Mostrando postagens com marcador Tim Burton. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tim Burton. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O fundo da toca do coelho pode ser bem raso




Vou finalmente falar do que achei do hypeado Alice in Wonderland.

Em 1º lugar, a música composta pelo Danny Elfman me encomodou muito! E eu não achei que isso fosse possível, pois gosto muito dos trabalhos dele.
Quando eu vou assistir um filme, eu pago pra ver um filme e não uma orquestra tocando por duas horas incessantemente. O fator Disney certamente influenciou muito nisso, já que eles tem uma maneira tão peculiar de compor trilha sonora pros seus filmes que até ganharam a honra de serem citados no nome de um "sub-gênero" de trilha sonora: o "mickey mousing". Essa designação e estilo de composição é até anteriora aos desenhos Disney, datando das composições do Max Steiner por volta da década de 30, se não me engano. Assistam ao 1º King Kong que vocês vão entender do que estou falando. Enfim, é um tipo de trilha sonora que me encomoda muito, cheio de clichês, exageros e pontuando todas ações e movimentos dos personagens. Pra mim, satura os tímpanos.

2º, a arte visual. Como qualquer filme do Tim Burton, há um extremo cuidado com a direção de arte, maquiagem, figurino, fotografia. Só que esse filme é puro chroma key e CGI. Não curti muito o resultado, ainda mais quando na mesma cena ou no mesmo plano temos pessoas reais interagindo com criaturas computadorizadas que são caricaturizadas ao invés de serem uma computadorização realista. Fica meio estranho, mas não chega a ser lamentável. Já a maquiagem e os figurinos excêntricos são muito bons e dão uma cara bem única ao filme.
Ah, as cartas ficaram com um visual novo horrível.

3º, o 3-D. O filme realmente não foi pensado pra 3-D. Eu fui assistir com os óculos na cara pra comprovar isso. Profundidade é bacana, mas tem planos em que os movimentos de câmera e os objetos próximos a câmera ficam muito feios. É só ver como um plano que tem uma grama alta na frente polui muito a visão da ação que acontece nesse plano. Assistam em 2-D por favor, economiza dinheiro e os olhos.

4º lugar, o roteiro. Mais uma vez o fator Disney atrapalha bastante. Não posso fazer uma comparação com os livros ou com outras adaptações de Alice, mas ao que tudo indica, esse filme realmente deturpa certos aspectos do livro.
Eu geralmente detesto quando falam que "Ai, mas o livro é sempre melhor" porque essas pessoas não estão analizando o filme dentro do aspecto de que ele é um filme e não um livro. Cada mídia tem suas peculiaridades e deveriam ser avaliados dentro do seu campo artístico. Dito isso, vou comparar o roteiro do filme com outros filmes e não com o livro. Quem quer saber as diferenças do livro para o filme não só nos personagens e acontecimentos, mas nos seus significados, leiam a matéria da penúltima Veja (a que tem o careca mais lindo do Brasil, José Serra).
O roteiro até não é tão infantil-Disney quanto eu esperava porque ele usa muitas vezes diálogos bizarros e non-sense, que pra quem entende inglês ficam ainda melhores. Trocadilhos e rimas se fazem presente e são bem bacanas. E isso funciona bem porque o público-alvo tá mais para adolescentes e jovens do que crianças, até porque essa Alice tem 19 anos e não 10. O tema mais recorrente do filme é o esforço para se fazer as próprias escolhas na vida e o rompimento com a ordem/tirania que é vigente desde antes de nascermos, seja vindo da uma mãe aristocrata certinha e cheia de modos de etiqueta ou vindo de uma rainha absolutista com um cabeção. Tudo se encaixa muito com a juventude e seus conflitos com os mais velhos. Pena que de resto o roteiro seja bem infantil. O dualismo entre o que é 100% bom e o 100% mal é clichê, rasteiro e chato pra cacete. Acho que a Disney ficou confusa de qual era o seu público-alvo e acabou fazendo um meio-a-meio péssimo.

5º lugar: as atuações. O "britanês" da protagonista Mia Wasikowska, a doideira e cuspição do Johnny Depp, os xiliques da Helena Bonham Carter e as dublagens das criaturas (em especial a lagarta fumadora de narguilé dublada pelo Alan Rickman, o Snape dos filmes do Harry Potter, e o Gato Sorridente feito pelo Stephen Fry, narrador do Guia dos Mochileiros das Galáxias) são fodas. A Anne Hathaway é a única que caga na pica, fazendo uma Rainha Branca totalmente sem sal e inútil pra trama.


Pra finalizar, entre coisas bem bacanas e coisas muito ruins é um filme médio. Se eu tivesse tomado um chá de cogumelo antes, talvez o roteiro e a música não teriam me encomodado tanto. Mas o grande lance é que apesar de não sair muito satisfeito da sala de cinema, fiquei muito afim de de ver as outras adaptações do livro e finalmente ler os livros. Já é um bom serviço prestado. Recomendo a todos que assistam pra ter sua opinião.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Salvou quem?




Estética pós-apocalíptica, um pouco de steampunk(tecnológico e retrô ao mesmo tempo) e goticismo dignos de uma produção do Tim Burton. Toques à Segunda Guerra, governos totalitários tanto nazistas quanto comunistas. Isso é um pouco da viajem estética para quem assistir "9". Com o subtítulo no Brasil de "A Salvação", posso dizer que a direção de arte e os criadores do visual 3D são o que fazem a salvação desse filme. De início parece que vai ser um Wall-E mais sujo, adulto e sombrio. Depois se conclui que realmente Wall-E continua sem comparativos.
O que ocorre é que o grande trunfo artístico das imagens e design de cenários e personagens gera uma espécie de narcisismo, já que o desenvolvimento do roteiro deixa a desejar. Personagens simplistas e cartunescos, situações forçadas e muito "prontas" e enfrentamentos sem grande criatividade, a não ser na aparência das máquinas maléficas.

Algumas referências bacanas ficam por conta da arquitetura gótica da igreja e da mansão. As trincheiras com arames farpados abandonados lembram muito a Europa arrasada pós-Segunda Guerra. Há a Máquina, uma mistura de HAL do "2001 - Uma Odisséia no Espaço" com a aranha mecânica do filme "As Loucas Aventuras de James West". Também há uma cena que uma vitrola toca "Somewhere Over the Rainbow", para os maiores fãs de "Mágico de Oz" e outra cena que mimetiza o mito grego do balseiro do Rio do Tártaro. Um paradoxo interessante é que os robôs protagonistas são a única coisa que restou da humanidade. Para sinalizar isso melhor, eles são mais orgânicos, aprecendo mais bonecos de pano voodo do que feitos de engrenagens. No final, uma simulação de como seria o (re)começo da vida na Terra, até interessante. Enfim, pelo menos pude me distrair com esses elementos além dos belos visuais.

O filme sofre principalmente no quesito de qual público alvo enfocar. Um desenho animado para crianças? Não, muito sombrio, muitas cenas de tensão. Animação adulta então? Também não parece, com aqueles personagens tão clichês e bobos como um velho carrancudo e conservador, o mocinho que quer fazer do impossível o possível, um troglodita burrão...
Na teoria, uma ambiguidade dessas eu nunca consideraria um aspecto negativo. Soaria mais como um aspecto diferente e inovador. Na prática foi outra história. Fica aquele gosto de chocolate amargo na boca.