureza e da tão falada hoje em dia sustentabilidade. "Viemos de um planeta onde não há mais verde". Os nativos Na'vi são a imagem do mito do bom selvagem em geral. Confesso que pode soar óbvio e moralizador(até moral falsa), mas achei convincente o suficiente. É bastante a cara dessa geração e quem sabe sirva de base ideológica para muitas crianças que forem ver a versão dublada. Alguém aqui se esquece quantos paleontólogos-mirins foram gerados por um certo filme também blockbuster e também cheio de efeitos especiais? Pois é, esse era Jurassic Park, que povoa a cultura popular até hoje de maneiro forte.

Um paradoxo que achei relevante foi que para mostrar um mundo tão repleto de natureza e sendo à favor da atual onda verde da ecologia, foi necessário tanta computação e artificialidade. No mínimo curioso. É o jeito mais moderno de buscar aquele refúgio das grandes cidades de concreto. E colocando um óculos 3D.

Certamente Avatar é o substituto de Rei Leão, Bela & A Fera e tantos outros desenhos marcantes da Dysney, se antenando com essas novas gerações de espectadores. No mínimo acho lindo ver um cinema apinhado de gente empolgada e que não soltou um pio durante o filme, diferente de quase todos outras sessões de cinema que tenho presenciado nesses últimos anos.
Mostra a cara do novo cinema. O cinema do século XXI. O filme da virada da primeira década dos anos 2000. Quiçá, é o filme da década. Vale muito por todo impacto cultural que está causando nesse momento e que será passado para as próximas gerações. Um divisor de águas.

Ooohps, James Cameron did it again!