terça-feira, 4 de maio de 2010

O Pós-Fordismo, A Publicidade, A Tecnologia e a Bonanza





Ando meio desligado e meio revoltado. Não me perguntem como cheguei ao ponto de discutir comigo mesmo os efeitos nocivos do sistema de produção pós-fordista e minha indignação na maneira como as propagandas (das quais provavelmente farei parte da produçã) exaltam aspectos completamente inúteis de produtos que se dizem "novos" sendo que são iguais às suas versões "antigas".

Digam-me, existe uma enorme diferença tecnológica entre o modelo de Fiat Punto 2009 e 2010. Ou entre as roupas que eram moda no outono do ano passado e do outono desse ano? Pra minha concepção, um novo modelo de produto só deveria ser desaguado no mercado se ele representa uma utilidade superior em relação ao seu modelo anterior. Um computador, um celular, um tv, um videogame, isso tudo eu entendo e aceito. Há visivelmente uma diferença tecnológica de bom tamanho entre um modelo e outro. Já num carro, acho irrisório. Precisamos mesmo de um modelo 2011, sendo que 2010 nem terminou? Tem alguma mudança no sistema de segurança? Tem um consumo mais eficiente de combustível? A última propaganda que eu consigo me lembrar que falava-se num carro com avanço tecnológico substancial foi no lançamento dos carros com motor flex. E de lá pra cá, alguma propaganda enumera as diferenças que fazem valer a pena trocar um modelo de carro pelo outro? Um faról com design mais arredondado faz tanta diferença assim?

E no maravilhoso mundo da moda, digam-me porque eu devo me vestir de acordo com o que um estilista Y pensou que é a nova moda? As pessoas não deveriam criar a moda de maneira natural e espontânea? Elas não tem capacidade pra isso, um bundão tem que inventar isso pra elas? Acho que fenômenos culturais deveriam influenciar a indústria da moda depois que algum evento, etc crie nas pessoas a vontade de se vestir de uma determinada forma, copiando um personagem de alguma obra artística ou uma personalidade/artista. Isso ocorre, mas mesmo antes de se lançar Alice no País da Maravilhas, boa parte das cadeias de lojas de roupa de shoppings decidiram implantar uma moda baseada no filme (nem sei até que ponto se basearam de verdade ou só se usaram do nome pra pegar carona).

A cada ano que passa, se fala em uma roupa que aqueça mais no inverno e tenha transpiração melhor no verão? É o mesmo caso do carro, não existe mudança tecnológica que justifique a sobreposição de uma roupa desse ano sobre a roupa do ano passado.

Fico puto, acho uma "falta de sacanagem" o sistema de produção pós-fordista forçar esse consumo descerebrado. E nós (pelo menos no meu caso, que sou estudante de Publicidade e Propaganda) em certa(ou boa) parte ajudamos a perpetuação dessa merda toda. É ótimo podermos ter opções de escolher outras cores de carro, e não um modelo T preto da Ford, mas tudo vem com um custo. Esse troca-troca constante de mercadorias que não tem motivo para serem substituídas umas pelas outras me leva a crer que é só aquele velho desejo humano pela ganância. O tipo de mentalidade "eu tenho o último modelo de carro, olhem pra mim! Com certeza meu pau agora é muito maior que o de vocês, otários!" que de maneira geral fode a sociedade num plano tanto moral quanto econômico. Estamos faturando afú, mas um dia essa festa vai terminar.

Não sei o que acho que vai mudar com esse e-mail, nem eu larguei do curso de Propaganda (ainda) nem ninguém provavelmente vai fazê-lo, mas é sempre bom cutucar a consciência e quem sabe repensar certas coisas dessa vidinha bandida. Ao menos, pense duas vezes antes de elogiar um novo modelo de carro ou de bolsa.
É isso, boa noite.

Um comentário:

  1. Olá,
    Tive contato com o teu blog no cafedeicaro.
    Agora vim conhecê-lo e seguí-lo.
    Desde já és convidado a visitar o meu.
    Espero que não fiques brabo comigo, pois considero como os dois maiores males da humanidade a exploração da mão de obra e a mentira e tenho sustentado que a propaganda é essencialmente mentirosa.
    Saúde e felicidade.
    João Pedro Metz

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