sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Onde os Diálogos Não Tem Vez (e nem precisariam ter)

Revi Onde os Fracos Não Tem Vez. É bom, mas tem detalhes e momentos sofríveis, não dá pra prestar atenção e criar laço com personagens. Enfim, naquele Oscar Sangue Negro era uma obra-prima que espero ser mais lembrada no futuro.

A direção dos Coen não é o problema. Ela é excelente, mantendo o público focado em muitas das cenas sem precisar de música ou diálogo pra isso. O problema é quando ocorrem os diálogos. A maioria soa artificial, além de encherem linguiça e não ajudarem a trama. Toda a parte do filme que acompanha o Tommy Lee Jones investigando o que está acontecendo no filme me parece totalmente desnecessária, não acrescentando nada. Só papo de xerife rançoso de um velho oeste que já se foi e não tem mais glória épica nenhuma.

O 3º ato em geral é muito ruim e desanimador. Ainda mais por praticamente ser do Tommy Lee Jones. E por ter um velhinho em uma cadeira de rodas em uma casa cheia de gatos, filosofando que aquele é um País Sem Lugar para os Velhos (título original do livro) que em momento anterior algum do filme ele é sequer mencionado. De novo, má construção narrativa. E a última cena, nem preciso dizer, senti um pouco de vergonha alheia, é bem nada a ver com nada (o oposto da última cena do Queime Depois de Ler, que é uma grande bobagem que é totalmente justificada com a cínica fala final)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um americano misterioso





Muito sem querer ontem acabei assistindo um puta filme legal: Um Homem Misterioso (The American). Ele é recém lançado, mas não teve divulgação nenhuma até onde eu saiba, apesar de ter um nome como George Clooney envolvido. Pois bem, mas o filme tem um motivo de ser mais silencioso na mídia, porque ele tem aquilo que preconceituosamente podemos chamar de alma "européia". Esteriótipo ou não, se dá pra entender que é um filme com um assassino de aluguel e não tem um tiroteio numa média de 10 em 10 minutos e o protagonista é pouco falativo e deixa espaço pro público observar o comportamento dele e tentar entender o que se passa na cabeça dele, então vamos chamá-lo de filme europeu.

O roteiro foi tirado do livro A Very Private Gentleman, de Martin Booth. Direção do Anton Corbijn, que como cineasta é mais famoso como diretor do Control, longa em preto e branco que conta parte da história real do Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division. A bem dizer, esse foi o trabalho menos musical da vida do Corbijn, porque ele é o fotógrafo oficial de bandas como U2, Depeche Mode, entre outras grandonas. Control foi seu primeiro longa, mas ainda lidando com música. Pra nossa sorte, aqui ele lida com muita maestria com uma câmera tirando 24 fotos por segundo. E não cai na tentação de fazer um filme que só tem beleza estética e planos que não contam nada na estória nem auxiliam no clima do filme.

Sendo um fotógrafo, a direção de fotografia tem sim um destaque. Planos muito bons com contra-luz deixando silhuetas marcados, como é o caso do plano dos créditos inicias. Nele, o protagonista dirigindo dentro de um túnel, está tão sombreado que as letras brancas dos créditos são aplicadas sobre o protagonista ao invés de estarem voando no cenário. O ambiente em si é lindo pra fotografia. Temos um cenário com neve e também um vilarejo das antigas no interior da Itália, cheio de vielas que sobem e descem, se entrecruzando. Luzes de diferentes cores vindo de vielas do vilarejo onde se passa a estória se integram com naturalidade.

Os enquadramentos dão muito informação, até na disposição dos focos de atenção que se tem a intenção do público prestar a atenção. Coisas como uma placa no canto da tela que indica onde o protagonista está, e logo abaixo da placa, quase do mesmo tamanho, o espelhinho retrovisor do carro do protagonista, mostrando parte do seu rosto. Detalhes, detalhes que fazem a diferença. A ação também se integra bem com movimentos de câmera sutil, como um travelling da ponta de uma cama, que de início só mostra os pés do protagonista, o travelling começa a ir pra trás, até revelar a mão do protagonista, que segura um livro, e no que percebemos o livro, ele deixa-o cair no chão, toma um susto e se levanta alarmado. O movimento da câmera flui muito bem com a ação proposta.

Tenho que dar destaque para outro elemento, esse sim que me causou surpresa no uso preciso e bem planejado: o som. A música pontua poucos momentos do filme, somente quando se faz necessário pra enfatizar a paranóia do protagonista ou algum momento em que ele se concentra em uma atividade. De resto, o clima do filme se dá bastante pelo som ambiente, no volume certo, é as poucas falas do protagonista. Sem excessos, cria-se um clima pra entrar na tensão do protagonista que não consegue relaxar nunca. O melhor e a edição de som, que inserindo barulhinhos abruptos no meio da calmaria quase constante dos ambientes, criam muita tensão. Junto com a montagem, se integram muito bem pra fazer os cortes de uma cena pra outra, como é o caso de um plano que termina com um trêm meio ao longe e desfocado e começamos a ouvir o que parece ser um apito de trêm. Quando corta a cena, o "apito" não sumiu, e vemos que ele é parte de uma música em um filme que está passando em um café da cidade (no caso, está passando Era Uma Vez no Oeste {quase gozei, óbvio}). Novamente, atenção aos detalhes e sutilezas. Ah, pra nós brazucas, rola até um "Panamericano" uma hora, na versão original, é claro.

A trama se desenvolve muito bem e aos poucos. Não quero entregar nada, como perceberam pelo meu texto, fora o fato de o personagem ser sério e silencioso e paranóico com alguma coisa. Ao final, algumas escolhas de enquadramento poderiam ser melhores, ou ter um melhor jeito de revelar o último grande fator na estória, que define o final nada feliz. Porém, até mesmo nessa parte, sempre boas escolhas e atenção à vários elementos fazem esse filme ter uma riqueza, profundidade e "artesania" que eu não esperava.


Ok, agora já posso voltar a um filme com mais explosões, tipo Homem de Ferro.

http://www.youtube.com/watch?v=4ywmoXZwkA0

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

7 palmos, média 7

Queria ter ido nesse fim de semana no cinema assistir Tetro ou O Garoto de Liverpool. Nem fui assistir nem um nem outro. Aliás, no cinema não assisti nada, fiquei por casa assistindo o bem bacana Leaves of Grass, reassisti o maravilhoso Cães de Aluguel e assisti Um Dia de Cão, obra-primássa. Mas falando em cinema, acabei indo hoje, uma 2ª feira, com meu pai. Ele, por algum motivo, queria assistir Enterrado Vivo. Estranhei, o velho não é nem um pouco de filme sanguinolento ou com algum elemento de terror, como esse filme sugeria. Nos meus preconceitos, só aceitei assistir porque a equipe era espanhola, o que poderia conferir alguma característica interessante e não ter uma fórmula boba de filmes mais comerciais americanos.

Pois bem, não escapou de muita fórmula, no fim das contas. Porém seu roteiro tem uma premissa e momentos muito bons, inclusive a opção por um final nada feliz (pouco depois de sermos enganados com um final feliz). Falando assim, parece uma puta reviravolta. Não é tanto, mas a estória tem seus pontos de interesse, sem dúvida.

A premissa é o que o título já entrega, uma pessoa enterrada viva. Em um caixão madeira (ora pequeno e claustrofóbico, ora agigantado, elemento que não dava pra entender, culpa de uma direção meio confusa). E o contato com outros personagens por todo o filme é através de um celular, que vai gradativamente perdendo a bateria. Início promissor e um elemento "bomba-relógio" bem agoniantes. Os diálogos com os outros personagens são às vezes bons, às vezes médios. O ator, Ryan Reynolds, não é lá o bixo, mas passa o suficiente de emoção. Pra mim em um filme de 90min com só um ator e um cenário claustrofóbico ele não ajudou, tinha que ser alguém melhor.

Depois, se revela um contexto político, que foi bem retratado e tomando o lado de criticar as empresas privadas que atuaram e estão atuando no Iraque. O diálogo entre o protagonista e um RH da empresa em que trabalhava é, por mais exagerado que seja, revoltantemente bom.

Os eventos que vão ocorrendo durante o enredo conseguem dar um gás na trama, mas às vezes chegam ao surreal de uma cobra surgir dentro do caixão por um buraco na lateral que o protagonista por acaso não tinha visto antes. E como a cobra chegou tão baixo na terra? Ah, deixa pra lá, né?

O que não entendo é como gringo consegue gastar dinheiro. É um ator desconhecido, gente desconhecida na equipe, espanhola, música composta (bem inútil), um cenário e quase ou simplesmente nada de luz artificial. E o custo estimado?

$3,000,000. É mole? Dá pra mim que eu faço e devolvo o dinheiro.

Concluindo, filme ruim tem seu valor, pelo menos pra ver os defeitos. Curioso é ele não ter nada de propaganda e ser distribuído em um cinema de Porto Alegre.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nostalgia de um certo mundo homogêneo

Estava agoniado hoje. Agonia, de acordo com o que um amigo meu disse hoje, é ter um sentimento de aflição em relação a alguma coisa que não se sabe o que é. Do contrário é só preocupação.

Pois bem, deitei na cama e consegui converter a agonia em preocupação. Defini alguma parte da agonia, pelo menos. Hoje mais cedo, assisti parte do filme A Rede Social com dois colegas do trabalho. Um deles dormiu, mas eram dois. Enfim, é raro eu assistir um filme hoje em dia com alguém e ver esse filme que fala muito da nossa geração me causou uma agonia, que agora talvez traduzi em uma preocupação.]

Essa preocupação é mais uma nostalgia. Saudades do tempo em que se chegava na aula de manhã e falava com os amiguinhos:

- Bah, e o golpe do Vegeta ontem contra o Capitão Ginyu?

A frase, pros que não compartilharam dessa mania da minha infância era Dragon Ball Z. E o que ela tem demais? Todo o grupo de amigos sabia o que era a tal cena em que o Vegeta deu um golpe muito foda no Capitão Ginyu. Todo mundo viu o episódio do dia anterior, assim como veria o episódio daquele dia mesmo.

Hoje, com a anarquia da internet temos uma infinidade de possibilidades, escolhas que nenhum "receptor" teve em qualquer outra época da humanidade. Nessa gama enorme de opções, cada vez com mais diversidade e quantidade de coisas pra se escolher pra ouvir e assistir, o individualismo aumentou consideravelmente. Ninguém chega no outro dia e pergunta do episódio de algum seriado. Cada um escolheu um seriado pra assistir. Ou, se alguém está assistindo o mesmo, não baixaram os mesmos episódios. Um está sempre baixando assim que vaza pra torrent a versão gringa, outro começou a baixar depois e ainda não alcançou os episódios mais recentes.

Esse é o preço que se paga pela diversidade e liberdade de escolha. Cada um é muito cada um, precisando de uma rede social pra se sentir conectado aos outros.
Estou exagerando em negatividade, com toda certeza, mas que posso fazer se sou um "velho ranzinza" sempre insatisfeito, como já me falaram.


Fuck you, facebook (e to blogando e mandando por e-mail esse texto, ah, bela hipocrisia...)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Traição?

- Sabe por que eu não te trairia? Porque eu não acho que valha a pena pular a cerca e espalhar meu genoma por bucetas alheias sendo que em primeiro lugar eu iria ferir os sentimentos de uma pessoa com a qual eu me importo. E essa pessoa é tu. E eu me importo contigo porque tu é um ser humano lindo, maravilhoso, admirável e amável, em todos teus defeitos e tuas qualidades, e de maneira nenhuma tu mereceria isso. Satisfeita?

domingo, 3 de outubro de 2010

Filme cult brasileiro? Chama o Selton!




Uma ótima tentativa de se fazer um filme cult brasileiro. Novamente, o Selton Mello tinha que se envolver. O argumento (genial) é muito Charlie Kaufman – emprego de pelo menos um elemento surreal de tão estranho e criativo num universo do cotidiano. E depois ele tem uma reviravolta completamente inesperada, mas bem construída, tornando-se um popcult-b-trash tarantinesco.

De ruim só alguns maneirismos, gestos, falas de uns personagens que não precisavam forçar tanto a barra. Gimmick é bom, mas pode ficar muito exagerado e perder o carisma. Talvez é porque ele seja muito raro no cinema nacional, mas enfim, às vezes fica estranho. Outras vezes são muito afudês e engraçados.

Da minha parte, acho que a estória poderia ter focado ainda mais no liquidificador. Há algumas cenas que nos são mostradas que não são vistas nem por Elvira nem pelo Liquidificador e essas passagens nem contam muita coisa. Mesmo o filme tendo “só” uns 80mins, ele ainda assim poderia ser menor se cortassem essas cenas e não perderia em envolvimento e estória.

A música também remete ao tom levemente engraçado e num primeiro momento calmo dos filmes com o roteiro do Charlie Kaufman (esqueçam o “Sinédoque, Nova York”, esse é bem chato e desnecessariamente tristonho). Também remete um pouco às músicas de comerciais das antigas de produtos para donas de casa, tipo como o The Sims também faz. A música tema, em que o destaque é um assovio, é hit.

Por fim, o somatória do todo perde um pouco em relação à genialidade de algumas partes, mas isso não quer dizer que é um filme ruim. Longe disso, só faltou ainda um leve polimento. No total é um filme ótimo e completamente cativante e criativo. Assistam antes que seja tarde.

O nome do jogo




Dos 4 filmes que assisti até agora no feriadão, "Nome Próprio" é o melhor de todos. O mais redondinho em todos os aspectos. Estória é muito boa, mesmo com uma protagonista que é uma mina azedinha mais pra mimada do que qualquer outra coisa e em crise com a vida em geral. Estória boa mesmo com a prosa da protagonista, que expia sua vida, sentimentos e etcs num blog, ser às vezes bem óbvia e fraca, às vezes boa. Uma estória baseada nesses escritos. Tudo para se torcer o nariz certo? É, mas as bebedeiras, nóias e trepadas da guria renderam um puta roteiro. E a fotografia, direção, montagem, música e atuações fecham completamente.



Nem tô por falar muito do filme. Só digo pra assistirem com toda a certeza. Foi o que eu peguei mais por acaso na locadora e conseguiu ganhar de um filme do Copolla, um com o Al Pacino e o mais recente do Giuseppe Tornatore. Quer mais ou tá bom? Só se for uma Leandra Leal numa atuação muito muito muito foda, melhor que um Gene Hackman e um Pacino, acredite.