sábado, 31 de julho de 2010

Glauber Rocha não morreu, olê, olê, olá!

Glauber Rocha vive. Essa é a impressão que me ficou quando terminou "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo". Quando eu pensei que o pessoalzinho "canal Brasil" iria um dia deixar de lado essas coisas ruins do passado, volta uma dupla de "artistas" que acha muito interessante filmar cenas cotidianas, no sertão nordestino, câmera na mão, baixíssima qualidade da imagem (e do som da narração). E nem adianta me dizer que é licensa poética que se enquandra dentro de uma proposta. É uma bela probosta, isso sim. Estetizar a tosquice e "mal-feitiçe" de uma obra audiovisual e achar que está fazendo algo bom é no mínimo um paradoxo. Paradoxo que os amigos da Petrobrás seguem acreditando piamente.

Em dado momento do filme eu olhei para as pessoas ao redor na sala de cinema, todos bocejando, mas se esforçando muito pra curtir o programinha artístico e intelequitual do sábado de tarde chuvoso. Acho que se as 20 e tantas pessoas que estavam lá pagassem meia entrada, ainda assim custeava toda a produção desse mamute cinematográfico. É uma câmera, um narrador. E nenhuma ideia na cabeça. Ah, e as tais viagens de um ponto do cú do mundo ao outro ponto do cú do mundo. Tudo feito por uma fotógrafa que tem sérios problemas de miopia, mas ninguém diagnosticou até hoje. Imagem travada e tremida, mas tremida e esticada afú. Pelo menos é o que parece tal qual a captação precária da imagem. E quase dá pra ver os pixels. Imagem sempre granulada. E como eles gostam de slow-motion travado...

O filme nunca se decide se quer ser um documentário ou ficção, e isso não me parece "vanguarda" ou "quebra de paradigmas". Tudo parece que foi feito completamente por acaso. Os caras tem a ideia de fazer um filme bem barato e chinelão sobre um geólogo tedioso e sua viagem tediosa durante um trabalho no interior do sertão nordestino. E deixaram a câmera ligada captando imagens cotidianas, do movimento da estrada (que é bem pouco), de um posto (da Petrobras, claro), de um restaurante de beira de estrada, de uma procissão religiosa, etc. Ah, e tudo intercalado por várias fotos. Fotos também de péssima qualidade. Isso tudo sem o protagonista nunca aparecer (das poucas decisões da direção que eu achei interessante, mas enfim...)

Lindo, não?

As pessoas que aparecem (boa parte também através de fotos) e suas histórias são narradas pelo protagonista. Só uma vez dão a chance a uma prostituta de poder falar com a câmera. E um tiozinho que faz sapatos e canta músicas românticas-brega (e ele fica cantando a música inteira, filmado em um plano parado). Eis aí mais um momento em que os realizadores (me recuso a chamar essa gente de cineastas) não sabiam o que fazer e deixaram uma entrevista documental no meio do filme, enquanto todo o resto dele isso forçadamente não acontece.

Vamos falar de coisas boas? Quase não tem, mas posso elogiar a música. Ela é bem experimental, intercalada por grandes sucessos de música-brega-nordestina-feita-para-caminhoneiros. Mas o clima que ela (tenta) criar só não é alcançado pela direção cheia de poesia visual que cheira à coliformes fecais. Sozinha, ela até funciona pra dar sensação de deslocamente e agonia.

Bom, era só isso de bom mesmo. O resto é sofrível. O título nem se justifica, que o protagonista fica se lamuriando sobre a distância de sua amada usando um gravador de bolso de 1970 enquanto vai traçando uma bela quantidade de putas pobres com alguns dentes faltando no rosto. Volto porque te amo? Acho que durante o filme todo eu queria sair do cinema porque eu me amo, pelo menos o suficiente pra não querer passar por mais uma tortura audiovisual depois de ter insistido uma vez em assistir Terra em Transe até o final.

De boa, era melhor eles terem feito um documentário. Pelo menos ainda menos gente iria no cinema pra ver esse tipo de filme que ao meu ver é inútil e ineficaz em todos os sentidos e suas probostas. Palmas aos festivais de cinema brasileiro que deram louvores e premiações pra essa sucata!




Vocês também não tem a impressão que tem mais festivais e premiações de filmes brasileiros do que filmes brasileiros que entram em cartaz por ano?

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