sábado, 10 de julho de 2010

O sanguessuga e o primata




Ainda dentro do Fantaspoa, teve um dia que encarei uma sessão dupla: "Strigoi", um filme britânico ambientado no interior da Romênia, e "O Garoto Macaco", filme italiano que era para ter contato com a participação do diretor e do diretor de fotografia. Pena que eles não puderam comparecer, pois os dois influenciam muito na maneira que a história é contada.

Strigoi não só se passa na Romênia, mas é um grande parte um filme romeno. Quem assistiu já "Casamento Silencioso" vai entender. Não dá pra chamar de um movimento cinematográfico, mas naquele país se fazem filmes que são o equivalente do realismo fantástico literário nas telas.
De início acompanhamos um jovem do vilarejo investigando a morte de um velho do local, fato que aparentemente causou mais alegria do que lamentação na população local. O protagonista quer saber o porquê e assim segue uma trama de suspense com tons humorísticos constantes. Humor muitas vezes absurdo e surreal, e aí que há boa parte da graça. Depois que se descobre o que é o Strigoi do título, o lance começa cada vez mais a pender para o realismo fantástico e sobrenatural, mas tudo se desenvolve no seu tempo e de forma que não é uma reviravolta barata.
O único problema do longa é que justamente para ter uma progressão não óbvia, a investigação acaba meio arrastada demais. Depois de certo ponto a platéia já abraçou a ideia do título do filme enquanto que o só o protagonista insiste em ser cético (e portanto, chato). Não acontece o lance de o roteiro estar sempre a frente dos espectadores. Ainda assim, nada que coloque o filme abaixo do nível de bom.
As músicas, como em um bom filme romeno, é fantástica, cheia de temas cativantes com instrumentação típica e inclusive umas 3 canções do Beirut, o que casa muito bem com leste europeu.

http://www.youtube.com/watch?v=_tmxa8NZN3Y


Já a segunda parte da sessão dupla foi foda em todos os sentidos. Se Strigoi prezou por ser seguro e sucinto em seus modos de produção, fora uma câmera lenta aqui e ali junto com a trilha balcãnica, em O Garoto Macaco tudo foi pensado com um conceito a ajudar a contar a história.
Direção sempre com planos subjetivos e muito próximos, cortes rápidos, uma fotografia barroca(muitas áreas de sombra e alguns focos de luz), roteiro fragmentado em capítulos que vão e voltam na ordem cronológica (contando a história de cada personagem envolvido), música envolvente que casa perfeitamente com o clima.

Com uma abertura em animação linda, contando um conto de fadas um tanto sombrio, segue-se uma história fantástica com só o essencial sendo dialogado, que de resto as imagens dão conta de contar. E a história se conta perfeitamente.
O problema é que tudo que o roteiro não precisou de muito diálogo entre os personagens pra se desenvolver, ao longo do filme a narração inicial do conto de fadas acaba sendo evocada vezes demais pra explicar analogias entre o conto e os acontecimentos reais, de forma que cansa o público que já entendeu.

Tanto no conto de fadas como na realidade do filme temos uma menina e seu pai. O grande problema é que a garota sofre de um alto nível de autismo, vindo de eventos que depois são revelados (na forma de uma memória que mais parece uma cena de teatro, muito afudê) e não se comunica de forma alguma com o pai. E um dia, a garota se encontra com o tal ser do título do filme e ambos passam a ter uma conexão nas suas excentricidades. Falar mais que isso estraga. Os eventos se desenrolam de forma que escapa ao controle de qualquer um dos envolvidos, tudo devido às incompreensões de uns personagens com os outros.

Só digo que tudo é muito bem feito nessa versão diferenciada, sombria e complexa de A Bela e a Fera, como disse o diretor Antonio Monti no vídeo depoimento antes do filme. Confiram:

http://www.youtube.com/watch?v=Fxo03IdCzZ8&feature=player_embedded

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