sábado, 9 de janeiro de 2010

Admirável Mundo Novo




Confesso que estava indo mais por curioso pela tecnologia e por todo fenômeno cultural envolvendo esse Titanic de 2009. E sabe do que mais? A espera valeu a pena. Tecnologia como nunca se viu antes. O CGI, motion capture e óculos 3D fazem a festa. O mundo de Avatar é um mergulho impressionante.

Aspecto interessante do uso dos tão comentados kilos de efeitos especiais do filme é que eles são aplicados mais no estilo que efeitos especiais digitais e tradicionais foram usados n'O Senhor dos Anéis, por exemplo. Eles não estão em cena somente nos momentos de explosões, naves voando ou câmera lenta bullet time. Eles realmente estão em quase todo filme, ajudando a construir todo um universo fantasioso espetacular e de maneira que ajuda a contar a história. Não é somente preciosismo estético.
A mistura de atores reais com arte digital nunca foi tão bem executada. E não é pura balaca, valeu a pena.
Os alienígenas Na'vi podem ser azuis mas parecem gente de verdade graças a boas atuações do elenco. A veterana Sigourney Weaver, que já foi dirigida por James Cameron no filme Aliens, está muito boa como um cientista carrancuda e fumante. Já os "novatos" pouco conhecidos até hoje Sam Worthington e Zoe Saldana entregam boas interpretações. Sam faz Jake Sully, um personagem à princípio idiota porém vai trabalhando para conquistar o público. Sua narração sombria em off ficou ótima também. Já Zoe entrega uma Na'vi bem convincente com seu sotaque e língua inventada. A língua dos Na'vi aliás não é só uma aglomeração de palavras sem sentido. Ela foi criada especialmente para o filme seguindo padrões linguísticos.

Haviam comentários negativos quanto ao roteiro do filme. James Cameron sacrificou narrativa e originalidade em detrimento dos efeitos especiais. Depois de conferir o filme, digo que isso é tudo exagero da crítica intelectualóide (principalmente aqueles que idolatram "mestres" como Glauber Rocha). Como já falei, ele realmente é um amontoado de outras histórias conhecidas. Os arcos dramáticos são manjados. E não por isso o filme torna-se cansativo ou clichezão. As situações são suficientemente bem apresentadas para se tornarem críveis.
Talvez a composição da trilha sonora feita pelo James Horner poderia ser mais suave, menos estratosféricamente estourada. Momentos muito exagerados com linhas musicais bem manjadas. Preferiria um Howard Shore(oh O Senhor dos Anéis aí de novo). Por outro lado, há uma parte muito boa da trilha quando se dá enfoque à cultura indígena dos nativos.

Pocahontas, Matrix, mito da conquista do Velho Oeste, Vietnam, cultura indígena norte-americana e até o Hinduísmo. Vale tudo para compor o mundo de Avatar. E tudo embrulhado de jeito que essa geração Y da internet e dos videogames quer ver. E nisso ele acertou muito.

Há interessantes pontos de discussão de ideologias nessa obra. Além de fazer justiça para povos invadidos(índios americanos, Afeganistão, Iraque, assentamentos judeus na Faixa de Gaza, etc) há todo tipo de pitaco à política atual. Um personagem bem militar cita a Venezuela como "aquilo foi um inferno". Há o minério que os seres humanos buscam em Pandora, uma alusão ao petróleo do Oriente Médio. E até um discurso bushiano de "combater o terror com terror".
Aqui o homem branco "civilizador" é o vilão. Ganancioso, coloca a riqueza acima de vidas de outros seres, acima da Natureza e da tão falada hoje em dia sustentabilidade. "Viemos de um planeta onde não há mais verde". Os nativos Na'vi são a imagem do mito do bom selvagem em geral. Confesso que pode soar óbvio e moralizador(até moral falsa), mas achei convincente o suficiente. É bastante a cara dessa geração e quem sabe sirva de base ideológica para muitas crianças que forem ver a versão dublada. Alguém aqui se esquece quantos paleontólogos-mirins foram gerados por um certo filme também blockbuster e também cheio de efeitos especiais? Pois é, esse era Jurassic Park, que povoa a cultura popular até hoje de maneiro forte.

Um paradoxo que achei relevante foi que para mostrar um mundo tão repleto de natureza e sendo à favor da atual onda verde da ecologia, foi necessário tanta computação e artificialidade. No mínimo curioso. É o jeito mais moderno de buscar aquele refúgio das grandes cidades de concreto. E colocando um óculos 3D.

Certamente Avatar é o substituto de Rei Leão, Bela & A Fera e tantos outros desenhos marcantes da Dysney, se antenando com essas novas gerações de espectadores. No mínimo acho lindo ver um cinema apinhado de gente empolgada e que não soltou um pio durante o filme, diferente de quase todos outras sessões de cinema que tenho presenciado nesses últimos anos.
Mostra a cara do novo cinema. O cinema do século XXI. O filme da virada da primeira década dos anos 2000. Quiçá, é o filme da década. Vale muito por todo impacto cultural que está causando nesse momento e que será passado para as próximas gerações. Um divisor de águas.

Ooohps, James Cameron did it again!

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