Já foi há algumas semanas que fui assisitir "Inimigos Públicos" no cinema. Pois bem, essa semana abri o guia de filmes e qual é a minha surpresa quando entre as estréias vejo um filme com quase exatamente o mesmo nome. No caso era "Inimigo Público Nº 1 - Instinto de Morte". A grande diferença é que o título original entre parênteses precisa ser pronunciado fazendo um biquinho: L'instinct de Mort
Veja bem, é um filme "de ação" francês. iiih, já vi. Certo que tem um trailer eletrizante que se torna uma grande enganação para o público. Na verdade deve ter um bandido-filósofo-existencialista que pondera se a pistola que ele empunha em um assalto existiria na condição de arma se não fosse possível apertar o gatilho. Ou, qual a razão de ele dispor da possibilidade de ser um fora da lei? Seria uma brecha proposital no "Sistema"? Seria mero acaso? Seria o alcançe da verdadeira Liberdade? Ah claro, toda essa discussão se desenvolveria em planos longos e estáticos, onde alguém aparece fumando e olhando uma janela, tudo com uma narração de uma leveza e calma digna de uma massagista de heiki.
Bom, aviso ao leitor que, como diria o glorioso pensador futebolísico Kleber Machado, "o mundo mudou". Esqueça Godard, Jean Renoir, Truffaut e o escambal. Tem tiro, sangue, explosões e adrenalina. Tudo entregue pela direção muito boa do Jean-François Richet e um roteiro pé no chão, sempre interessante e inteligente adaptado do livro escrito pelo próprio ladrão da história, Jacques Mesrine.
Ué, mas isso tudo de "tiro e sangue com qualidade cabeça" não deveria ter sido o Inimigos Públicos do Michael Mann? Pois é, não é. Digo que esse diretor/roteirista/produtor está em decadência. E não vão pensar que tenho alguma picuinha com o estilo dele, longe disso.
O Michael Mann's "Colateral" ao meu ver é uma obra-prima não muito reconhecida como tal pelo público. Roteiro completamente surpreendente, cuidado com possíveis escapadas à realidade hollywoodianas, diálogos excelentes, inteligência, reviravoltas. Existe algo nele que o faz muito mais que um membro do sub-gênero "filme de bandido".
Dito isso, da mesma forma que a carreira de Michael Mann decai, Inimigos Públicos começa muito bem, mantêm-se por algum tempo e depois vai progressivamente descambando. Dá pra aguentar até numa boa por 2/3 do filme, mas o 3º ato... credo, quanta pieguise. Roteiro e direção. Porra, pra que aqueles slow-motions?!
Algo ocorre, Mann achou que precisava ser mais "old school hollywood" e tratar a platéia como se tivesse 12 anos. Opa, a censura do filme é 16. Ruim essa, erraram feio.
O caso de sucesso do L'instinct de Mort se repete em outro filme do qual já escrevi, "Baader Meinhof Komplex". Filme alemão(produção Alemanha/França/Rep. Tcheca) com mais violência que o Inimigos Públicos. Ele também é uma recriação de época (ok, essa foi mais fácil porque nem foi preciso encomendar ternos e roupas de cabarè da década de 30).
A violência maior não é sinal de estupidez. Ela é retratada de maneira tensa e suja para aplacar e não agradar catarsicamente a uma platéia sedenta por sangue e tragédia. Há sempre pensamento crítico.
Conclusão: filmes com ação e efeitos especiais mais tradicionais(sem 3D e CGI) não valem mais a pena na Hollywood atual. Produções estrangeiras hoje tem financiamento suficiente para ter qualidade técnica equiparável e sabem fazer fotografia, roteiro, música, direção e montagem com eficiência, mais inteligência e perfeição, sem os exageros/bobagens/melosidades que hollywood insiste em usar achando que é isso(uma simplificação perigosa) que o público quer.
Será que o caminho para o mundo realmente é a globalização? Para o cinema, é o que parece. Apoio e parcerias internacionais vem construindo obras melhores em todos os sentidos. Esse texto aqui pode servir como um "The International Manifest" para defender as co-produções multipolarizadas. Invento esse nome à partir de outro filme recente, "The Intenational". É mais um filme com tiros e ação muito bem feito e inteligente, que mesmo falado em inglês e contando com Clive Owen e Naomi Watts, teve uma baita cooperação com a Alemanha. Adivinhe o resultado. Resposta é óbvia: é uma co-produção! Logo, qualidade.
L'instinct de Mort é só a primeira parte da cine-biografia da história real de Jacques Mesrine. Foi uma co-produção França/Canadá/Espanha, com locações em todos esses lugares. Mal posso esperar pro próximo. Já o próximo do Michael Mann, uh, deixa pra uma próxima.
Viva o neo-liberalismo, a globalização e os cineastas sem fronteiras!
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