domingo, 2 de maio de 2010

Ferro reforçado







Se eu definiria Alice no País das Maravilhas como uma bela bosta (um filme de merda que é embelezado à ponto de ser posto na prateleira como algo atraente), eu defino Homem de Ferro 2 como um blockbuster tão afudê que consegue colocar robôs lutando no corpo-à-corpo e com armas de fogo num cenário com bambus, roda d'água e pétalas de cerejeira voando ao vento. Poético? Por favor, não. É um bela homenagem otaku/nerd/cinéfila e como disse, é muito massa.

Essa continuação é melhor que o primeiro Homem de Ferro. Se o primeiro era um filme-pipoca com as virtudes de ser um filme de super-herói não querer se levar à sério e ter um roteiro ótimo para a composição dos personagens principais que eram muito bem interpretados, esse segundo filme tem personagens ainda mais bem construídos e uma trama bem bolada pra justificar uma cena como aquela descrita no primeiro parágrafo.
Os problemas do primeiro filme eram essencialmente no desenvolver do seu roteiro. O seu início era ótimo (já ao som de AC/DC) e muito bem adaptado para a contemporaneidade, só que o resto da história acabava enchendo linguiça e deixava de ter o mínimo de conteúdo interessante o suficiente pra prender o público nas suas cadeiras. A reviravolta era apresentada meio cedo demais e além disso, o vilão era muito fraquinho.

Aqui nós temos vilões à altura. E o mais legal é que eles não se enquadram só como os super-vilões. Sam Rockwell faz um empresário bem pé no saco e funcional. E claro, temos o já ressuscitado-do-necrotério-de Hollywood, Mickey Rourke, que fala até em russo e fica com um palito de dentes de caminhoneiro e a maravilhosa com jeitinho de vadia contida, Scarlett Johansson. Eles aparecem até menos do que eu imaginava, mas isso não foi um defeito.
O roteirista do Trovão Tropical, Justin Theroux, entrega uma história muito bacana e com os diálogos maravilhosos de Tony Stark. Como o Stan Lee queria fazer quando criou a HQ, ele nos faz gostar de um herói que tá mais pra anti-herói. O narcisismo do personagem gera momentos muito arriados. A decisão de deixar um roteirista fazer todo o trabalho funcionou melhor do que o trabalho à 8 mãos do roteiro do 1º filme.

Pra quem gosta de analisar roteiro um pouco mais a fundo, ele tem alguns defeitos. Mal se falava na unidade especial S.H.I.E.LD. e no pai do Tony Stark no 1º filme, e aqui ambos tem peso na história e na resolução de uns problemas que o Homem de Ferro encara. Erro, mas nada comprometedor.

Falar do Robert Downey Jr é meio redundante. O papel foi feito pra ele. A Gwyneth Paltrow segue fazendo uma Pepper Potts muito massa. Junto com o Tony Stark, ela era a melhor personagem no 1º filme e continua firme. O Don Cheadle substitui o Terrence Howard com competência. E a participação do Samuel L. Jacksson vale a pena.

A música é uma bela pauleira com AC/DC e The Clash muito bem usados. E a música composta teve ajuda do Tom Morello, guitarrista do Audioslave e Rage Against the Machine. Não tem erro.

Jon Fraveau tem uma direção precisa em todos os momentos e pôde explorar mais nessa continuação. Diferente de um Michael Bay, ele sabe aproveitar os (muito perfeitos) efeitos especiais. Ah, e sem 3-D falso.

Vamos a análise sociológica do filme. Ele quer dizer alguma coisa? Na real, fiquei confuso. No fim das contas não ficou claro se eles apoiam o militarismo privado ou estatal, porque todos lados fazem cagada. Como o protagonista é um felizardo sonhador americano de sucesso, acaba havendo uma defesa da propriedade privada. Além dessas questões mais dúbias, uma coisa fica clara. Homem de Ferro trabalha para e pelos americanos acima dos outros. E ele é a nova bomba nuclear que deve estar do lado dos justos e bravos, impedindo que as ameaças em potencial ataquem os EUA com medo de uma retaliação muito pior.
A retórica de paz mundial através da barganha e competição militar funcionaram de forma falhada durante a Guerra Fria toda, não há porque acreditar nela agora. Tony Stark tem um sorriso encantador, mas ele mesmo acaba falhando na sua ideia. O tal desenvolvimento tecnologico milagroso que vai salvar o mundo acaba fazendo mais armas que "tijolos para hospitais"(fala do 1º filme).

No fim das contas, é óbvio que um blockbuster americano com uma história que respinga no militarismo e política vai deixar a vista a ideologia do status-quo, etc. A questão é que, como eu falei antes, é um filme que não se leva muito a sério e por isso mesmo que é legal. Esqueça um pouco do mal que Jack Bauer e seus asseclas podem estar causando ao mundo e relaxe. Eu não diria que é um filme de ação, é um filme de aventura, como todo bom super-herói deveria ser (menos os Batmans recentes). Enquanto que Homens-Aranha e X-Men tentam ter um certo nível de seriedade e eventos épicos e acabam descambando, Iron Man só melhora.

Ah, e pra quem manja um pouco de personagens de quadrinhos, a cena depois dos créditos vale a pena. Um cliffhanger, como os gringos chamam, um gancho muito bom para um dos próximos filmes da Marvel Productions. Aliás, a decisão da Marvel fazer as suas adaptações de seus quadrinhos me parece até o momento ótima. Se mantiverem a qualidade e o espírito dos Homens de Ferro, que venham mais uns quantos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O fundo da toca do coelho pode ser bem raso




Vou finalmente falar do que achei do hypeado Alice in Wonderland.

Em 1º lugar, a música composta pelo Danny Elfman me encomodou muito! E eu não achei que isso fosse possível, pois gosto muito dos trabalhos dele.
Quando eu vou assistir um filme, eu pago pra ver um filme e não uma orquestra tocando por duas horas incessantemente. O fator Disney certamente influenciou muito nisso, já que eles tem uma maneira tão peculiar de compor trilha sonora pros seus filmes que até ganharam a honra de serem citados no nome de um "sub-gênero" de trilha sonora: o "mickey mousing". Essa designação e estilo de composição é até anteriora aos desenhos Disney, datando das composições do Max Steiner por volta da década de 30, se não me engano. Assistam ao 1º King Kong que vocês vão entender do que estou falando. Enfim, é um tipo de trilha sonora que me encomoda muito, cheio de clichês, exageros e pontuando todas ações e movimentos dos personagens. Pra mim, satura os tímpanos.

2º, a arte visual. Como qualquer filme do Tim Burton, há um extremo cuidado com a direção de arte, maquiagem, figurino, fotografia. Só que esse filme é puro chroma key e CGI. Não curti muito o resultado, ainda mais quando na mesma cena ou no mesmo plano temos pessoas reais interagindo com criaturas computadorizadas que são caricaturizadas ao invés de serem uma computadorização realista. Fica meio estranho, mas não chega a ser lamentável. Já a maquiagem e os figurinos excêntricos são muito bons e dão uma cara bem única ao filme.
Ah, as cartas ficaram com um visual novo horrível.

3º, o 3-D. O filme realmente não foi pensado pra 3-D. Eu fui assistir com os óculos na cara pra comprovar isso. Profundidade é bacana, mas tem planos em que os movimentos de câmera e os objetos próximos a câmera ficam muito feios. É só ver como um plano que tem uma grama alta na frente polui muito a visão da ação que acontece nesse plano. Assistam em 2-D por favor, economiza dinheiro e os olhos.

4º lugar, o roteiro. Mais uma vez o fator Disney atrapalha bastante. Não posso fazer uma comparação com os livros ou com outras adaptações de Alice, mas ao que tudo indica, esse filme realmente deturpa certos aspectos do livro.
Eu geralmente detesto quando falam que "Ai, mas o livro é sempre melhor" porque essas pessoas não estão analizando o filme dentro do aspecto de que ele é um filme e não um livro. Cada mídia tem suas peculiaridades e deveriam ser avaliados dentro do seu campo artístico. Dito isso, vou comparar o roteiro do filme com outros filmes e não com o livro. Quem quer saber as diferenças do livro para o filme não só nos personagens e acontecimentos, mas nos seus significados, leiam a matéria da penúltima Veja (a que tem o careca mais lindo do Brasil, José Serra).
O roteiro até não é tão infantil-Disney quanto eu esperava porque ele usa muitas vezes diálogos bizarros e non-sense, que pra quem entende inglês ficam ainda melhores. Trocadilhos e rimas se fazem presente e são bem bacanas. E isso funciona bem porque o público-alvo tá mais para adolescentes e jovens do que crianças, até porque essa Alice tem 19 anos e não 10. O tema mais recorrente do filme é o esforço para se fazer as próprias escolhas na vida e o rompimento com a ordem/tirania que é vigente desde antes de nascermos, seja vindo da uma mãe aristocrata certinha e cheia de modos de etiqueta ou vindo de uma rainha absolutista com um cabeção. Tudo se encaixa muito com a juventude e seus conflitos com os mais velhos. Pena que de resto o roteiro seja bem infantil. O dualismo entre o que é 100% bom e o 100% mal é clichê, rasteiro e chato pra cacete. Acho que a Disney ficou confusa de qual era o seu público-alvo e acabou fazendo um meio-a-meio péssimo.

5º lugar: as atuações. O "britanês" da protagonista Mia Wasikowska, a doideira e cuspição do Johnny Depp, os xiliques da Helena Bonham Carter e as dublagens das criaturas (em especial a lagarta fumadora de narguilé dublada pelo Alan Rickman, o Snape dos filmes do Harry Potter, e o Gato Sorridente feito pelo Stephen Fry, narrador do Guia dos Mochileiros das Galáxias) são fodas. A Anne Hathaway é a única que caga na pica, fazendo uma Rainha Branca totalmente sem sal e inútil pra trama.


Pra finalizar, entre coisas bem bacanas e coisas muito ruins é um filme médio. Se eu tivesse tomado um chá de cogumelo antes, talvez o roteiro e a música não teriam me encomodado tanto. Mas o grande lance é que apesar de não sair muito satisfeito da sala de cinema, fiquei muito afim de de ver as outras adaptações do livro e finalmente ler os livros. Já é um bom serviço prestado. Recomendo a todos que assistam pra ter sua opinião.

sábado, 20 de março de 2010

O Livro de Denzel Washington




O Livro de Eli é muito foda pessoal, recomendo muito. É o filme com o Denzel Washington que entrou esse fim de semana. Bah, que história foda e bem contada. Fiquei muito com a impressão que era adaptado de algum livro ou quadrinho porque era um roteiro com muita dedicação e fiquei ainda mais feliz de ao fim do filme saber que ele é um roteiro original (isso já tá virando raridade não só nos filmes dos EUA). Roteiro do Gary Whitta, um novato.

Direção é dos irmãos Hughes, que fizeram o também ótimo Do Inferno, aquele que tinha o Johnny Depp atrás do Jack Estripador. Os caras mandam muito bem, várias cenas que vão e voltam entre filmagem real e digital (pra movimentos de câmera meio impossíveis, etc). Tem planos bem bonitos e fodas, combates bem encenados. Ah, não levem as criançinhas, tem boa dose de carnificina. Não é muito apelativo, dentro da história não fica só pela balaca, faz certo sentido. Enfim, é uma carnificina bem feita pelo menos.

A fotografia, porra!, essa chega a ser mais impressionante que a direção. Nunca vi tal visual num filme, ela dá muito a impressão de ser monocromática, principalmente nos planos que mostram o céu, e ainda assim nunca chega a ser preto-e-branco. Greg, essa é pra ti, descobre como fizeram. É muito foda e combina muito com os planos e a paisagem desolada. O diretor de fotografia é o Don Burgess, que trabalhou no Homem-Aranha e alguns filmes com o Tom Hanks como Forrest Gump e Náufrago.

A música é de certa forma incomum, fazia tempo (assim como a fotografia) que não escutava uma coisa diferente assim. Eu não sou músico e não sei dizer o que ela tem exatamente de tão extraordinária, só fiquei com essa impressão muito clara de "issoé bom e tá diferente". Trabalho conjunto de Atticus Ross, Leopold Ross e Claudia Sarne, que fizeram pouca coisa, todas elas juntos, como uma segmento do New York, I Love You.

Alguém provavelmente vai achar que parece com Mad Max. E pode ser mesmo. Eu mesmo nunca tive saco de ver Mad Max até o final, mas com o pouco que vi achei que tem similaridades. Só sei de uma coisa: eu AMO filmes que se passam num mundo distópico/pós-apocalípto. Não é aquela coisa de 2012 de se divertir com cenas de destruição massiva, que pra mim é um certo equivalente a quem para pra ver um carro acidentado na BR. Nesses aí tu só fica vendo os protagonistas correndo o tempo todo e tentando sobreviver. Jogar Resident Evil é bem melhor.
Já cenários pós-apocalíticos lidam com os sobreviventes, como eles se organizam e organizam o que restou da humanidade e civilização depois de uma grande crise. Isso sim é massa =]

De fim, dá pra sair do filme pensando na importância e nos prós e contras das religiões e de qualquer expressão cultural. No caso do filme, o tal do Livro de Eli.
Na boa, vão assistir.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Pulsação: 7 por 24




Terminei de assistir 7ª temporada de 24 Horas. Roteiro é de chorar de tão bom. Jack Bauer como não se via há muitos anos.

Andei pensando bastante à respeito desse seriado ultimamente. A 1ª "trilogia" de temporadas sempre foi a melhor, mais criativa e mais coesa. Tem até um "final", com vários personagens presentes nas 3 temporadas indo ou para o beleléu ou com destino menos ingrato, mas também infeliz e de certa maneira terminal.

Aí veio a 4ª, reerguendo personagens que supostamente estavam fadados ao limbo. Só isso que é legal nela, o desenrolar dos acontecimentos em geral foram muito ruins. Não existem aquelas reviravoltas que sempre deram frescor e tensão para os roteiros das outras temporadas. Além disso, há várias cenas que foram compostas com uma obviedade irritante até. Depois de um tempo o espectador sabe precisamente quem vai tomar tiros durante os tiroteiros e até em que parte do corpo ("Não se preocupe Jack, pegou de raspão no ombro do meu colete à prova de balas."). Outra chatice foi a repetição da etnia que predominantemente é a causadora da ameaça terrorista (árabes barbudos de novo...) e o pior, não lembro de quase nenhum americano envolvido. Sim, achei racista. Pra salvar um pouco, alguns novos personagens são bons como a Audrey e Bill Buchanon. No fim, faltou pulso, muito pulso.

A 5ª é bem mais empolgante, mas tem uma boa dose de exagero. Hmmm, será mesmo? O Prresidente Charles Logan não é lá muito diferente do Bush,
tanto em termos de inteligência quanto conspiratórios. Isso se você acreditar em um pouco de Michael Moore, é claro
Enfim, às vezes acho ela exagerada, às vezes acho justa. Talvez no contexto do seriado é que tenha sido meio inverossímel. De toda a forma, é bem melhor o roteiro geral, mais criativo nos eventos da trama.

Bom, agora se você pensava que a 4ª temporada tinha momentos bem clichês e a 5ª exagerados demais, você definitivamente não viu a 6ª temporada. O final hiper "que merda é essa?! Não!" foi resolvido de maneira nada entusiasmada no início da temporada. Calma, nada é tão ruim que não posso ser piorado. Os grandes manipuladores da temporada anterior são, ora veja que coincidência, o meio irmão e depois ainda por cima o pai do Jack! Na boa, digno de Darth Vader, completamente ridículo. Enfim, a coisa só desanda. A tal promessa de ver Kiefer Sutherland atuando ao lado do pai Donald Sutherland foi um capricho fora de lugar.

Agora vamos chegar ao capítulo intermediário. O tele-filme 24 Horas - A Redenção foi um bom começo. Ele é cheio daquelas cenas óbvias e mal construídas da 4ª temporada, mas ok, pelo menos eles foram até a África pra poder criar um visual mais empoeirado. E a cena da mina terrestre vale as duas horas. Na verdade, a parte muito mais importa para a sétima temporada e muito mais bem feita é a trama que se desenvolve em Washington DC, apontando o novo cenário da nova temporada, alguns personagens importantes e uma trama de eventos que estava prestes a explodir.

A verdade de toda história é que o pessoal da série ouviu as preces dos fãs que reclamaram da 6ª temporada (viu, não sou só eu o chato reclamão, eu to com o povo!) e decidiram fazer um revamp, um novo começo. Assim que surgiu a ideia do prólogo e que a equipe se esforçou pra delinear vários elementos de toda a temporada e além. Graças à greve dos roteiristas, isso foi ainda mais possível. E foi o que ocorreu.

A sétima temporada veio sem medo. Nova cidade, introduz muitos personagens novos e até mata alguns dos velhos que ainda poderiam seguir. Até matam os novos, for christ sake!
O roteiro é muito bom, criativo e sem os clichês que poderia se esperar. Reviravoltas (críveis) voltaram com tudo. A nova agente Renee Walker tem uma curva dramática impressionante. A caminhada osmótica junta a Jack bauer fazem dela uma discípula interessante. E a(s) grande(s) virada(s) de Tony Almeida (ele tá vivo?!) também impressionam.

Talvez seja o início de uma "nova trilogia" de temporadas fodas. Quem sabe, não? Só sei que o papo de "sentar e analisar toda a história" não era só ladainha de produtor. A temporada foi pensada pra ter continuidade. E foi bem pensada dessa vez.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sim, anda faltando tempo ou inspiração e são filmes demais

lembrei que além de ainda não ter escrito um texto pr'O Solista nem pra Amor Sem Escalas, quase me esqueci de Vício Frenético (Bad Lieutanant: Port of Call New Orleans) que tem o Nicolas Cage voltando à sua fase boa de atuação(ver ele loucão e stressado é impagável, vide Vivendo No Limite, que já escrevi sobre) e a direção a cargo do clássico Werner Herzog.

E agora começa maratona oscar. Ufa

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Acendam as novas luzes




A escolha foi certa e justa. Se tu fosse o diretor de uma mini-série nos anos 80 e de repente, já nos anos 10 do século 2000, alguém decidisse reviver o defunto e fazer um filme com esse material? No mínimo tu irias querer acompanhar a tal produção, ler o roteiro, ver o que mudaram ou não pra melhor adaptar a história ao formato (filme 120min) e ao tempo presente da nova produção. E se fizessem melhor? Se não te jogassem pra escanteio e te deixassem ser algo mais do que um mero assessor? Que tal se te deixassem dirigir a nova versão pra telona? Pois é, foi o caso de "O Fim da Escuridão" (Edge of Darkness), originalmente dirigido por Martin Campbell pra tv britânica e saída da mente de Troy Kennedy Martin (roteirista do Italian Job original, de 1969).

O resultado foi extremamente bem sucedido. A direção tem um ritmo próprio que cria uma atmosfera constante de insegurança e certa paranóia. O melhor de tudo é a utilização mínima de música para criar tal atmosfera. Direção, fotografia e atuações que fazem parecer que há uma constante cara de amargura na cara dos personagens. Mel gibson volta à frente das câmeras como um pai amável com sua filha e implacavelmente forte e completa seriedade e amargura no trabalho (fora uns comentários cômicos que acabam ainda mais engraçados pela falta de emoção com o qual são entoados).

Todo mundo que procurar uma sinopse do filme já vai descobrir uma das maiores surpresas, pra não dizer cagaço, do roteiro. A direção nos mostra a coisa todo só no segundo que ela realmente acontece. Não há dicas no roteiro. São momentos repentinos, que tornaram minha agonia na cadeira algo muito mais impactante. E depois do coque de impacto, ficamos ainda impactados com a crueza de tais cenas e seus resultados. Realismo afudê.

Não vou contar nada mesmo. Foi um dos raros filme que eu vi acompanhado nosso cinema e das 4 pessoas, só eu sabia de certos elementos(inclusive o fato de ser baseado numa mini-série). Para o resto do pessoal foi completa surpresa. Valeu a pena não falar nada.

Num rápido comparativo de roteiros (sem spoilers), houve uma preocupação em modernizar certos assuntos. Achei interessante, mesmo que o evento principal seja essencialmente o mesmo. Tenho que ver toda a mini-série pra sentir se o clima da época deixava um marca mais forte e diferente do que nessa versão 2010.

Vou dar destaque especial para a beleza e mimosidade da filha do protagonista (tanto a versão infantil feita por Gabrielle Popa como a versão adulta feita pela Bojana Novakovic), para a secura do Mel Gibson como o detetive Thomas Craven e ao roubador de cena e ironia-master, Ray Winstone, no papel de Jedburgh, um agente sem lado certo cheio de frases engraçadas ou de efeito e com um sotaque britânico que exalta ainda mais as suas idiossincrasias.

Remakes valem pra muita coisa. Falta de originalidade? É sim, comodismo inclusive. Só que, como um bastardo feito eu, no século XXI com toda sua efervescência de geração Y e high tech todo a hora iria parar pra encontrar uma mini-série britânica? Confesso que acabei vendo o filme sem querer. Adivinha por quê? Porque eu ouvi falar do filme e por sua vez ouvi falar da mini-série original. E consegui a mini-série original. Pretendia nem ver a versão em filme, partir logo pro mais elaborado (pelo menos em termos de duração). No fim foi bom dar um pontapé inicial pelo filme. Passei pelas adaptações para o nosso tempo e como um bom livro, vou expandir para uma obra maior e mais completa. E com britânicos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Clint Eastwood e Morgan Freeman: Dobradinha de Campeões Invictos





Ah, se o Lula tivesse um Clint Eastwood pra filmar a vida dele e fazer um filme... Como não é o caso, temos que nos contentar (e chorar) com um Fábio Barreto. Que bom que o filme não foi bem nas bilheterias e sigo sem fazer muita questão de vê-lo (oh, sim, critiquei sem ver! Sou mal e assassino por natureza também).

Voltando a parte que interessa nesse último parágrafo: Clint Eastwood. Olha, não sei quanto a vocês, mas se tratando em dramas nas décadas de 90 e 2000, ele é o cara, definitivamente. Por enquanto não quero fazer dessa postagem uma carta de amor a ele, só declaro que ele fez tudo de novo. "Invictus" é um puta de um filme!

Não devo ter mencionado, mas tenho um grande desprezo por filmes que retratam esportes. Qualquer esporte. Talvez mais desprezo do que eu tenha a Fábio Barreto. Só que toda exceção atrapalha a regra. E pra toda regra, existe uma exceção. E quem fez a exceção? Eastwood, Morgan Freeman e a excelente adaptação para roteiro feita por Anthony Peckham(adaptou também Sherlock Holmes e Refém do Silêncio) à partir do livro jornalístico do John Carlin ("Playing the Enemy: Nelson Mandela and the Game that Made a Nation"). Boa parte do filme não se discute política, digamos, explicitamente. Ela vem na forma de "Como fazer para uma nação segmentada se unir em prol de uma causa?" E a resposta é: através de um dos esportes nacionais tradicionais (e para nós, peculiar), o rúgbi. Claro, saí do cinema ainda tentando entender como que se marca falta num jogo em que os jogadores se batem e se esmagam o tempo todo. Agora, ver o delírio da massa em um estádio lotado e aquelas câmeras do Eastwood, puta que pariu!, muito foda mesmo. Meu coração sedentário e não esportista palpitava mais forte a cada chance do time de marcar mais um ponto.

A parte da discussão política com esse entorno esportivo se mostrou incrivelmente interessante, mesmo pra quem não gosta de política. E se você pensa que esporte não tem nada a ver, pois, todo ato do ser humano tem alguma conotação política.
" - Esse rúgbi todo então é um cálculo político?"
" - É um cálculo humano."

Outra verdade a dizer, Morgan Freeman nasceu pra esse papel. Acho que não é algo que ele esperou a vida toda, porém certamente tem muita gente por aí que já devia ter pensado "porra, mas o Morgan é a cara do Mandela, tem que fazer um filme um dia." E esse dia chegou. E é lindo pra cacete. Muita maestria desse velho irmão de guerra do Eastwood. Quem não se lembra dos dois n'Os Imperdoáveis? O sotaque, a postura, caminhar, movimento e expressões corporais muito parecidas. Aquela falta de jeito, desengonçado por passar décadas na cadeia e quebrando pedra. Quase não impressiona de tão natural. Enfim, impressiona sim. Perfeito.

Podia fechar com uma reflexão sobre a liberdade, igualdade e fraternidade frágil entre os seres humanos e como a união é uma esperança que existe. Prefiro acabar falando só o seguinte: não meço a qualidade de um drama pelos litros de água que saem dos olhos, até porque dramas do Eastwood só não chora quem não tem sentimentos, mas chorei o suficiente e ri o suficiente pra considerar um dos melhores dessa temporada 2009-2010.

"Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul."

William Ernest Henley, do poema "Invictus"