segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Humano, demasiado humano...

olha só, Charlie Kaufman era muito bom. Digo era, sendo um tanto reclamão, por não ter curtido o Sinedóque, Nova York que trocou a ironia pela complexidade narrativa, que conta com várias camadas. Achei meio pretensioso/exagerado, mas é louvável pelo tempo investido pra fazer um negócio daqueles funcionar(em partes). Isso infelizmente não faz um bom filme. Tava assistindo ontem mesmo o Assassinos Por Natureza, que apesar do trabalho do Oliver Stone em meter vários formatos de vídeo, estilos de direção de arte e fotografia, consegue ser bem chato. Larguei de mão, que já eram 3h da manhã. Ao invés dele, pra não dormir insatisfeito, troquei pro Natureza Quase Humana.

Pois bem(muito bem), ele foi a primeira parceria Michel Gondry na direção e Charlie Kaufman no roteiro. Dá pra entender porque deu tão certo, virou alvo de certo culto e tudo acabou desaguando mais tarde no Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Esse, sem dúvidas, um marco no mundo do cinema em geral porque pela primeira vez (em muito tempo, pelo menos) que se falou mais no nome do roteirista do que do diretor. Eu não sou "o" especialista, mas já falei com gente mais velha e eles atestam que pelo menos há um bom tempo não ocorria esse reconhecimento por parte dos cinéfilos e amantes de filmes. Isso tudo antes da quase-famosa greve dos roteiristas há um tempinho atrás. Isso foi um fato adorável porque eu tenho a crença que um filme bom começa com um bom roteiro que nem precisa ser dirigido pelo próprio criador da história.

Mais específico desse filme, tá tudo lá. Protagonista loser, poliedros amorosos, discussão dos medos/fobias humanas. Tudo levado com graça e ironia, inteligente sem ser um porre pro espectador mais ocasional. Valorizo muita essa diversidade de públicos, tanto cinéfilo quanto mais casul, cabeça e simples. É algo que o Tarantino também faz com outros métodos. Prefiro chamar de um filme estilo PopCult.
A discussão em voga é algo no estilo "o bom selvagem", levando ao questionamento das regras que regem a convivência humana em sociedade e as contradições que elas trazem para o nosso lado mais irracional. Eu preciso comer com os cotovelos não apoiados na mesa? (desculpem o meu way-of-life Rambo, mas juro que nunca entendi a moral do cotovelo)
Até que ponto essas regras são necessárias? Quais fazem sentido realmente pragmático para o dia-a-dia? Suprimir os nossos "fantasmas na máquina" não trazem mais problemas psicológicos do que se fossemos mais "naturais"?

Um pouco de regras e um pouco menos de medo pra se deixar levar por alguns instintos. Isso é vida boa, encontrar aquele ponto de equilíbrio. Nem 8 nem 80, 36 tá na medida, não? Cada um precisa pesar na balança da Justiça as ações e escolhas que tomar e ver o que vale a pena fazer por si e pelos outros em determinado momento.
Educação e comportamento são importantes. Atitude instintiva também. Afinal, instintos não deixam de ser habilidades naturais, alguns de nossos dons genéticos. E com educação, podemos desenvolvê-los e usá-los de maneira apropriada, pesando as escolhas com aquela Razão Iluminista que supostamente nos separa dos outros símios.
O embate dos lados racional e irracional do ser humana é eterno, cansativo e no fim das contas, bom. Só com essas fricções que se evolui.

Se nada der certo, o planeta vai ser mesmo dos macacos. Boa sorte pra eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário