quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um americano misterioso





Muito sem querer ontem acabei assistindo um puta filme legal: Um Homem Misterioso (The American). Ele é recém lançado, mas não teve divulgação nenhuma até onde eu saiba, apesar de ter um nome como George Clooney envolvido. Pois bem, mas o filme tem um motivo de ser mais silencioso na mídia, porque ele tem aquilo que preconceituosamente podemos chamar de alma "européia". Esteriótipo ou não, se dá pra entender que é um filme com um assassino de aluguel e não tem um tiroteio numa média de 10 em 10 minutos e o protagonista é pouco falativo e deixa espaço pro público observar o comportamento dele e tentar entender o que se passa na cabeça dele, então vamos chamá-lo de filme europeu.

O roteiro foi tirado do livro A Very Private Gentleman, de Martin Booth. Direção do Anton Corbijn, que como cineasta é mais famoso como diretor do Control, longa em preto e branco que conta parte da história real do Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division. A bem dizer, esse foi o trabalho menos musical da vida do Corbijn, porque ele é o fotógrafo oficial de bandas como U2, Depeche Mode, entre outras grandonas. Control foi seu primeiro longa, mas ainda lidando com música. Pra nossa sorte, aqui ele lida com muita maestria com uma câmera tirando 24 fotos por segundo. E não cai na tentação de fazer um filme que só tem beleza estética e planos que não contam nada na estória nem auxiliam no clima do filme.

Sendo um fotógrafo, a direção de fotografia tem sim um destaque. Planos muito bons com contra-luz deixando silhuetas marcados, como é o caso do plano dos créditos inicias. Nele, o protagonista dirigindo dentro de um túnel, está tão sombreado que as letras brancas dos créditos são aplicadas sobre o protagonista ao invés de estarem voando no cenário. O ambiente em si é lindo pra fotografia. Temos um cenário com neve e também um vilarejo das antigas no interior da Itália, cheio de vielas que sobem e descem, se entrecruzando. Luzes de diferentes cores vindo de vielas do vilarejo onde se passa a estória se integram com naturalidade.

Os enquadramentos dão muito informação, até na disposição dos focos de atenção que se tem a intenção do público prestar a atenção. Coisas como uma placa no canto da tela que indica onde o protagonista está, e logo abaixo da placa, quase do mesmo tamanho, o espelhinho retrovisor do carro do protagonista, mostrando parte do seu rosto. Detalhes, detalhes que fazem a diferença. A ação também se integra bem com movimentos de câmera sutil, como um travelling da ponta de uma cama, que de início só mostra os pés do protagonista, o travelling começa a ir pra trás, até revelar a mão do protagonista, que segura um livro, e no que percebemos o livro, ele deixa-o cair no chão, toma um susto e se levanta alarmado. O movimento da câmera flui muito bem com a ação proposta.

Tenho que dar destaque para outro elemento, esse sim que me causou surpresa no uso preciso e bem planejado: o som. A música pontua poucos momentos do filme, somente quando se faz necessário pra enfatizar a paranóia do protagonista ou algum momento em que ele se concentra em uma atividade. De resto, o clima do filme se dá bastante pelo som ambiente, no volume certo, é as poucas falas do protagonista. Sem excessos, cria-se um clima pra entrar na tensão do protagonista que não consegue relaxar nunca. O melhor e a edição de som, que inserindo barulhinhos abruptos no meio da calmaria quase constante dos ambientes, criam muita tensão. Junto com a montagem, se integram muito bem pra fazer os cortes de uma cena pra outra, como é o caso de um plano que termina com um trêm meio ao longe e desfocado e começamos a ouvir o que parece ser um apito de trêm. Quando corta a cena, o "apito" não sumiu, e vemos que ele é parte de uma música em um filme que está passando em um café da cidade (no caso, está passando Era Uma Vez no Oeste {quase gozei, óbvio}). Novamente, atenção aos detalhes e sutilezas. Ah, pra nós brazucas, rola até um "Panamericano" uma hora, na versão original, é claro.

A trama se desenvolve muito bem e aos poucos. Não quero entregar nada, como perceberam pelo meu texto, fora o fato de o personagem ser sério e silencioso e paranóico com alguma coisa. Ao final, algumas escolhas de enquadramento poderiam ser melhores, ou ter um melhor jeito de revelar o último grande fator na estória, que define o final nada feliz. Porém, até mesmo nessa parte, sempre boas escolhas e atenção à vários elementos fazem esse filme ter uma riqueza, profundidade e "artesania" que eu não esperava.


Ok, agora já posso voltar a um filme com mais explosões, tipo Homem de Ferro.

http://www.youtube.com/watch?v=4ywmoXZwkA0

Um comentário:

  1. Vi no mesmo dia que você e concordo com tudo que disse!

    O filme deixa um pouco a desejar na estória, mas as belas cenas acabam ajudando com a trama.

    Belas mulheres, cenários fora do comum, um filme show de bola para checar!

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