sábado, 31 de julho de 2010

Imigrantes psíquicos




É com alguma demora, mas tomei vergonha na cara pra escrever sobre um dos que eu considerei um dos melhores filmes que passou nesse último Fantaspoa: O Traficante de Sono (Sleep Dealer).

Ele já veio com uma boa bagagem, premiado em Sundance e tudo o mais. Assistindo o trailer para o meu deleite reconheci a voz do David Hayter, eterno Solid Snake, como o narrador.

O filme só peca em algumas cenas com efeitos digitais que são desnecessárias e ficaram mal feitas, atrapalhando a fruição do negócio. Mas é só isso, todo o resto do filme é ótimo.

A direção e roteiro do novato Alex Rivera, co-escrito com o também novato David Riker, são muito criativos. Em um futuro não muito distante, a mão de obra de países de 3º mundo é usada à distância através de robôs controlados pelos pensamentos dos trabalhadores. Os mexicanos são os operários em destaque nessas "fábricas" em que eles "traficam seu sono" em troca de um salário mirrado. Como diz um dos donos de uma fábrica: "Os americanos conseguiram tudo o que queriam. Ter nossa força de trabalho sem precisar ter que nos aguentar por perto."

Com implantes neurais no braço, feitos muitas vezes de forma ilegal, eles tiram um sustento. É dessa forma que vive o protagonista, Memo (provavelmente de memória ou meme, mas o filme nunca explicita o porque desse nome). E daí começa todo o negócio.

O interessante é que o filme vai mostrando outras profissões ligadas aos implantes neurais, como a de uma escritora que faz upload de suas memórias visuais e as narra, pra vender depois na internet. E só melhora, o desenvolvimento da história é bem feito e amarrado, com algumas reviravoltas inclusive.

A fotografia é linda, desde as áridas planícies infinitas do deserto mexicano, as cidades superlotadas e também os locais de trabalho dos robôs, sequênciais sabiamente feitas completamente no computador, de forma que os robôs digitais não destoam de um cenário real.

As atuações dos protagonistas Luis Fernando Peña e da Leonor Paz convencem muito bem, acompanhados da direção sem muitas firulas. É um filme bem redondinho e que como toda boa distopia usa de um pouco de imaginação futuróloga pra travestir um tema social atual e assim deixar a discussão desse assunto mais interessante (como também é o caso de menos brilhante Distrito 9, que usa um conflito entre humanos e aliens como metáfora do racismo).

Espero que ele venha a entrar no circuito nacional de cinema, mas em DVD vai sair certo. Confiram!

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