quinta-feira, 30 de julho de 2009

Imite o mito, não pague mico

Pude ir numa bela palestra hoje no Teatro Renascença com Juan Sebreli, discutindo os mitos, em especial os 4 maiores mitos argentinos: Maradona, Carlos Gardel, Evita Perón e Ernesto "Che" Guevara.

Os mitos tem lugar cativo no imaginário humano. Suas origens podem datar desde os primeiros costumes pagões. Ao longo dos século eles foram se tornando mais complexos. A Mitologia(olha a palavra formada pelas 4 primeiras letras) grega tinha uma vasta gama de divindades, inclusive muitas delas com características de personalidade humana. Eram deuses corruptos, inescrupulosos, festeiros, etc. Com a religião cristã, muçulmana e judia, trocaram-se inúmeras divindades por santos, anjos, profetas, etc. Uma grande diferença em relação à mitologias mais antigas é que no ambito religioso essas figuras se tornaram mitos idealizados. Todos deveriam segir a conduta dos santos. Com o século XX e o cientificismo cada vez mais em voga, personalidades foram elevadas ao status de culto e depois mitos graças as novas formas de comunicação, em especial o rádio, o cinema e a tv. Esses mitos teriam em comum com os mitos religiosos a noção errada de que são símbolos de conduta perfeita.

Mitos tem em comum a origem adversa de seus personagens e esses conseguem realizar grandes superações. Evita era uma atriz de 2ª linha. Maradona e Gardel eram pobres. Ernesto era do lado loser da família.

Os personagens de mitos tiveram desde sempre o desejo de se tornarem ícones, mesmo não sabendo como. Ernesto começou como médico para fazer uma diferença. Evita tentou ser atriz. Maradona, entrevistado por um jornalista quando era jogador mirim no interior disse que seria campeão do mundo. Ele tinha 10 anos.

Mitos dependem muito do contexto e da pessoa. Se Perón tivesse casada com uma outra mulher, talvez ela fosse uma 1ª dama tão apagada quanto a nossa dona Marisa. Assim como se Evita tivesse se casado como outra pessoa que não fosse um figurão, nunca teria se tornado a figura pública que virou e nunca teria se tornado mito.

Os mitos muitas vezes acabam com um final paradoxal. Evita tentou virar um símbolo sendo atriz de cinema e nunca conseguiu. Acabou virando um ícone pelo seu casamento com um político, conseguindo assim a visiblidade que necessitava. Paradoxalmente, sua figura se espalhou pelo mundo em um musical da Broadway e de Hollywood. Ela em si não conseguiu ser atriz, mas quem fez dela um mito foi uma atriz fazendo papel dela(viva Madonna!).
Guevara foi a mesma coisa. Se ele era um símbolo de luta armada para a conquista de socialismo, sua figura se tornou estampa de camiseta, chaveiro até cerveja. Ou seja, todos bens materiais que usam sua imagem para alimentar o capitalismo. Ah, ironia cruel...

Frente a isso tudo, resta levar os mitos de maneira mais saudável possível. Não se pode fazer com a que as figuras midiáticas se tornem uma simplificação de um ser humano que assim virem símbolos que sejam somente dotados de bons elementos. A santificação de seres humanos leva à cegueira, ao fanatismo.
Deixem uma criança crer na fada do dente, só não faça dela um adulto que acha que o "cara" era Tiradentes.

Argentina! Somos los mejores!

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