domingo, 1 de novembro de 2009

Espaguete com tiros, dinamite e pimenta




De início esse filme tem um pouco de crise de identidade. Chamado por vários títulos entre eles "Se Abaixa, Desgraçado!(Giù la Testa)", "Um Punhado de Dinamite(A Fistful of Dynamite)", Era Uma Vez...A Revolução (C'Era una Volta...la Rivoluzione) ou, na tradução incrível para o Brasil, "Quando Explode a Vingança". Esse foi o filme do Sergio Leone menos conhecido, considerado como a parte do meio da sua segunda trilogia(que convenhamos, é meio forçação de barra) do "Era Uma Vez...". Se o primeiro da trilogia, "Era Uma Vez no Oeste", era sobre o fim do Velho Oeste selvagem e o último, "Era Uma Vez na América", é sobre o crime organizado já no século XX, Era Uma Vez...a Revolução se passa em 1913 no México, durante a tal revolução.

Além de possíveis interpretações políticas, Sergio Leone disse ter feito o filme mais sobre amizade e companheirismo entre pessoas bem diferente entre si do que sobre a Revolução Mexicana em si. E isso não diminui o filme, deixa os acontecimentos a uma distância segura para o espectador ter suas conclusões. E a contextualização é bem boa, sem criar duas frontes homogêneas contrárias e idealizadas.
A falta de idealismo é uma das características desses Spaghetti Westerns, com personagens que não estão lutando por uma causa linda e bela no papel e na ficção. Muitas vezes os personagens inclusive não tem moral nenhuma e estão atrás é de diheiro(como diz o nome da primeira trilogia de Leone).

Nesse filme, Leone é bem irônico quanto à fidelidade à causas políticas. Se de início Juan Miranda pareçe um líder de um pelotão revolucionário e John Mallory um irlandês alienado atrás de prata, os papéis dão um 360º.

SPOILER À FRENTE (NÃO LEIA A DIANTE SE NÃO QUISER ESTRAGAR SURPRESA)

Mallory é um ex-membro do IRA, enquanto Juan não passa de um bandido pé de chinelo que fez de sua família uma quadrilha e aproveita a confusão da revolução para assaltar os ricos estrangeiros e locais. É essa diferença de personalidade que faz a parceria inusitada de ambos ser interessante. A questão da amizade de ambos vai sendo explorada e a troca de experiências entre ambos chega ao ápice na cena em que Mallory está lendo um livro do Mikhail Bukanin em sua barraca e Juan sugere que ambos dêem no pé antes que se enrosquem ainda mais na revolução que não é de nenhum deles. Mallory pergunta se Juan não se sente mal em largar a luta revolucionária. Juan então mostra que sem nem sequer saber ler, tem uma teoria muito melhor que qualquer intelectual revolucionário:
"As pessoas que leem vão até o povo pobre que não sabe ler e falam "temos que mudar as coisas". Então as pessoas pobres fazem a revolução. E depois as pessoas que leem sentam envolta das mesas polidas e falam, falam, falam e comem, comem, comem. Mas o que aconteceu com as pessoas pobres? Eles morreram. Isso é a revolução. E sabe o que acontece depois? A porra todo acontece de novo!"
Mallory entende o companheiro e em seguida joga fora o livro.

FIM DO SPOILER

O filme tem um contexto histórico interessante, discussão política, ação, drama e aquele toque de comédia macarrônica meio trashs típica dos italianos. Tudo em doses muito bacanas num roteiro muito bem bolado e personagens estilosos. Vale a pena conferir esse filme mais obscuro do Sergio Leone.

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