terça-feira, 28 de julho de 2009

Der Baader Meinhof Komplex: o céu era vermelho ao anoitecer e tentaram trazer essa cor à Terra Ou a arte de fazer um título épico para esquerdopatas

Quem me conhece (ou não) poderia achar que estou numa fase meio suspeita. Camiseta de Salvador Allende, vendo entrevista com Patch Adams no youtube, escutando muita Legião Urbana... O ápice poderia ser a programação de hoje à tarde, que destinei à assistir Der Baader Meinhof Komplex.
De cara já aviso algumas coisas: é um puta filme, não é brasa pra esquerda ou direita se esquentarem, tem 2h30min e não é nada light do tipo "amooor, vamo nu cinemá?"
Digo também que me identifiquei com a Meinhof do início da "carreira". Compartilho da mesma "masturbação intelectual" dela. Assistam e entenderão.

Além de título de uma canção da Legião Urbana, o grupo Baader-Meinhof (quase dupla sertaneja alemã) era o nome popular da RAF, Rote Armee Fraktion, algo como Facção do Exército Vermelho. Pra economizar explicações vou só descrever o símbolo deles. Estrela vermelha com uma metralhadora MP-5 na frente. Preciso mesmo desenhar?

A produção é excelente, com diálogos muito bons de ambos os lados, cenas que mostram facilmente vários aspectos (porras loukas) da cultura da época. Cenas de ação sem exageros, tudo na medida. Os vários lados da história são retratados com realismo e sem tapinha nas costas.
P.S. interno :A cena final que é meio de sopetão, mas fica bom como uma recurso de desconforto para a platéia. Não faço ideia se essa era a intenção, mas nesse sentido serviu.

No ámago psicológico posso deixar uns pingos de reflexão:

Frases de esquerda são ótimas, porque realmente ficam pomposas e parece que o que se fala faz algum sentido. Não que sejam acéfalas, na verdade em teoria concorda com várias coisas, mas há de se ter cuidado. Acho que esses diálogos possuem ao mesmo tempo aquele grude nojento de "isso é o melhor pro povo, temos a razão" mas também são essenciais para haver bons debates de boteco.

Comentando uma frase em especial, atribuída ao Mao Tsé Tung. Uma que diz que é bom quando uma ação sua repercute negativamente pros outros, porque isso quer dizer que se criou uma linha divisória firme entre você e o que você combate. É a mais pura balela do velho personalista de olhos puxados. Não pode haver linha mais tênue que a diferença entre um fora-da-lei e um legislador ferrenho ou esquerda radical e direita radical. No fim, é tudo uma valsa entre Batman e Coringa. Os opostos se odeiam tanto que só existem para desagradar um ao outro, não existe propósito de vida se não existir o seu contrário. Sendo assim os dois acabam sendo (quase) a mesma coisa, com o mesmo objetivo e os mesmos métodos.

Ignorância é uma bênção. Quando acompanhada de retórica aparentemente intelectual, engajada e embasada, fica melhor ainda. Desconte toda sua fúria adolescente em algo que seja "concreto" que seu cérebro se encarregará de não lhe enviar medo para nenhuma das suas ações. Nem pense nos meios, os fins é que interessam.

Perto da covicção e da firmeza que só os radicais conseguem ter, me sinto feliz de ser um frouxo, flexível e indeciso.

Pra acalamar os ânimos de leitores da Veja, ao final do filme minha única grande rebeldia se resumiu em ir à pé pra casa, contra todos avisos de meus pais. Meu Deus! e eu escrevendo isso e alastrando essa informação na internet! Vou me entregar, alguém sabe o número a polícia? Só peço que antes de me denunciarem, me deixem escutar Legião uma vez mais.

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