domingo, 6 de dezembro de 2009

Abrazos gratis!




Qual a certeza ao se preparar pra ver una película de Pedro Almodóvar além de que contaremos com a lindíssima/perfeita Penélope Cruz, a trilha à moda antiga do Alberto Iglesias, o preciosismo TOC da fotografia e da direção de arte e algum personagem tão estranho que é impossível delimitá-lo em alguma classificação sexual do mundo contemporâneo? Bom, a certeza que existe é de se assistir um filme com história muito boa. E foi o caso nesse "Los Abrazos Rotos" (amo esse título original, por isso usar-o-ei no resto do artigo).

Vamos primeiramente aos problemas. Há momentos meio soltos que me pareceram sem pulso o suficiente por parte do roteiro e da direção do Almodóvar. Ao fim do filme se somam alguns minutos dessa sensação.
Ou talvez esse efeito foi consequência do casal atrás de mim que não entendeu que em cinema no máximo se fazem pequenos comentários sobre o que rola na tela, não um diálogo com réplica e tréplica. Esses seres humanos só não me irritam mais que playboys, nazistas ou políticos (vê-se logo que Adolph Hitler não é uma figura pela qual tenho apreço, ele quase era essas três classes em um mesmo ser humano, que horror).

Essa falta de pulso atrapalha a imersão na história principalmente na sua introdução. Desde a apresentação em off do protagonista e uma cena foda(digamos, literalmente) seguindo-a até o primeiro ponto de virada no filme, não se passa na pantalla grande nada de muito interessante. Um pouco enrolado e sem propósito. Esse é um dos casos que eu sinto vergonha e medo alheio por todo a equipe de um filme, pois sou dos que acreditam que são nos 10 minutos iniciais de um filme que se faz o público gostar das 2hrs seguintes. Aguentando no tranco esses trancadinhos, o resto desce leve feito água ou vodka. Como água é insossa, prefiro aplicar a metáfora da vodka, porque também dá a entender que o filme dá algum efeito enibriante depois que tudo desce ao estômago. E é exatamente isso que Abrazos Rotos causa.

Além das belezas naturais e artificiais da Penélope Cruz e da direção de arte com seus objetos e cenários azul/vermelho, o roteiro tem sua beleza e criatividade igualmente. O personagem "duplo" do Lluís Homar é mostrado ao longo do filme de maneira não escancarada, o que foi muito bem bolado. E quando as coisas realmente começam a rolar na pantalla grande elas são muito fodas. As tramas do passado e presente começam a fechar e os acontecimentos são uns melhores que os outros. Momentos bacanas, momentos pesadamente dramáticos, momentos cômicos. Tá tudo ali, com complexidade e desenvolvimento muito bons, tudo embalado num clima levemente cinema noir/adultério e detetives que deixa tudo interessante. Outra leve crítica é que justamente por se inspirar no noir, há aqueles momentos de narração em off ou contação de causos que poderiam ter sido dramatizados ou invés de descritos verbalmente.
E ainda tem a metalinguagem, como no caso de um filme dentro de filme e um personagem cego soltando um "é preciso terminar o filme mesmo que às escuras". Foda.

Enfim, não cheguei a sentir aquele gozo de "puta, que obra-prima!!!". O que não quer dizer nada, porque isso naturalmente está limitado à poucos, até porque se não fosse assim, qual a graça? E além disso, já soltei essa frase em outra película do Sr. Almodóvar. E olha que "Habla con Ella" nem tem minha paixonite, Penélope.
Esse filme tem tudo que vale a pena pra um filme ter. Boa história. E isso me faz largar um "puta filme legal!!!"

2 comentários:

  1. To gostando cada vez mais desse teu blog. Esse humor sutil é ótimo e o jeito que tu instiga a curiosidade quando conta-não-conta algumas cenas que te chamaram a atenção, só faz crescer a vontade de conferir com meus próprios olhos.

    Inclusive o filme do último post (500 dias de insolação) já entrou pra minha lista de "quero-ver-assim-que-tiver-ânimo-pra-passar-na-locadora".

    Parabéns pelo blog! Abração!

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