domingo, 2 de maio de 2010

Ferro reforçado







Se eu definiria Alice no País das Maravilhas como uma bela bosta (um filme de merda que é embelezado à ponto de ser posto na prateleira como algo atraente), eu defino Homem de Ferro 2 como um blockbuster tão afudê que consegue colocar robôs lutando no corpo-à-corpo e com armas de fogo num cenário com bambus, roda d'água e pétalas de cerejeira voando ao vento. Poético? Por favor, não. É um bela homenagem otaku/nerd/cinéfila e como disse, é muito massa.

Essa continuação é melhor que o primeiro Homem de Ferro. Se o primeiro era um filme-pipoca com as virtudes de ser um filme de super-herói não querer se levar à sério e ter um roteiro ótimo para a composição dos personagens principais que eram muito bem interpretados, esse segundo filme tem personagens ainda mais bem construídos e uma trama bem bolada pra justificar uma cena como aquela descrita no primeiro parágrafo.
Os problemas do primeiro filme eram essencialmente no desenvolver do seu roteiro. O seu início era ótimo (já ao som de AC/DC) e muito bem adaptado para a contemporaneidade, só que o resto da história acabava enchendo linguiça e deixava de ter o mínimo de conteúdo interessante o suficiente pra prender o público nas suas cadeiras. A reviravolta era apresentada meio cedo demais e além disso, o vilão era muito fraquinho.

Aqui nós temos vilões à altura. E o mais legal é que eles não se enquadram só como os super-vilões. Sam Rockwell faz um empresário bem pé no saco e funcional. E claro, temos o já ressuscitado-do-necrotério-de Hollywood, Mickey Rourke, que fala até em russo e fica com um palito de dentes de caminhoneiro e a maravilhosa com jeitinho de vadia contida, Scarlett Johansson. Eles aparecem até menos do que eu imaginava, mas isso não foi um defeito.
O roteirista do Trovão Tropical, Justin Theroux, entrega uma história muito bacana e com os diálogos maravilhosos de Tony Stark. Como o Stan Lee queria fazer quando criou a HQ, ele nos faz gostar de um herói que tá mais pra anti-herói. O narcisismo do personagem gera momentos muito arriados. A decisão de deixar um roteirista fazer todo o trabalho funcionou melhor do que o trabalho à 8 mãos do roteiro do 1º filme.

Pra quem gosta de analisar roteiro um pouco mais a fundo, ele tem alguns defeitos. Mal se falava na unidade especial S.H.I.E.LD. e no pai do Tony Stark no 1º filme, e aqui ambos tem peso na história e na resolução de uns problemas que o Homem de Ferro encara. Erro, mas nada comprometedor.

Falar do Robert Downey Jr é meio redundante. O papel foi feito pra ele. A Gwyneth Paltrow segue fazendo uma Pepper Potts muito massa. Junto com o Tony Stark, ela era a melhor personagem no 1º filme e continua firme. O Don Cheadle substitui o Terrence Howard com competência. E a participação do Samuel L. Jacksson vale a pena.

A música é uma bela pauleira com AC/DC e The Clash muito bem usados. E a música composta teve ajuda do Tom Morello, guitarrista do Audioslave e Rage Against the Machine. Não tem erro.

Jon Fraveau tem uma direção precisa em todos os momentos e pôde explorar mais nessa continuação. Diferente de um Michael Bay, ele sabe aproveitar os (muito perfeitos) efeitos especiais. Ah, e sem 3-D falso.

Vamos a análise sociológica do filme. Ele quer dizer alguma coisa? Na real, fiquei confuso. No fim das contas não ficou claro se eles apoiam o militarismo privado ou estatal, porque todos lados fazem cagada. Como o protagonista é um felizardo sonhador americano de sucesso, acaba havendo uma defesa da propriedade privada. Além dessas questões mais dúbias, uma coisa fica clara. Homem de Ferro trabalha para e pelos americanos acima dos outros. E ele é a nova bomba nuclear que deve estar do lado dos justos e bravos, impedindo que as ameaças em potencial ataquem os EUA com medo de uma retaliação muito pior.
A retórica de paz mundial através da barganha e competição militar funcionaram de forma falhada durante a Guerra Fria toda, não há porque acreditar nela agora. Tony Stark tem um sorriso encantador, mas ele mesmo acaba falhando na sua ideia. O tal desenvolvimento tecnologico milagroso que vai salvar o mundo acaba fazendo mais armas que "tijolos para hospitais"(fala do 1º filme).

No fim das contas, é óbvio que um blockbuster americano com uma história que respinga no militarismo e política vai deixar a vista a ideologia do status-quo, etc. A questão é que, como eu falei antes, é um filme que não se leva muito a sério e por isso mesmo que é legal. Esqueça um pouco do mal que Jack Bauer e seus asseclas podem estar causando ao mundo e relaxe. Eu não diria que é um filme de ação, é um filme de aventura, como todo bom super-herói deveria ser (menos os Batmans recentes). Enquanto que Homens-Aranha e X-Men tentam ter um certo nível de seriedade e eventos épicos e acabam descambando, Iron Man só melhora.

Ah, e pra quem manja um pouco de personagens de quadrinhos, a cena depois dos créditos vale a pena. Um cliffhanger, como os gringos chamam, um gancho muito bom para um dos próximos filmes da Marvel Productions. Aliás, a decisão da Marvel fazer as suas adaptações de seus quadrinhos me parece até o momento ótima. Se mantiverem a qualidade e o espírito dos Homens de Ferro, que venham mais uns quantos.

Um comentário:

  1. ainda tenho que assistir esse. vou prestar atenção nos pontos que vc fala! e na boa, Don Cheadle é sempre melhor que o Terrence Howard. ;)

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