quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Glorioso e mais glamouroso




Filme do Tarantino. ok. Dessa vez, usando um ator em alta no momento(Brad Pitt). Hmmm, ok, isso ele não tinha feito antes(John Travolta, Samuel L. Jacksson, Uma Thurman, David Carridene e outros foram atores descobertos ou completamente apagados quando Tarantino chamou-os ao barco), mas não é demérito nenhum. Inclusive, é ótimo para bilheteria e o bonitinho de Hollywood tem ótimas pra atuações. Talvez a decisão tenha sido um pouco em função do certo fracasso do projeto Grindhouse. Originalmente lançado como dois filme em um, o último filme do Tarantino que constava nesse projeto,À Prova de Morte, junto com seu hermano pobre Robert Rodriguez, com seus Planeta Terror(terrível, aliás), afundou como promessa. Primeiramente, com dois filmes em um, mesmo editados, ele tinha 3hrs de duração. Demais pra quem quer ver filmes divertidos. Diria também que a discrepância entre um segmento e outro possa ter ajudado como falha. Assistir um ótimo filme do Tarantino e ter que aguentar em seguida um trashume tedioso no resto da sessão de cinema não vale um ingresso inteiro. No Brasil, mal se cogitou lançar os dois filmes juntos nesse formato Grindhouse. E pra piorar, escolhem o Planeta Terror pra fazer carreira solo no Brasil primeiro. E pra piorar ainda mais, À Prova de Morte não está disponível aqui nem sequer nas locadores. What the fuck?! Não sei quem foi o brilhante distribuidor, mas não consigo pensar em uma cagada mais fenomenal nessa área nesses últimos anos.

Seguindo, agora é um filme de época. Hmmm, muito interessante. Como manter certos aspectos modernosos-estilosos-tarantinescos nesse contexto? Há alguns erros, mas há também uma mudança de foco estilístico que eu não esperava. Mudança verdadeira e excelente.

Que foco é esse? Bom pra não assustar nenhum fã, o roteiro mantém pilares do Quentin suficientes pra reconhecermos a sua obra. Diálagos, personagens, elementos trash, trilha sonora pesquisada, roteiro em capítulos... Inicialmente o roteiros tem duas histórias muito paralelas entre si, com discrepância de estilos inclusive, de maneira como não existia antes. Isso soa um pouco defeituoso, parecendo que Quentin Tarantino pensou em duas histórias diferentes, com estilos diferentes, e decidiu fusiona-las. No andar da carruagem, as coisas começam a se acertar melhor e fazem o sentido final que deveriam ter. Há uma discrepância, mas isso também confere variedade e um dos aspectos mais elogiáveis do filme, que foi o esforço para se fazer uma das histórias com menos elementos tarantinescos e com um enfoque diferente e surpreendentemente bem feito.

Trilha sonora cool com rock não funciona como funcionaria em filmes que se passam no tempo atual. Ok, Tarantino não dá a mínima pra contextualização histórica precisa. Esse nem é o problema. Só soa estranho. E ainda por cima tem músicas reaproveitadas de outros filmes do Taranta.
Trilha sonora pesquisada de filmes da época ou chansons tipo Edith Piaf, além dos Ennio Morricone de sempre, teriam funcionado melhor. Ainda bem, essas músicas existem no filme, mas poderiam ser majoritárias.

Já as citações à cultura pop foram bem adaptadas ao contexto do filme, diferente da trilha sonora pesquisada. Se não podemos falar de eventos culturais do meio século depois de 1944, fiquemos com os elementos culturais da época. E melhor ainda, as citaçoes foram em grande parte muito bem substituídas pela mais pura metalinguagem. Mesmo quando se falam em filmes antigões que nem o público cinéfilo tem conhecimento, há uma contextualizada e ninguém fica boiando. Metalinguagem aliás que se estende para além dos diálogos. Em grande parte do roteiro se fala e se mostra muito sobre cinema, num local da trama que é propício à essas discussões. Mais um passo em que Tarantino foi além do seu usual e teve resultado positivo.

Já que passamos da parte crítica negativa, vamos somente aos elogios. Puxa, o que dizer. Tarantino é Tarantino. Pode chupar ideias de Deus e do Diabo, mas ele sabe escrever diálogos como ninguém, criar personagens kitsch como ninguém, dirigir atores e cenas de ação trash como ninguém. Agora a melhor parte. Ele evoluiu. Não no sentido, cada vez mais trash-cult e sanguinolento, como alguns podem considerar evolução. Seria mais uma maturidade dramática. Com todos seus baldes de sangue, Kill Bill conseguia emocionar com os embates não só físicos, mas boa parte mentais entre Bill e A Noiva. Aqui justamente aquele aspecto de linhas paralelas no roteiro se torna uma ferramenta útil. Se Tarantino e nós precisamos de tripas e comédia, concentre isso nos Inglorious Basterds propriamente ditos. Se você quer se emocionar não só com ação e tensão, mas personagens com relações emocionais profundas muito bem interpretados, concentre isso nas partes da Soshanna. É impressionante ver como o pouco afeito à dramas Tarantino mostra que sabe sim fazer dramas. Sem esquecer a trilha sonora pesquisada e um pouco de trash, é claro. A evolução é nesse sentido, mostrar que não se pode usar a mesmíssima fórmula pra sempre. Tarantino teve a iluminação de perceber isso à tempo. Mirando futuramente em ganhar um Oscar, quem sabe? Isso verdadeiramente não interessa muito. O que interessa é ver esse autor trabalhando muito bem e mudando sem jogar fora sua origem. Vale um segundo ingresso.

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