domingo, 13 de junho de 2010

Bafana, bafana!




Como falei aluguei também esse fim de semana o filme "Mandela - Luta Pela Liberdade", ou Goodbye Bafana, no original. Aproveitando a Copa na África do Sul pra entender mais do país.

Já escrevi sobre o Invictus, filme do Clint Eastwood que retrata a época presidencial do Mandela durante a Copa do Mundo de Rúgbi, mas esse outro filme sobre a história de Nelson é muito mais abrangente que o Invictus. Além do mais, ele também é muito interessante e menos óbvio, pois o protagonista não é o dito cujo, e sim um dos carcereiros de Mandela quando ele esteve no presídio de Rhode Island.
Um carcereiro branco, um homem comum que acreditava nas mentiras do governo, como o suposto plano de extermínio que os negros tramavam contra os brancos. Ele não só muda sua visão de mundo ao longo do filme, como mostra que fazer parte do “sistema” pode ser uma forma de acabar com as injustiças dentro dele.
A história real é tirada do livro Goodbye Bafana, livro de memórias do carcereiro do Mandela. Dirigido sem firulas pelo francês Bille August (já adaptou A Casa dos Espíritos pro cinema) , Dennis Haysbert (já antes de Obama,o primeiro presidente negro americano David Palmer, do 24 Horas) interpreta um convincente Mandela, que vai sendo desenvolvido em 3ª pessoa de maneira formidável. Não chega ao nível de excelência e precisão do Morgan Freeman como Mandela no filme Invictus, mas é muito bom. Já a Diane Kruger (a Helena de Tróia e atriz alemã e espiã do Bastardos Inglórios) e o Joseph Fiennes (Shakespeare Apaixonado, Círculo de Fogo, Lutero), ambos perfeitos.
Muito além dos filmes, a vida desse sujeito é incrível. Ao mesmo tempo que a ditadura do Aparthaied foi muito mais fudida que a nossa ditadura brazuca, a reconciliação democrática era muito mais complicada e funcionou de forma muito mais espetacularmente bem. Na real, me faltam palavras pra falar sobre o assunto. O cara não é o santo pacifista que muitos pensam (e o filme faz questão de mostrar isso) e nem por isso ele é menos digno de elogios. Certamente, haviam muitas coisas pra dar errado, e muitas deram certo, contra todas espectativas. Dá muita esperança de viver e acreditar que muita merda pode melhorar. Recomendo esse filme pra todo mundo.

Chapa nos peito, chute na mente e tiro no coração. Nada mais relaxante pra um fim de domingo...




Aluguei esse fim de semana três filmes: Goodbye Bafana(Mandela - Luta pela Liberdade), Busca Implacável (Taken) e O Sol de Cada Manhã (The Weather Man).

Nesse instante terminei de assistir o Busca Implacável. Ele é notavelmente perfeito em todos aspectos técnicos. A direção (Pierre Morel, fotógrafo de "Cão de Briga") é digna de um filme do Bourne, com lutas corpo-a-corpo muito foda e um ritmo implacável (ahn, ahn, entenderam o trocadilho?). Sua 1hr e 30 min passam como se fossem 15 minutos, o que para um ação/suspense é a marca de qualidade na minha opinião.

Fora isso, o roteiro (de Robert Mark Kamen e Luc Besson , escritores de O Quinto Elemento, O Profissional, Nikita, Joana Darc, Karete Kid, Artur e os Minimoys, Carga Explosiva, Taxi, Bandidas e Cão de Briga) é um típico suspense de ação de agente secreto, o único diferencial talvez seja o cenário parisiense. No geral, a história tá mais pra 24 Horas que um filme do Bourne. A CIA não é inimiga de ninguém, foi ela que deu habilidades para o protagonista (interpretado pelo Liam Neeson, um ator com uma persona artística do típico agente fodão, mas interessantemente com aspecto bem mais velho que a média desses personagens) salvar sua filha. A premissa do roteiro é, digamos, retrógrada, visto que o inimigo é um ser externo ao universo dos personagens "bons". Um tanto de xenofobia com albaneses, no caso desse filme. Mas não creio que a intenção do filme deva ser a de fazer alguma politicagem. É um mero recurso do filme. Só me incomoda que um pai que quer impedir a filha de viajar para Paris porque "eu conheço o mundo e sei como ele é perigoso" parece o tipo de coisa que meu pai diria. E um filme desses serve pra reforçar esse tipo de visão do mundo. Mais estranho ainda, o protagonista parece encarar os EUA como o lugar mais seguro do mundo, coisa da qual eu duvido muito.

Agora, pra defender um pouco, tem gente que vai achar o filme repleto de violência escapista. E é. O ponto positivo é que ele não é o filme que trata de violência e não mostra ela diretamente (apesar de que poderiam ter usado mais bolsas de sangue). Uma cena de tortura bem visceral e outra em que ele atira em uma mulher eu vejo de certa forma como uma coragem cinematográfica. Se fosse só mais um produtinho, seria um filme mais "limpo". Ponto positivo.

No fim, é um filme bom pra se passar o tempo. Nada edificante, nada inovador. Não obstante, é bem feito e violentamente catártico. É só manter uma visão crítica e dar o play.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Escritos ao vento




Um sorriso sacana surgiu no meu rosto quando eu coloquei os olhos sobre o cartaz de papelão do filme O Escritor Fantasma. Na parte de cima estava escrito "Do polêmico diretor Roman Polanski". Hehe, polêmico pelos filmes ele pode ser, mas os marketeiros não escolheram hora pior pra designar esse adjetivo para esse polaco fugido. Até porque, Polanski terminou de editar o filme em casa, já que estava preso pelo suposto crime de "embebedação de menor e sexo logo em seguida".
Que ele fez, é bem provável, mas a própria ex-menor (o crime data dos anos 70) fala que não houve nada. Ela pode estar encobrindo e admitir um estupro é algo muito mais complicado do que o óbvio. Há inúmeros casos de mulheres que retiram a queixa contra o estuprador mesmo ele tendo realmente violentado-as. Dito isso, acho que a grande questão é que o acontecimento caducou há muito e não é uma prisão domiciliar que fará Roman ter mais culpa da consciência do que ele pode ter.

Dito isso, vamos ao que interessa: o filme. Ele é muito calcado no roteiro , como todo suspense, e fora o início meio truncado e silencioso, a trama inteira é conduzido de maneira excelente de forma a criar uma atmosfera tensa e paranóica. Fotografia escura e pálida ajudou muito + direção precisa + atuações fodas.

A história toda é uma crítica indireta ao governo do Tony Blair. O tal escritor-fantasma (Ewan McGregor) se envolve numa trama de intrigas muito maior do que ele poderia esperar quando é contratado para escrever as memórias de um ex-primeiro ministra britânico (o bom 007, Pierce Brosnam).

O roteiro (baseado no livro The Ghost, de Robert Harris, e adaptado por Polanski e Harris)se sustenta muito em alguns poucos personagens. Dessa forma, Polanski tirou o máximo do Ewan McGregor (melhor atuação dele que eu assisti)e da mulher do primeiro-ministro, Olivia Williams (esposa do Bruce Willis no Sexto Sentido). Ao invés de ir num caminho óbvio de mostrar muito uma relação entre o primeiro-ministro e o escritor, esse último acaba mais em contato com a primeira-dama, que nunca se sabe se defende o marido ou está contra ele. Além deles, há o sempre ótimo Tom Wilkinson como destaque. O caminho vai gradativamente ficando tortuoso e claustrofóbico.

Música à moda antiga muito boa do Alexander Desplat (novo nome da trilha sonora mundial, só nesse último Oscar tinham 4 filmes com trilha dele - Julie & Julia, O Fantástico Senhor Raposo, Um Profeta e Coco Antes de Chanel) e utilizada de maneira econômica. Há vários segmentos de diálogo sem música nenhuma, o que acaba sendo muito bom e não cria aquela poluição sonora que muitos suspenses políticos possuem. Um certo minimalismo muito bem aplicado.

É um filme político, que traça um retrato dos jogos do poder atual. De certa forma, é o dito fim do partidarismo, já que o Partido Trabalhista britânico, assim como o PT aqui no Brasil, mostram como jogam o mesmo jogo sujo dos outros que eles cirticam.
Seguindo nessa de que os opostos tem mais em comum do que aparentam, dou destaque pra uma parte muito boa filme:

O primeiro-ministro vai ser julgado por uma comissão internacional de direitos humanos e pergunta pros seus assessores o que ele pode fazer. Nisso eles respondem:

- Podemos permanecer aqui nos EUA, que não aprova a comissão internacional e assim não pode ser investigada.

- E que outras opções temos? Que outros países não seguem também?

- Ah, tem uns na África, tem a Indonésia, China, Coréia do Norte, Irã e Iraque.

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E pra encerrar, há outra passagem do filme muito boa, em que se auto-ironiza o papel social de mudança do próprio filme. O escritor, meio sem saída, fala para um investigador:

- Tu sabe muito bem que estamos nos esforçando muito e colocando nossos pescoços à prêmio, sendo que tudo vai acabar em pizza e ele vai ter uma aposentadoria confortável da CIA?


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Pois é, um filme não muda o mundo, mas pode mudar e influenciar algumas coisas menores, mas não menos importantes. O poder de registro, ficcional e histórico, do audiovisual é que valem muito.

A luta continua!