sábado, 7 de novembro de 2009

Pobres cidadãos cumpridores da cartilha...




Jogando logo a merda no ventilador, "Código de Conduta" é um filme bem crítico ao sistema judiciário como um todo. A farça semi-teatral das cortes, as falhas de legislação e as injustiças cometidas por essas brechas.
Ainda que de maneira Hollywood-style, os lugares comuns e clichês são suprimidos pelo desenvolvimento espetacular dos eventos do roteiro, com espaço para várias reviravoltas e momentos "que porra é essa?!". Excelente direção do F. Gary Gray, diretor de "Uma Saída de Mestre" (The Italian Job) e "O Negociador". Entretenimento muito bem feito sem achar que a plateia tem mentalidade que não passa dos 10 anos.

A história de vingança como prato-que-se-come-crú evolui a um patamar mais elevado que o típico. Muitas reviravoltas com todos imãs necessários pra fazer a história andar sem solavancos. Os diálogos muito fodas entre o promotor Nick Rice (Jamie Foxx) e o ex-engenheiro Clyde Shelton (Gerard Butler) são, ora bolas, muito fodas. Uma obra quase impecável do não tão impecável Kurt Wimmer. Roteirista de filmes médios e de moral duvidosa como "Reis das Ruas", "O Novato" e inclusive dirigindo o meio-Matrix-meio-1984-meia-boca "Equilibrium" e o fetiche de ação "Ultravioleta". Aqui vê-se uma maturidade não atinginda anteriormente. O resultado é muito bom.

Os dois dão um banho de sal de interpretação. O Foxx eu continuo cometendo o crime de não te-lo assistido como Ray Charles na cinebiografia do músico. E nem preciso, com "Colateral" ele já ganhou meu coração. O Butler com certeza era machão forçado porém massa tanto no "300" como no "RockN'Rolla". Aqui ele acerta o soco no lugar mais do que certo. Um personagem que parece que será o protagonista, vira o antagonista e na verdade está mais para um anti-herói do que um vilão. Isso que faz o público se conectar com o Clyde Shelton. E pensar que durante a produção do filme Butler e Foxx estavam fazendo o papel um do outro até decidirem trocar de lugar e Foxx ser o Nick e o Butler ser o Clyde.

Um pequeno parênteses sobre os atores e atrizes. Achei muito louvável assistir um filme onde a proporção de atores negros para brancos está num saudável 50/50. Isso é raro, ainda mais num filme com tantos personagens como profissionais do Direito e de alta classe social. Ver uma juíza negra num filme não é algo de se esperar dos americanos racistas. Há gente que vale a pena na terra do Tio Sam.

"Código de Conduta" deixa a pessoa com vontade de atirar umas pedras contra o Palácio da Justiça, por mais que essa rebeldia seja em vão se feita individualmente. Serve pra acalmar os nervos. Assim como esse filme. O público personificando-se no Gerald é uma verdadeira terapia. E que além de crítico e instigador de atos "rebeldes", o filme acaba também cumprindo seu papel social de fazer as pessoas realmente atirarem pedras no Palácio. Na ficção fazemos o mesmo de maneira confortável e segura, sem termos que ser responsáveis pelas consequências de um ato real. Interpretações e consequências desse filme podem ser várias e isso que faz da obra algo relevante.

SPOILER - NÃO LEIA SE NÃO QUISER ESTRAGAR SURPRESAS

O final pode ser conservador/hollywoodiano/conformista, porém não deixa de ser uma reviravolta. Mais importante, ele até é um clichê de protaganista ganhando do antagonista, mas o desenvolvimente do personagem do Gerald Butler é tão bem feito durante todo filme que ficamos com a impressão de que quem venceu foi o "bom que é mal" do personagem de Jamie Foxx. Temos que nos conformar em ser cidadãos cumpridores da lei (law abiding citizens), como no título original do filme. Isso é pelo menos o que o estúdio do filme queria, mas minha impressão final foi outra. Quem ganhou foi a injustiça da qual o filme lidou em grande parte, o mal necessário que faz o sistema funcionar. Algo que vale a pena lutar contra.



"I'm gonna pull the whole thing down. I'm gonna bring the whole fuckin' diseased, corrupt temple down on your head. It's gonna be biblical."

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