quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Inimigos Públicos? Sim, Michael Mann tá na minha lista negra do FBI

Já foi há algumas semanas que fui assisitir "Inimigos Públicos" no cinema. Pois bem, essa semana abri o guia de filmes e qual é a minha surpresa quando entre as estréias vejo um filme com quase exatamente o mesmo nome. No caso era "Inimigo Público Nº 1 - Instinto de Morte". A grande diferença é que o título original entre parênteses precisa ser pronunciado fazendo um biquinho: L'instinct de Mort

Veja bem, é um filme "de ação" francês. iiih, já vi. Certo que tem um trailer eletrizante que se torna uma grande enganação para o público. Na verdade deve ter um bandido-filósofo-existencialista que pondera se a pistola que ele empunha em um assalto existiria na condição de arma se não fosse possível apertar o gatilho. Ou, qual a razão de ele dispor da possibilidade de ser um fora da lei? Seria uma brecha proposital no "Sistema"? Seria mero acaso? Seria o alcançe da verdadeira Liberdade? Ah claro, toda essa discussão se desenvolveria em planos longos e estáticos, onde alguém aparece fumando e olhando uma janela, tudo com uma narração de uma leveza e calma digna de uma massagista de heiki.

Bom, aviso ao leitor que, como diria o glorioso pensador futebolísico Kleber Machado, "o mundo mudou". Esqueça Godard, Jean Renoir, Truffaut e o escambal. Tem tiro, sangue, explosões e adrenalina. Tudo entregue pela direção muito boa do Jean-François Richet e um roteiro pé no chão, sempre interessante e inteligente adaptado do livro escrito pelo próprio ladrão da história, Jacques Mesrine.

Ué, mas isso tudo de "tiro e sangue com qualidade cabeça" não deveria ter sido o Inimigos Públicos do Michael Mann? Pois é, não é. Digo que esse diretor/roteirista/produtor está em decadência. E não vão pensar que tenho alguma picuinha com o estilo dele, longe disso.
O Michael Mann's "Colateral" ao meu ver é uma obra-prima não muito reconhecida como tal pelo público. Roteiro completamente surpreendente, cuidado com possíveis escapadas à realidade hollywoodianas, diálogos excelentes, inteligência, reviravoltas. Existe algo nele que o faz muito mais que um membro do sub-gênero "filme de bandido".
Dito isso, da mesma forma que a carreira de Michael Mann decai, Inimigos Públicos começa muito bem, mantêm-se por algum tempo e depois vai progressivamente descambando. Dá pra aguentar até numa boa por 2/3 do filme, mas o 3º ato... credo, quanta pieguise. Roteiro e direção. Porra, pra que aqueles slow-motions?!
Algo ocorre, Mann achou que precisava ser mais "old school hollywood" e tratar a platéia como se tivesse 12 anos. Opa, a censura do filme é 16. Ruim essa, erraram feio.

O caso de sucesso do L'instinct de Mort se repete em outro filme do qual já escrevi, "Baader Meinhof Komplex". Filme alemão(produção Alemanha/França/Rep. Tcheca) com mais violência que o Inimigos Públicos. Ele também é uma recriação de época (ok, essa foi mais fácil porque nem foi preciso encomendar ternos e roupas de cabarè da década de 30).
A violência maior não é sinal de estupidez. Ela é retratada de maneira tensa e suja para aplacar e não agradar catarsicamente a uma platéia sedenta por sangue e tragédia. Há sempre pensamento crítico.

Conclusão: filmes com ação e efeitos especiais mais tradicionais(sem 3D e CGI) não valem mais a pena na Hollywood atual. Produções estrangeiras hoje tem financiamento suficiente para ter qualidade técnica equiparável e sabem fazer fotografia, roteiro, música, direção e montagem com eficiência, mais inteligência e perfeição, sem os exageros/bobagens/melosidades que hollywood insiste em usar achando que é isso(uma simplificação perigosa) que o público quer.

Será que o caminho para o mundo realmente é a globalização? Para o cinema, é o que parece. Apoio e parcerias internacionais vem construindo obras melhores em todos os sentidos. Esse texto aqui pode servir como um "The International Manifest" para defender as co-produções multipolarizadas. Invento esse nome à partir de outro filme recente, "The Intenational". É mais um filme com tiros e ação muito bem feito e inteligente, que mesmo falado em inglês e contando com Clive Owen e Naomi Watts, teve uma baita cooperação com a Alemanha. Adivinhe o resultado. Resposta é óbvia: é uma co-produção! Logo, qualidade.

L'instinct de Mort
é só a primeira parte da cine-biografia da história real de Jacques Mesrine. Foi uma co-produção França/Canadá/Espanha, com locações em todos esses lugares. Mal posso esperar pro próximo. Já o próximo do Michael Mann, uh, deixa pra uma próxima.

Viva o neo-liberalismo, a globalização e os cineastas sem fronteiras!

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