domingo, 8 de novembro de 2009

Ambulance Driver




As semelhanças são várias. Não é à toa que estamos falando de Paul Shrader e Martin Scorsese juntos. O roteirista e o diretor de "Taxi Driver" fazem aqui uma jornada parecida com a de Travis Bickle, só desta vez à bordo de uma ambulância com o paramédico Frank Pierce nesse "Bringing Out the Dead"(traduzido genéricamente como "Vivendo no Limite". Nicolas Cage tá naquela sua versão "sou um acabadaço que faz narração em off cansada e foda", excelente. Entre seus "parceiros de crime" temos o Larry(John Goodman, gordinho impagável do "Jurassic Park" e "O Grande Lebowiski") Marcus (Ving Rhames, o Marcellus Wallace do Pulp Fiction) e o maluco beleza neurótico Tom Wolls (Tom Sizemore) e aquela aparente fragilidade da Patricia Arquette como a ex-viciada Mary Burke.

A fotografia do Robert Richardson, ora branca-hiper-realçada ora azulona, já de início dá um ar de que as coisas não são tão comuns nesse filme quanto aparentam. Ou de que pelo menos elas podem piorar. Esse parceiro antigo dos filmes do Oliver Stone(me permitam largar um "blargh!" nesse momento), do Scorcese e do Quentin Tarantino manda muito bem.
Tudo indo em direção à estética da direção de arte de Robert Guerra, outro parceiro mais recente do Scorsese e também de filmes como "O Último dos Moicanos", fez uma escolha por criar paletas de cores para as cenas de maneira bem pontuada. Sabe aquela coisa de perceber que existe uma preocupação suficiente pro espectador notar coisas diferentes e bacanas componda a imagem e nem tão espalhafatosa quanto uma Amelie Poulain? É mais ou menos isso o resultado, lembrando dos filmes do Pedro Almodóvar.

O aspecto fascinante pra mim tanto aqui, quanto no Taxi Driver quanto num dos meus favoritos de todos os tempos, Apocalypse Now, é a crescente jornada passo à passo, ambulância à ambulância para a insanidade. Frank Pierce é atormentado por vidas que ele não salvou e pelo stress crescente do trabalho que nunca termina e do qual ele nem sequer consegue ser demitido. Ver a "scum of the city", os viciados, prostitutas, traficantes, pirados, religiosas, moradores de rua virados em animais todos dias e tratá-los e nunca ver a luz no fim do túnel vai criando o ambiente agoniante de Frank e a atmosfera agonizante de uma metrópole caótica. É um espírito que fica pairando no ar que eu adoro. O melhor de tudo é como o filme vai avançando cada vez mais para cenas cada vez mais surreais, mas de alguma maneira um surreal completamente possível.

Ah, curta com som alto, a trilha sonora pesquisada com muito rock e blues com Rolling Stones, Janis Joplin e The Clash fazem alegria da torcida.

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