quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Acendam as novas luzes




A escolha foi certa e justa. Se tu fosse o diretor de uma mini-série nos anos 80 e de repente, já nos anos 10 do século 2000, alguém decidisse reviver o defunto e fazer um filme com esse material? No mínimo tu irias querer acompanhar a tal produção, ler o roteiro, ver o que mudaram ou não pra melhor adaptar a história ao formato (filme 120min) e ao tempo presente da nova produção. E se fizessem melhor? Se não te jogassem pra escanteio e te deixassem ser algo mais do que um mero assessor? Que tal se te deixassem dirigir a nova versão pra telona? Pois é, foi o caso de "O Fim da Escuridão" (Edge of Darkness), originalmente dirigido por Martin Campbell pra tv britânica e saída da mente de Troy Kennedy Martin (roteirista do Italian Job original, de 1969).

O resultado foi extremamente bem sucedido. A direção tem um ritmo próprio que cria uma atmosfera constante de insegurança e certa paranóia. O melhor de tudo é a utilização mínima de música para criar tal atmosfera. Direção, fotografia e atuações que fazem parecer que há uma constante cara de amargura na cara dos personagens. Mel gibson volta à frente das câmeras como um pai amável com sua filha e implacavelmente forte e completa seriedade e amargura no trabalho (fora uns comentários cômicos que acabam ainda mais engraçados pela falta de emoção com o qual são entoados).

Todo mundo que procurar uma sinopse do filme já vai descobrir uma das maiores surpresas, pra não dizer cagaço, do roteiro. A direção nos mostra a coisa todo só no segundo que ela realmente acontece. Não há dicas no roteiro. São momentos repentinos, que tornaram minha agonia na cadeira algo muito mais impactante. E depois do coque de impacto, ficamos ainda impactados com a crueza de tais cenas e seus resultados. Realismo afudê.

Não vou contar nada mesmo. Foi um dos raros filme que eu vi acompanhado nosso cinema e das 4 pessoas, só eu sabia de certos elementos(inclusive o fato de ser baseado numa mini-série). Para o resto do pessoal foi completa surpresa. Valeu a pena não falar nada.

Num rápido comparativo de roteiros (sem spoilers), houve uma preocupação em modernizar certos assuntos. Achei interessante, mesmo que o evento principal seja essencialmente o mesmo. Tenho que ver toda a mini-série pra sentir se o clima da época deixava um marca mais forte e diferente do que nessa versão 2010.

Vou dar destaque especial para a beleza e mimosidade da filha do protagonista (tanto a versão infantil feita por Gabrielle Popa como a versão adulta feita pela Bojana Novakovic), para a secura do Mel Gibson como o detetive Thomas Craven e ao roubador de cena e ironia-master, Ray Winstone, no papel de Jedburgh, um agente sem lado certo cheio de frases engraçadas ou de efeito e com um sotaque britânico que exalta ainda mais as suas idiossincrasias.

Remakes valem pra muita coisa. Falta de originalidade? É sim, comodismo inclusive. Só que, como um bastardo feito eu, no século XXI com toda sua efervescência de geração Y e high tech todo a hora iria parar pra encontrar uma mini-série britânica? Confesso que acabei vendo o filme sem querer. Adivinha por quê? Porque eu ouvi falar do filme e por sua vez ouvi falar da mini-série original. E consegui a mini-série original. Pretendia nem ver a versão em filme, partir logo pro mais elaborado (pelo menos em termos de duração). No fim foi bom dar um pontapé inicial pelo filme. Passei pelas adaptações para o nosso tempo e como um bom livro, vou expandir para uma obra maior e mais completa. E com britânicos.

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