sábado, 24 de outubro de 2009

À favor da desinformação




Aguentando o início um pouco parado, ainda confuso para o espectador e sem muita graça, O Desinformante é um filme muito bacana.
É um dos poucos filmes que se baseam em fatos reais, num evento de seriedade e conseguem não ser pregadores ou sérios ou politicamente corretos. O filme vão encorpando com o tempo e levemente se trajando de um filme de espião das antigas.

Fotografia em tons marrons e amarelos, quase parecendo que tem fotogramas envelhecidos. Sempre lembrando que o próprio diretor Steven Soderbergh faz a direção de fotografia, sob o pseudônimo de Peter Andrews.
Trilha sonora muito boa do Marvin Hamlisch(compositor do 007 - O Espião que me Amava) que incorpora ora vinhetas desconcertantes, ora música de ambiente típicas de vídeos publicitários de "This is the american dream coming true. A peaceful neighborhood, similing kids and a beautiful wife." As vinhetas muitas vezes vem acompanhadas de letras coloridas espalhafatosas para indicar em que lugar a cena se desenrola. Digno de James Bond, só ainda mais tosco.

A trama real, tirada do livro do jornalista Kurt Eichenwald, se inicia com um bioquímico, Mark Whitacre, que é parte da ADM, uma empresa de industrialização do milho. Isso, milho! Hiper interessante... Acontece que o negócio é bem mais profundo e vai degringolando de tal maneira que quanto mais perto do fim, mais enrolado o personagem fica na sua própria teia de aranha. Mark decide colaborar com o FBI à partir de uma tentativa de extorção que a ADM recebe. O que vem a seguir é que ele gradativamente vai revelando os podres do lado da ADM também. Ah, e os podres dele também. Essa última parte, quase se esquecendo.

Como um desinformante profissional, o Mark Whitaker feito pelo Matt Damon parece um James Bond desengonçado e sem charme. Quase mais atrapalha do que ajuda. Quanto mais ele se envolve em gravar fitas comprometedoras dos colegas, mais ele fica num estado de crise de indentidade, já que vive duas vidas paralelas. O melhor de tudo isso é ver o comportamento bizarro de Mark traduzido numa narração que faz constatações aparentemente sem motivo nenhum. Quando os nós vão se desatando, elas fazem mais sentido, enquanto Whitacre faz ações cada vez mais contraditórias.

É um filme de denúncia, sem dúvida. Sem se esquecer que se trata de seres humanos, personagens de verdade. O filme poderia ser uma mini-epopéia agoniante, com toda sua complexidade e assunto sério e indignante. Ainda bem, podemos ver que um encontro de homens de terno é uma cena do crime e podemos rir de tudo isso.

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