quarta-feira, 29 de julho de 2009

Cadê o SUS do Moore?

Mantendo o clima revolucionário de último post e desses meus últimos dias, segui com minha febre cinematográfica, desta vez com o último dos americanos, Michael Moore. Esse sim, sujeito subversivo, anti-patriótico, quase comunista! Merece arder no mármore do Inferno. E eu pelo menos ponho um dedo nesse fogaréu todo por ele.

Vamos deixar de lado a linguagem da Veja e chamá-lo do que ele merece. Ele é um polêmico. Ele é um controverso. Muita controvérsia, aliás. Fala-se que no seu primeiro documentário, Roger & Me, ele manipulou edição e conteúdo. Nesse seu primeiro ensejo cinematográfico, Moore trata de sua pacata cidade natal, Flint, e como ela foi afetada pelo fechamento de uma da fábricas da GM (que ironia! ela vai ser estatizada agora, coisa que antigamente só falariam em piadas). A culpa no fechamento e redução de empregos cai no colo do dono da GM, o tal do Roger no título.
Ao longo do documentário Moore tenta algumas vezes procurar Roger pra conversar e nunca é atendido. Sabe-se agora que Roger acabou por conceder uma entrevista a Moore, o esperto "radicalzinho" deixou-a de fora só pro pobre empresário parecer um malvadão. É, mal começo Moore.

Outro do Moore que posso comentar brevemente foi a sua mais megalônoma obra, Farenheit 11/09. Longe de falar mal da obra, ali que eu tive primeiro contato com o estilo de documentarista que Moore é. Devo dizer que, manipulador de conteúdo ou não, ele sabe ser um bom manipulador do público no bom sentido. O cara sabe conduzir um documentário de cunha político e consegue ser extremamente irônico a tal ponto que o público não vai bocejar ao assistir o gordinho debatendo suas teses. No caso do Farenheit, nem é o mais "redondo" de todos documentários dele, pois a temática de intriga política é bem complexa e exaustiva. Não importando isso, o resultado é um sucesso.

Sigo agora pro 3º e até agora último documentário do Moore que assisti. Só escrevo esse post por causa de ter assistido-o essa tarde. Trata-se de SOS Saúde. O título brasileiro é um dos raros casos em que supera-se o original, mais simplório, Sicko. Faltam-me outros docs do Moore, mas largo de primeira que esse é o melhor de todos. Moore está no topo da dominação da própria linguagem documental que ele inventou para si. Soube usar de todos os recursos para o filme ser sempre interessante, engraçado, ácido, crítico ou dramático. O resultado é de lascar. O assunto é o do título. E, dessa vez, são provas demais pra alguém contestar a veracidade do que é mostrado na obra. O filme é muito prático, por assim dizer. Foca em muitos casos reais e de difícel "forjação". Não há "forçação da tarraqueta" como alguns podem alegar no Farenheit. Tudo muito mais visceral, tornando assim mais palpável, real, identificação maior com o público em geral. Isso tudo sem deixar de lado o estilo de certa forma sofisticado e simples do Moore. Há diversas cenas, causos e discussões impagáveis.

E esqueça o socialismo, a melhor do filme é essa: "Acho que a democracia é a coisa mais revolucionária do mundo...Se tiver poder, você o usa para prover as suas necessidades e as da sua comunidade. Essa é a ideia de escolha...A escolha depende da liberdade de escolher. E, se estiver coberto de dívidas, não tem liberdade de escolha...Pessoas endividadas perdem a esperança. E pessoas sem esperança não votam em quem represente verdadeiramente seus interesses...E é isso que não querem que aconteça. Por isso mantém as pessoas oprimidas e pessimistas. Penso que há duas formas de controlar as pessoas: primeiramente, assustando-as. E, em segundo, desmoralizando-as. Uma nação educada, saudável e confiante é mais difícel de governar. E acho que há um elemento no pensamento de algumas pessoas: Não queremos que as pessoas sejam educadas, saudáveis e confiantes porque ficariam fora de controle."

Exato, aqui não é diferente, seu pensadorzinho britânico. Pessoas pobres causam transtornos na sociedade brasileira(em qualquer uma), mas os ricos não se preocupam porque podem pagar pra ficar longe dessas pessoas, podem pagar seguranças, etc. Não percebem que até pra eles as coisas seriam melhores se provessem recursos à população em geral.

Sarney, te liga!

Concluindo:

Sim, Michael Moore já forjou dados. Pode ser que agora que tem prestígio, parou. Não precisa mais apelar. Agora, tenho que concordar que no caso dele, alguns fins justificam alguns meios. Sem querer soar chato com um discurso de que "pelos frascos e comprimidos da sociedade vale tudo(inclusive o terrorismo Baader-Meinhof)". Não vale tudo não, mas termino com uma frase em defesa do Moore, vinda dele mesmo:

"Eu existo para dar equilíbrio, e eu te aviso, nem é muito. Eles estão aí todos dias - todo dia. Meu filme tem 2hrs. Se por 2 hrs durante esse ano todo, as pessoas são expostas ao outro lado da história, isso não pode?"

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