domingo, 27 de setembro de 2009

Um traço dançante





Puxa vida, o que dizer dessa jóinha. Realmente não há tanto pra falar. Assista!
Terminei "Valsa para Bashir" mudo. Mudo até nos meus pensamentos, tudo graças ao final completo dessa obra completa. O filme varia de assuntos desde a noção do que é a memória(muito mais embaçada e falsa do que se imagina), a insanidade humana perante sua selvageria enrustida de civilização, indiferença ao próximo e ajuda a entender melhor o eterno conflito do Oriente Médio, a grande Terra Prometida da estupidez.

Em resumo, é uma pancadaria no estômago em muitos momentos. A noção de confusão e absurdo da guerra eu só senti na mesma proporção assistindo Apocalipse Now. A narrativa é bem inovadora, com momentos ficção, momentos de memórias fantasiosas viajantes e entrevistas documentais. Tudo isso lindamente embalado em um desenho impressionantemente único e bom pra caralho. Animação de cair o queixo com um estilo de coloração e traço que nunca vi parecido na vida. Mesmo que tu não esteja afim de ver um filme pra se sentir mal como membro dessa raça humana, vale a pena só pelo visual. Coloque no mudo e curta a experiência.

Não vá pensar que o estilo do filme é pura balaca cinematográfica artística. Por ser inovador em estrutura e visual ele chama a atenção de um público muito maior e assim alcança mais pessoas, que é isso que interessa. Não pode ser um filme com conteúdo importante se ninguém souber que ele existe. Total apoio. É possível conciliar todos lados quando se fazem coisas bem feitas e bem boladas.

Por fim, hipocrisia ou não, esses filmes precisam ser feitos. A cultura de massa não serve pra só legitimar Transformers e afins. Há espaço pra tudo. Desigual, mas existe.
Cinema serve para sofrer também, não importa se o problema não vai ser resolvido com o filme, mas ele possui o poder de mostrar, ensinar e emocionar, assim podendo melhorar um pouco as coisas trazendo assuntos importantes para debate e resolução.
A importância é o registro.

sábado, 19 de setembro de 2009

O Silêncio dos inocentes



Tenho que dar um certo destaque à região dos balcãs. Ainda me indago como aquela região vista como desolada e atrasada do leste europeu consegue fazer filmes tão impressionantes. A bola da vez vem novamente da Romênia, uma espécie de pólo da região além da Sérvia que já é famosa pelo excelente cineaste e músico Emir Kusturika. É um local no mínimo pitoresco e que serve de cenário visual e cultural de maneira incrível, algo muito além do Conde Drácula.

A fita, nem com vampiro nem de tirror, chama-se "Casamento Silencioso". Não sei se a tradução é fiél, mas serviu muito bem. Aliás, várias cenas tinham piadas muito bem transpostas para o português, trabalho impressionante do pessoal da tradução.

Tudo se passa num vilarejo romeno do interior do interior, nos bons tempos do bigodudo camarada Stalin. Bom, tem um pouco de tudo no filme. Crítica política, viajem ao distante com cultura pitoresca, um tanto de drama, realismo fantástico e muita comédia. Comédia da boa mesma, nada óbvio ou estilo comédia dramática que só gera sorrisos e não risadas de verdade. É engraçado pra cacete. Atentem-se para a cena da festa de casamento, é cinema-mudo do Chaplin com a diferença de ter efeitos sonoros. Lindo, lindo e de chorar de rir. Aliás, estou achando que o tal de Horatiu Malaele, o diretor, tem muita inspiração no cinema mudo. Além de momentos que tornam-se fotos preto e branco, há toda uma sequência feita à cópia das comédias pastelão do cinema mudo. Aula de audio-visual, saber passar a história com o mínimo de diálogo possível.

Destaque extra para a parte sonora, tanto o cuidado com a quantidade de barulho e efeitos sonoros como para a música. Música dos balcãs, nem preciso dizer, é maravilhosa. Começou a ganhar o mundo com a banda punk-cigano Gogol Bordello e com o grupo Beirut, que teve uma canção transformada em música tema da mini-série brasileira "Capitu". A construção do som é genialmente concebida fazendo uso de diálogos muito barulhentos e com música de fundo, até o momento que o tal silêncio do título aparece na história forçando não só os personagens como o espectador a se acostumar com os novos sons e depender de outros sentidos para compreender a situação.

O decorrer dos eventos é muito bem orquestrado também. O humor é predominante e também mutante, indo do conto de piadas cotidianas até aquelas sequências estilo cinema-mudo que já falei. Passando também por humor bizarro com doses de realismo fantástico e misticismo. Os moradores da vila são memoráveis. E quanto ao drama, os momentos hilários só ajudam a fazer as tristezas pontuadas ainda mais difíceis de engolir. Tudo é motivo de rir e de chorar num panorama cultural e histórico de um pequeno país que parece muito mais distante do que realmente é. Da minha parte, é outra obra-prima romena.

trailer: http://www.youtube.com/watch?v=vDKT8Akmqv0

Film bun pentru tine!

domingo, 13 de setembro de 2009

Singelo agradecimento

Só pra dizer que a vida vale a pena pelo chopp e por algumas pessoas como Luíza Machado(Dudi), Leila, Matheus(Def), Ana Caroline, Guilherme Fraga(Led),Ulisses Costa, Ana Carolina T. Schein(Lola), Ramon Felipe Wagner, Airton Riffel, Cláudia Riffel, Felipe Riffel e Gabriela Riffel. Muito obrigado por existirem e serem parte muito importante da minha vida =]

Feedback Text for a Farewell Friend

As coisas mudam. As coisas vão mudar. Não, Bob Dylan, os tempos não mudam não. Presente é presente, mesmo sendo outro presente a cada instante. Futuro é pensar no que ninguém tem controle. Passado também. Ninguém muda, só se lembra, se alegre e se lamenta. E mesmo a nostalgia é um tipo de lamento. É pensar “como era bom aquele tempo”, o que pode implicar que o presente não é lá uma Brastemp.

As coisas vão mudar. Quando uma pessoa vai-se embora, pode não significar nada para 6 bilhões 547 milhões 678 mil 539 pessoas, mas pode ser importante para umas 50 pessoas, para 20. Ok ok, pra 5... ou pelo menos para mim. Sim, vai fazer falta. Vai criar nostalgia. Alguma coisa definitivamente muda. Muda em ti, muda em mim, muda na família, muda no ambiente. Muda nos cafés das sextas-feiras a tarde, nas madrugadas com filmes e ao lado do piano. O pessoal não vai mais falar da vida alheia da mesma maneira, vai faltar aquela indelicadeza sem pudores e sem noção que eram ótimas.
Saudade, dizem os patriotas, só existe em português. Besteira, gringos falam “I miss you” e vale a mesma coisa. Estando na Alemanha vai ser “sensucht”. Não se faz necessário um tradutor de pensamentos. O sentimento vai ser o mesmo. Eu pelo menos vou estar desse jeito e acredito que tu também. Tu entre um chucrute e outro, eu entre uma feijoada e outro. Ou vice-versa, milhares de kilômetros de distância não impedem que tu encontre uma Maria e um Zé da Silva com grãos de feijão, Guaraná Antártica e erva pro chimarrão. Quanto a mim, pelo menos chucrute em lata tem na São Leopoldo Fest.

Que posso desejar nesse momento além de uma boa estadia, bons papos em cafés estilosos com filósofos críticos de Frankfurt e com físicos judeus que gostam de bombas atômicas. Paciência com as criancinhas. Dê um abraço no Wim Wenders e no Werner Herzog se eles derem alguma aula na faculdade de cinema. Documente as coisas legais ao menos em lembranças de nitrato de prata nos rolos de super-8 de alguma câmera. Apresente pras pessoas os Mutantes, o Júpiter Maçã, Legião Urbana, Barão Vermelho, O Villa-Lobos, o Capitão Nascimento, o Zé Pequeno, o Jorge Furtado, o Caetano, o Vitor Ramil... ah claro, só não vai esquecer do Raul e do Teixeirinha, por favor!

Enfim, enfim. Lembranças, nostalgia e saudade são o que ficam. Muitas alegrias sem dúvida. Como conclusões de textos sempre soam repetitivas vou falar o que tu já sabe. Das poucas coisas boas que meu ensino médio me proporcionou foi a chance de te conhecer Gabriela Riffel. Pessoa ímpar de fato. Não, ímpar não, vamos deixar isso mais grandioso. Tu ta no nível de número primo pra mim. Se encontramos numa época que eu precisava encontrar alguém assim como tu é. Um número primo num mar de divisores e zeros à esquerda. Tu sempre foi muito mais. Tá, chega dessa matemática que já ta me dando náusea. Auf Wiedersehen.

sábado, 12 de setembro de 2009

A maçã podre que melhora com o tempo

Sabe porque eu gosto do Júpiter Maçã? Ele é Os Mutantes, os quatro Beatles e o Tom Jobim em um só.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Surfexplotation Street Gangsta

Mike Platoon só contemplava as ondas do alto do rochedo onde se encontrava, pensando no que deveria fazer. O mar pode ter lhe dado muitas alegrias, mas certamente não era um oráculo com respostas prontas. Naquele momento ele não lhe dizia absolutamente nada. Os sons dos vagalhões quebrando na costa eram um mantra e nada mais.
Big Kahuna não era um sujeito com o qual se poderia brincar em South Ashford Shore. E foi justamente com esse indivíduo que Mike foi mexer, ou melhor, com gente muito próxima dele.

Dias atrás, Mike estava na praia pegando umas ondas. Entre um tubo e outro, dava uma olhada nas “groupies” de praia. Dentre tantas havia uma de destaque. Em meio à gangue dos Beach Street Boys se encontrava a cabeleira curta e morena de Misirlou Wallace. Reconhecendo-a a distância, Mike lembrou-se daqueles olhos verde-claro que já o haviam encarado profundamente. A mulher era propriedade privada e só podia ser livre em meios privados, portanto Mike tratou de voltar a se concentrar nas ondas.

Logo chegou Edward Scissor, chamando Mike para uma reunião dos Kool Warriors na noite. Desde que era crinaça Mike manteve as mesmas amizades. Quando o surf começou a virar um hobby levado a sério no início dos anos 60, todos garotos desordeiros de South Ashford Shore que gostavam de surf tanto quanto brigas de rua tinham que formar gangues de praia. Foi nessa panela cultural que tanto Beach Street Boys quanto Kool Warriors foram formados.

À noite, a reunião ocorreu na casa de Cyrus, o líder dos Kool Warriros. Lá, ele explica que eles vão em uma festa que vai contar com a participação de outras gangues, inclusive os Beach Street Boys. A declaração gera confusão e Cyrus explica que a festa servirá principalmente como pacificação entre os dois grupos.

Na festa, Big Kahuna e seus patetas recebem Cyrus de braços abertos. “Só não vamos dividir mulher!” Kahuna proclama, selando a trégua com Cyrus. Enquanto todos se divertem e passam por cima das diferenças do passado, Mike nota que Misirlou só tem olhos pra ele. Aqueles olhos verde-claro. Big Kahuna infelizmente, anda grudada à ela juntamente com sua corja de supostos seguranças. Mike procura por Edward, o mais sóbrio do lugar.

- Preciso que tu embebede aqueles faggots, principalmente o Kahuna e sua segurança.

- Cara, isso vai dá merda. Sei que tu anda olhando demais pra aquele brotinho que anda com o Kahuna.

-Fica frio e me quebra esse galho.

Um tanto depois, conseguindo todo nível etílico na corrente sanguínea o suficiente pra Kahuna não lembrar o próprio nome, Mike consegue arrastar Misirlou para algum canto mais privativo da casa, mais especificamente no 2º andar num quarto ao lado do banheiro. Mike só encara novamente os olhos verde-claros e nem precisam trocar palavras. Partem de uma vez os “amassos”. Mal chegavam às preliminares e subitamente escutam gritos vindos do pátio com a piscina. Mike vai dar uma olhada pela persiana da janela e seus olhos arregalam-se instantaneamente. Os Beach Street Boys estão na beira da piscina. Era noite, mas a água da piscina estava escura demais. O corpo flutuante de Cyrus é o primeiro que Mike reconhece.

- Mataram todos meus amigos!

- Que?! – disse a supresa Misirlou


Lá de fora vem uma voz se propaganda como um trovão:


- Só falta aquele faggot que está com a minha vadia! Sai logo se junta à seus companheiros! –falou Big Kahuna

Nesse instante Misirlou sai correndo do quarto e chega até o pátio. Se abraça em Big Kahuna com uma feição de vítima e Big Kahuna só concorda.

“Edward tava certo não deveria ter me metido com uma vadia dessas”, pensou Mike. Encurralado do jeito que estava, procurou qualquer arma com a qual podia tentar de manter vivo ou pelo menos morrer tentando. A única coisa à vista era uma prancha dos Beach Street Boys. Pegou-a em mãos e sem mais o que fazer, Mike olhou pela janela do outro lado do quarto em direção à rua. Calculou a altura e não teve dúvida. A porta atrás dele foi arrombada e só restou para Mike tentar um pulo no escuro. Com o maior impulso que pôde, voou janela afora. A medida que o mar de concreto se aproximou, Mike agarrou a prancha como uma escudo medieval e se protegeu ridiculamente da queda.

Sem tempo pra recuperação, sai correndo e vai logo pra praia. Hesitando um momento sobre o que fazer, Mike lembra de uma prainha onde semi-deserta onde pode se esconder. O mar à noite era perigoso, mas entre encarar tubarões na água os tubarões do Kahuna em terra, Mike foi pela primeira opção. Rema sobre a prancha por cima do mar negro e sem contornos, pois a noite não tinha luar.

Chega sem problemas na pequena praia, encontra um rochedo e se senta ali pra pensar como se livrar dos Beach Street Boys. O mantra do mar não lhe responde, mas o acalma e o deixa pensar até o dia clarear. Na outra manhã, tomando coragem, Mike volta pra água com a prancha que o salvou da queda e começa a remar.

Big Kahuna não parou sua vigília em South Ashford Shore. Ele espera pacientemente no areia. Sabia que o último dos Kool Warriors iria aparecer mais cedo ou mais tarde. Os Beach Street Boys estão impacientes e Misirlou espera o desfecho da história sem remorso nenhum em seus olhos verde-claro. A expectativa de Big Kahuna se concretizou quando viu o contorno de um homem remando sobre uma prancha da sua gangue.

- Meus amigos, essa disputa vai ser na água. – anuncia Big Kahuna. Ele pega a sua prancha e mantém escondida uma adaga no bolso do seu calção.

Mike vê que Kahuna nada em sua direção e então começa a remar em direção à ponta da praia onde há os rochedos.

- Não fuja Warrior! – grita Kahuna - Vamos fazer isso de maneira justa. Em troca dos seus amigos mortos posso até lhe oferecer a minha vadia. Sei muito bem que ela me traiu contigo por vontade própria. Só quero acertar a paz entre nós.

Esperando o momento certo, Big Kahuna se atira sobre Mike quando uma onda está quebrando, fazendo parecer que a onda derrubou os dois. Embaixo d’água os dois começam a brigar, Big Kahuna tentando esfaquear Mike a todo custo. Misirlou e os Beach Street Boys só podem ver que os dois se demoram demais pra se recuperar da onda. De repente, uma mancha rubra começa a se misturar à água. O primeiro pensamento é o de um tubarão na água. Antes que alguém possa gritar por socorro, Mike surge na superfície. Nem sinal de Kahuna. Voltando pra praia, ele encara o resto da gangue e fala:

- Se vocês se apressarem podem conseguir pelo menos encontrar o corpo dele antes que o mar o leve.

Os Beach Street Boys hesitam em matar Mike para se atiram na água seguindo o conselho de Mike. Só Misirlou fica na areia.

- Perfeito! – exclama Misirlou - Agora que aquele idiota morreu, podemos ir embora daqui, querido.

Mike mostra as marcas que a adaga fizeram em seus braços e fala:

- Já fui mordido por tubarões demais por hoje.

Assim, se afasta da dissimulada de olhos verde-claro que ficou com uma expressão atônita e larga a prancha da gangue rival fincada na areia.

Fim