sábado, 17 de outubro de 2009

"Pra sobreviver aqui, você precisa sentir que já morreu." Ernesto "Che" Guevara de la Serna




Técnicamente muitíssimo bem feito. Sensação de uma selva não exótica, não bela, não bucólica e sim agoniante. Roteiro mostrando todos momentos históricos relevantes para a trama. Interpretações excelentes, inclusive de coadjuvantes desconhecidos como atores e como personagens históricos(Cristian Mercado por exemplo). A narrativa é menos interessante que a da 1ª parte pois é estritamente linear, sem pulos para frente e para trás no tempo.

Diferentemente de um Oliver Stone da vida, o roteiro de Peter Buchman e Benjamin A. Van der Veen tem base num registro histórico do próprio Guevara, não fazendo de suposições fatos. O radical mais aguerrido talvez ache que há passagens suficientes para exaltar demais aquele ser humano e que há passagens históricas negativas deixadas de lado. Bom, não sou PHD em história guevarista, portanto meu aval está completamente condensado em um dos últimos diálogos do filme.
SPOILER, NÂO LEIA SE NÂO QUISER ESTRAGAR SURPRESAS
Um oficial do exército boliviano é perguntado pelo Che, já capturado, se ele é um cubano. O oficial responde afirmativamente. Che retruca: - Não falo com traidores.
Então o oficial encerra respondendo: - Você mandou fuzilar meu tio. – pausa – Deve ser difícel comandante, estar aí enfurnado na selva, enquanto Fidel está à essa hora almoçando no hotel El Nacional.

FIM DE SPOILER

Isso encerra tudo. Tudo pelo qual Ernesto Guevara de la Serna lutou esteve morto ainda antes do próprio Che ser assassinado. Não acho que ele fez o fim que justificou os meios, nem foi meramente enganado por um espertalhão cubano, barbudo e fumador de charutos. Che sabia o que fazia. Sabia que era radical. O problema é que acreditava que se podia consolidar uma sociedade pacífica mesmo que ela inicie-se por uma luta armada. Essa é a lenda que muita gente achava verdadeira ao longo do século XX. Seus fins tampouco justificaram os meios. Tudo praticamente inútil. Fidel foi manipulador e um “vendido”, mas ainda assim, foi amigo de Guevara, o que leva a crer que Che tem alguma culpa de se aliar à ele.

Ernesto “Che” Guevara foi cruel. Foi honesto. Foi amoroso. Foi idealizador. Realizador de um caos. Enfim, muitas contradições, típicas de quem vive nos extremos. Acho que nada pelo que ele lutou valia realmente a pena, porque não funcionaria e não funcionou. Entretanto posso dizer que ele tinha um código de ética pelo menos para com seus companheiros. Mandou fuzilar crianças contra-revolucionários, mas elas eram “inimigas”. Exagerado. E era o último a comer entre seus guerrilheiros. Não aguentou trabalhar em um escritório do Partido em Cuba, preferia cortar cana no sol. Não aguentou ficar estagnado em Cuba, com um dirigente que se aliou aos soviéticos ao invés de seguir o caminho da independência. Não quis morrer de velho, quis morrer tentando, mesmo que tentando o errado e o improvável. Teve a morte que mereceu. Teve a morte que desejava. Não resta mais nada à debater, isso é tudo que ele foi e o que restou dele para nosso imaginário.

"Fuzilamentos, sí. Tenemos fuzilados. Fuzilamos y seguiremos fuzilando siempre que necessario."

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