sábado, 8 de maio de 2010

The Long Winding Road...




Fim de semana passada fui assistir A Estrada, filme que não tá muito bombado na mídia, mas faz um tempo que esperava depois de saber da produção dele descrita em alguma contra-capa do Segunda Caderno da ZH. E valeu a pena.

Na minha lista de filmes, esse fica já como o melhor filme do pós-oscar. Tudo é muito bem feito, numa história nem tão nova, mas profunda e pesada. Pesado é um adjetivo que cabe muito bem a esse filme. Na boa pessoal, não é pra relaxar no fim de semana. Se possível, assistam na última sessão de domingo, só pra aumentar aquele sentimento de "o dia de amanhã é uma merda mesmo". Filme com cenas bem pesadas, seja em violência, tristeza ou miséria.

O cenário é um mundo pós-apocalíptico, em que obviamente tudo está destruído. As regras da sociedade que todo mundo considerava muito imutáveis tem uma reviravolta tremenda. Um Mad Max bem sério. Ou a versão menos hollywoodiana do recente O Livro de Eli.

O roteiro é uma adaptação de um livro do Cormac McCarthy, que também escreveu o livro que deu origem à Onde os Fracos Não Tem Vez. Aliás, acho infinitamente melhor a história apresentada aqui, mas não vou debater se gosto ou não do filme dos irmãos Coen que abocanhou um monte de oscars.

Essa história é simplesmente foda demais. Muitas situações extremas com que os poucos seres humanos precisam lidar pra sobreviver. E quase sempre a lei básica da Natureza de "cuide de seu cú, que os outros não farão isso por você" parece imperar. E aí que vem a pergunta, não são justamente os humanos que são um pouco mais do que esses instintos selvagens? A premissa dramática do filme é essa: até que ponto podemos manter nossa civilização, se ela nem existe mais?

Pesado e profundo em muitos momentos, a atmosfera foi muito bem criada. Cenários cinzas, desolados. Direção, direção de arte, fotografia e música casando muito bem, nenhuma se sobrepondo a outra. Direção de fotografia do Javier Aguirres, que fez também Fale com Ela, Vicky Cristina Barcelona, Os Fantasmas de Goya, Os Outros, Eric Clapton & Friends. Trilha sonora do Warren Ellis, que fez O Libertino, junto com o Nick Cave, músico do Nick Cave & The Bad Seeds, que trabalhou no "Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford" também junto do Warren Ellis. O diretor, John Hill Coat, tem uma amizade das antigas com o Nick Cave, que inclusive escreveu um filme que ele dirigiu, The Proposition.


Entre os rostos conhecidos temos a Charlize Theron como coadjuvante e o Viggo Mortensen (desde 2002, o eterno Aragorn do Senhor dos Anéis), com uma aparência irreconhecível. O guri Kodi Smit-McPhee é que é a surpresa e mata muito a pau. Completamente agoniante ver um personagem que nem sabe como é a nossa realidade pré-apocalíptica e ainda sempre se sentir perdido no mundo que habita. E tem momentos brilhantes como os momentos que ele traz uma humanidade que os adultos parecem já ter perdido.

Bom, o filme é muito foda.


P.S.:

Pra quem assistiu ou for assistir, a minha maior pergunta seria: na mesma situação tu faria o mesmo ou desistiria de viver de uma vez? Pra mim, acho que tu depende de quem tu tem do teu lado (como um filho). Se fosse sozinho, preferiria morrer logo.

http://www.youtube.com/watch?v=lpmvW2ii-PU&hd=1

http://www.imdb.com/title/tt0898367/

http://en.wikipedia.org/wiki/The_Road_(film)

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Pós-Fordismo, A Publicidade, A Tecnologia e a Bonanza





Ando meio desligado e meio revoltado. Não me perguntem como cheguei ao ponto de discutir comigo mesmo os efeitos nocivos do sistema de produção pós-fordista e minha indignação na maneira como as propagandas (das quais provavelmente farei parte da produçã) exaltam aspectos completamente inúteis de produtos que se dizem "novos" sendo que são iguais às suas versões "antigas".

Digam-me, existe uma enorme diferença tecnológica entre o modelo de Fiat Punto 2009 e 2010. Ou entre as roupas que eram moda no outono do ano passado e do outono desse ano? Pra minha concepção, um novo modelo de produto só deveria ser desaguado no mercado se ele representa uma utilidade superior em relação ao seu modelo anterior. Um computador, um celular, um tv, um videogame, isso tudo eu entendo e aceito. Há visivelmente uma diferença tecnológica de bom tamanho entre um modelo e outro. Já num carro, acho irrisório. Precisamos mesmo de um modelo 2011, sendo que 2010 nem terminou? Tem alguma mudança no sistema de segurança? Tem um consumo mais eficiente de combustível? A última propaganda que eu consigo me lembrar que falava-se num carro com avanço tecnológico substancial foi no lançamento dos carros com motor flex. E de lá pra cá, alguma propaganda enumera as diferenças que fazem valer a pena trocar um modelo de carro pelo outro? Um faról com design mais arredondado faz tanta diferença assim?

E no maravilhoso mundo da moda, digam-me porque eu devo me vestir de acordo com o que um estilista Y pensou que é a nova moda? As pessoas não deveriam criar a moda de maneira natural e espontânea? Elas não tem capacidade pra isso, um bundão tem que inventar isso pra elas? Acho que fenômenos culturais deveriam influenciar a indústria da moda depois que algum evento, etc crie nas pessoas a vontade de se vestir de uma determinada forma, copiando um personagem de alguma obra artística ou uma personalidade/artista. Isso ocorre, mas mesmo antes de se lançar Alice no País da Maravilhas, boa parte das cadeias de lojas de roupa de shoppings decidiram implantar uma moda baseada no filme (nem sei até que ponto se basearam de verdade ou só se usaram do nome pra pegar carona).

A cada ano que passa, se fala em uma roupa que aqueça mais no inverno e tenha transpiração melhor no verão? É o mesmo caso do carro, não existe mudança tecnológica que justifique a sobreposição de uma roupa desse ano sobre a roupa do ano passado.

Fico puto, acho uma "falta de sacanagem" o sistema de produção pós-fordista forçar esse consumo descerebrado. E nós (pelo menos no meu caso, que sou estudante de Publicidade e Propaganda) em certa(ou boa) parte ajudamos a perpetuação dessa merda toda. É ótimo podermos ter opções de escolher outras cores de carro, e não um modelo T preto da Ford, mas tudo vem com um custo. Esse troca-troca constante de mercadorias que não tem motivo para serem substituídas umas pelas outras me leva a crer que é só aquele velho desejo humano pela ganância. O tipo de mentalidade "eu tenho o último modelo de carro, olhem pra mim! Com certeza meu pau agora é muito maior que o de vocês, otários!" que de maneira geral fode a sociedade num plano tanto moral quanto econômico. Estamos faturando afú, mas um dia essa festa vai terminar.

Não sei o que acho que vai mudar com esse e-mail, nem eu larguei do curso de Propaganda (ainda) nem ninguém provavelmente vai fazê-lo, mas é sempre bom cutucar a consciência e quem sabe repensar certas coisas dessa vidinha bandida. Ao menos, pense duas vezes antes de elogiar um novo modelo de carro ou de bolsa.
É isso, boa noite.

domingo, 2 de maio de 2010

Ferro reforçado







Se eu definiria Alice no País das Maravilhas como uma bela bosta (um filme de merda que é embelezado à ponto de ser posto na prateleira como algo atraente), eu defino Homem de Ferro 2 como um blockbuster tão afudê que consegue colocar robôs lutando no corpo-à-corpo e com armas de fogo num cenário com bambus, roda d'água e pétalas de cerejeira voando ao vento. Poético? Por favor, não. É um bela homenagem otaku/nerd/cinéfila e como disse, é muito massa.

Essa continuação é melhor que o primeiro Homem de Ferro. Se o primeiro era um filme-pipoca com as virtudes de ser um filme de super-herói não querer se levar à sério e ter um roteiro ótimo para a composição dos personagens principais que eram muito bem interpretados, esse segundo filme tem personagens ainda mais bem construídos e uma trama bem bolada pra justificar uma cena como aquela descrita no primeiro parágrafo.
Os problemas do primeiro filme eram essencialmente no desenvolver do seu roteiro. O seu início era ótimo (já ao som de AC/DC) e muito bem adaptado para a contemporaneidade, só que o resto da história acabava enchendo linguiça e deixava de ter o mínimo de conteúdo interessante o suficiente pra prender o público nas suas cadeiras. A reviravolta era apresentada meio cedo demais e além disso, o vilão era muito fraquinho.

Aqui nós temos vilões à altura. E o mais legal é que eles não se enquadram só como os super-vilões. Sam Rockwell faz um empresário bem pé no saco e funcional. E claro, temos o já ressuscitado-do-necrotério-de Hollywood, Mickey Rourke, que fala até em russo e fica com um palito de dentes de caminhoneiro e a maravilhosa com jeitinho de vadia contida, Scarlett Johansson. Eles aparecem até menos do que eu imaginava, mas isso não foi um defeito.
O roteirista do Trovão Tropical, Justin Theroux, entrega uma história muito bacana e com os diálogos maravilhosos de Tony Stark. Como o Stan Lee queria fazer quando criou a HQ, ele nos faz gostar de um herói que tá mais pra anti-herói. O narcisismo do personagem gera momentos muito arriados. A decisão de deixar um roteirista fazer todo o trabalho funcionou melhor do que o trabalho à 8 mãos do roteiro do 1º filme.

Pra quem gosta de analisar roteiro um pouco mais a fundo, ele tem alguns defeitos. Mal se falava na unidade especial S.H.I.E.LD. e no pai do Tony Stark no 1º filme, e aqui ambos tem peso na história e na resolução de uns problemas que o Homem de Ferro encara. Erro, mas nada comprometedor.

Falar do Robert Downey Jr é meio redundante. O papel foi feito pra ele. A Gwyneth Paltrow segue fazendo uma Pepper Potts muito massa. Junto com o Tony Stark, ela era a melhor personagem no 1º filme e continua firme. O Don Cheadle substitui o Terrence Howard com competência. E a participação do Samuel L. Jacksson vale a pena.

A música é uma bela pauleira com AC/DC e The Clash muito bem usados. E a música composta teve ajuda do Tom Morello, guitarrista do Audioslave e Rage Against the Machine. Não tem erro.

Jon Fraveau tem uma direção precisa em todos os momentos e pôde explorar mais nessa continuação. Diferente de um Michael Bay, ele sabe aproveitar os (muito perfeitos) efeitos especiais. Ah, e sem 3-D falso.

Vamos a análise sociológica do filme. Ele quer dizer alguma coisa? Na real, fiquei confuso. No fim das contas não ficou claro se eles apoiam o militarismo privado ou estatal, porque todos lados fazem cagada. Como o protagonista é um felizardo sonhador americano de sucesso, acaba havendo uma defesa da propriedade privada. Além dessas questões mais dúbias, uma coisa fica clara. Homem de Ferro trabalha para e pelos americanos acima dos outros. E ele é a nova bomba nuclear que deve estar do lado dos justos e bravos, impedindo que as ameaças em potencial ataquem os EUA com medo de uma retaliação muito pior.
A retórica de paz mundial através da barganha e competição militar funcionaram de forma falhada durante a Guerra Fria toda, não há porque acreditar nela agora. Tony Stark tem um sorriso encantador, mas ele mesmo acaba falhando na sua ideia. O tal desenvolvimento tecnologico milagroso que vai salvar o mundo acaba fazendo mais armas que "tijolos para hospitais"(fala do 1º filme).

No fim das contas, é óbvio que um blockbuster americano com uma história que respinga no militarismo e política vai deixar a vista a ideologia do status-quo, etc. A questão é que, como eu falei antes, é um filme que não se leva muito a sério e por isso mesmo que é legal. Esqueça um pouco do mal que Jack Bauer e seus asseclas podem estar causando ao mundo e relaxe. Eu não diria que é um filme de ação, é um filme de aventura, como todo bom super-herói deveria ser (menos os Batmans recentes). Enquanto que Homens-Aranha e X-Men tentam ter um certo nível de seriedade e eventos épicos e acabam descambando, Iron Man só melhora.

Ah, e pra quem manja um pouco de personagens de quadrinhos, a cena depois dos créditos vale a pena. Um cliffhanger, como os gringos chamam, um gancho muito bom para um dos próximos filmes da Marvel Productions. Aliás, a decisão da Marvel fazer as suas adaptações de seus quadrinhos me parece até o momento ótima. Se mantiverem a qualidade e o espírito dos Homens de Ferro, que venham mais uns quantos.